Depois de um ano de negociações e cinco viagens à China, o empresário Eike Batista, controlador do grupo EBX, conseguiu fechar um amplo acordo – que foi bem recebido pelo mercado – com a terceira maior siderúrgica chinesa, a Wuhan Iron and Steel Group (Wisco).
O negócio, anunciado ontem, inclui a venda de participação de 21,52% do capital da MMX Mineração e Metálicos por US$ 400 milhões, mais a construção de uma siderúrgica pelos chineses no Porto do Açu (RJ) e um contrato de venda de minério de ferro por 20 anos.
Criamos uma autopista com a China. Importante foi criar ligação com a China vendendo um pedaço de nosso ativo no Brasil, disse Batista em teleconferência.
A MMX deverá arrecadar nessa negociação cerca de US$ 650 milhões, considerando-se o aporte da Wisco e a participação dos acionistas minoritários em uma oferta primária de ações de emissão da empresa. Na operação, os minoritários deverão aportar US$ 250 milhões, segundo estimativa de Roger Downey, presidente-executivo da MMX, que acompanhou Batista na última viagem à China, quando se bateu o martelo na negociação com a Wuhan.
A entrada da Wisco no capital da MMX se dará por meio de aumento de capital da empresa de mineração de Batista na qual os minoritários terão direito de preferência, podendo manter inalterada a participação atual, de 35,4%. Batista e o grupo de executivos que comanda a MMX vão ser diluídos dos 65% de hoje para 42% ou 43%, já que abrirão mão de seus direitos na emissão em favor da Wisco.
Analistas de investimento consideram que os minoritários devem aderir em massa à oferta, uma vez que o preço fixado na emissão, de US$ 3,93 por ação, corresponde, em reais, à quase metade do valor da cotação de ontem do papel da MMX, de R$ 12,36 por ação, com alta de 2,91%. No mês, a ação subiu 6,92% e no ano, 346,21%.
Na oferta serão emitidas 167,8 milhões de ações correspondentes a 55% do capital social da empresa, de 305,1 milhões de ações. Para cada ação detida pelo minoritário, ele terá direito a comprar 0,55 nova ação por US$ 3,93. Se ele tem 100 ações, poderá comprar mais 55.
Os recursos obtidos pela MMX com o investimento da Wisco, segundo comunicado da empresa, serão integralmente direcionados ao desenvolvimento do sistema MMX Sudeste, empresa controlada pela MMX e que detém as minas de Serra Azul e Bom Sucesso, em Minas Gerais.
Se todos os acionistas exercerem seus direitos, a MMX pode incrementar seu caixa em até US$ 660 milhões, avaliam os analistas Rodrigo Ferraz e Pedro Montenegro, em relatório da Brascan Corretora divulgado ontem.
Eles alertam, no entanto, que esse dinheiro não será suficiente para cobrir o US$ 1 bilhão estimado para as expansões de capacidade de produção das minas do sistema Sudeste da MMX. O projeto da empresa é passar da produção atual em Serra Azul de 8,7 milhões de toneladas de minério de ferro por ano para 33,7 milhões de toneladas até 2013, considerando também a produção de Bom Sucesso.
Tanto os analistas da Brascan Corretora quanto Gilberto Cardoso, do Banif, consideram que haverá necessidade de a empresa recorrer a novos financiamentos para cumprir seu cronograma de investimentos e fazer frente aos compromissos financeiros já que a geração de caixa da companhia até o terceiro trimestre não tem sido uma boa fonte de recursos.
De janeiro a setembro, segundo números do balanço da MMX, a empresa tinha dívida líquida de R$ 1,4 bilhão, incluindo compromissos com aquisições de R$ 368 milhões, e dívida de curto prazo de R$ 917,7 milhões a vencer em 12 meses. O caixa era de R$ 60 milhões. Minha visão do negócio é positiva, mas acho que vai faltar dinheiro e eles [a MMX] terão que fazer outro tipo de captação ou alongar a dívida de curto prazo dada a situação do balanço, disse Cardoso.
Downey, da MMX, discorda. A operação [de aumento de capital] vai dar solidez enorme ao balanço. Com a entrada desses US$ 650 milhões vamos chegar ao fim do ano, ou quando esse dinheiro entrar, com dívida líquida positiva. Isso realmente resolve nosso problema com endividamento, nos permite começar a trabalhar na expansão [das minas], inclusive para continuar a renegociação de dívida com muita facilidade, disse.
Nova siderúrgica começa em 2010
O grupo EBX, de Eike Batista, deu mais um passo na negociação com os chineses para construir uma nova siderúrgica no Brasil. O acordo prevê uma parceria entre a EBX e a Wuhan Iron and Steel (Wisco), na qual os chineses serão os controladores do projeto com 70%. O plano prevê a instalação e operação de uma usina de produção de aço com capacidade mínima de 5 milhões de toneladas de produtos por ano no Super Porto do Açu, no norte fluminense.
Otávio Lazcano, presidente da LLX Logística, empresa responsável pela implantação do porto, disse que o grupo EBX e a Wisco vão tomar de imediato todas as medidas necessárias para formar a joint venture e iniciar a construção do empreendimento a partir de 31 de julho de 2010. A chapa grossa será um dos produtos do portfólio da empresa, mas a definição final (da carteira de produtos) depende da conclusão de estudos, disse Lazcano. Por isso, a LLX evitou falar em valores do investimento, avaliado inicialmente em US$ 5 bilhões.
Além da nova usina, os chineses firmaram contrato de compra de minério de ferro das minas da MMX Sudeste por 20 anos no volume mínimo de metade da produção da unidade de Serra Azul. Também existe a possibilidade de aumentar em 50%, no mínimo, o fornecimento de minério ao chineses a partir das minas de Bom Sucesso. O acordo comercial poderá resultar na exportação de pelo menos 16 milhões de toneladas por ano no sistema MMX Sudeste tão logo ele tenha atingido a capacidade de produção total, de 33,7 milhões em 2013.
A China é um mercado (para minério de ferro) nove vezes maior que o japonês. É um mercado com o qual você (produtor) quer estar conectado, disse Eike Batista, controlador do EBX, ao comentar os acordos com a Wisco. A expectativa do empresário é de uma recuperação forte do mercado de minério num curto espaço de tempo. Ele previu que os reajustes nos preços da commodity possam ficar entre 10% e 20% no ano que vem.
A opção da Wisco de entrar no capital da holding MMX sinaliza que os chineses têm interesse em projetos de mineração além das minas do Sudeste. Ela (a Wisco) se interessou por projeto de consolidação que podemos liderar, se interessou pelo projeto do Chile (de minério e logística da MMX), que está direcionado para China, disse Roger Downey, presidente da empresa.
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