Um pacote expressivo de investimentos no país para produção de minério de ferro, que soma quase US$ 12 bilhões, tem pela frente um grande desafio – a barreira logística. Necessitam de ferrovias para transporte do produto e de portos para realizar o embarque. Os investidores são empresas novatas nesse negócio no país e todas não dominam o tripé que é a base de sustentação desse negócio no mundo: mina-ferrovia-porto.
O Valor mapeou sete projetos em andamento em Minas Gerais, Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte com previsão para produzir nos próximos cinco anos 147 milhões de toneladas de minério de ferro, a quase totalidade para exportação. Entre as investidoras estão grupos como ArcelorMittal (líder mundial no aço), Ferrous Resources, Bamin, MMX e Usiminas. Há empresas que alegam que seus projetos correm o risco de não sair do papel se não for encontrada uma solução para o transporte e o embarque do minério; outras aguardam que projetos de ferrovias como a Leste-Oeste e a Nova Transnordestina de fato se concretizem para serem a via de escoamento da produção.
Mineradores de Minas, da região de Serra Azul, no quadrilátero ferrífero, apontam que tanto as ferrovias como os terminais portuários nos Estados do Rio e Espírito Santo, que seriam sua porta de saída, praticamente estão sob domínio da Vale e da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN).
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Mozart Kraemer Litwinsk, presidente da Ferrous Brasil, mineradora criada por fundos estrangeiros de investidores institucionais que desenvolve desde 2007 um projeto de exploração de cinco minas no Estado de Minas Gerais, disse que os acionistas optaram por incluir no plano de negócios a construção de um mineroduto e um porto no sul do Espírito Santo como alternativas para não depender das ferrovias e terminais privados.
Litwinsk, engenheiro de minas com passagem pela diretoria da Vale logo após sua privatização, afirmou que “mineroduto e porto próprio são a melhor saída para as mineradoras que estão se instalando no Brasil, pois o custo de logística hoje, para uma mineradora comum da região de Serra Azul, está acima de US$ 35 a tonelada”. “É mais de um terço acima do que se gasta, US$ 22, para extrair e concentrar o minério”, informa o executivo.
O desembolso total do projeto da Ferrous, com a inclusão de logística própria, subiu para US$ 4,5 bilhões. A idéia é usar recursos próprios para implantar o negócio. Atualmente, dispõe de US$ 500 milhões em caixa e pretende buscar mais recursos ao atrair um sócio, oferecendo de 20% a 30% do capital da Ferrous. Num segundo momento, a intenção é abrir o capital com oferta pública de ações.
No momento, o projeto da Ferrous encontra-se na fase de engenharia básica. A obra do mineroduto prevê 400 km, desde Brumadinho e Congonhas, em Minas, onde está a mina de Viga, até Presidente Kennedy, no Espírito Santo. Nesse local está previsto um porto próprio. No futuro, cogita-se uma usina de pelotização do minério e até uma siderúrgica.
Segundo o executivo, a empresa mantém entendimento com outras mineradoras de Serra Azul para ver se estariam interessadas em compartilhar o mineroduto e o porto, uma vez que todas estão amarradas pela questão logística.
José Francisco Martins Viveiros, diretor da área de mineração da ArcelorMittal no Brasil, não descarta a possibilidade de compartilhar o mineroduto da Ferrous se não houver outra saída para o problema logístico que enfrenta. Mas observou que o transporte do minério por duto só serve para o tipo superfino, o pellet feed, usado para fazer pelota de minério. “O sinter feed (fino) e o granulado só são transportáveis por ferrovia”. A mina da ArcelorMittal foi comprada em agosto de 2008, da London Mining, e fica na mesma região.
“A solução da Ferrous pode ser boa, apesar de só contemplar a produção de pellet feed. Não a descartamos, pois se complementam e não são excludentes”, disse Viveiros, que informa estar buscando uma via independente para escoar seu minério. Este ano, ele prevê produção de 3,5 milhões de toneladas, que terá parte embarcada pelo porto da Vale, em Itaguaí (RJ). A companhia planeja produzir o total de 10 milhões de toneladas em 2014, com investimento de pouco mais de US$ 1 bilhão.
Viveiros, que também preside a Associação dos Mineradores de Serra Azul (Amisa), disse que o projeto está em estudos e vai depender muito da solução logística. Com o governo de Minas, está numa cruzada para que as 12 empresas da Amisa, que inclui a sua, possam embarcar seu minério em um porto público a ser construído em Itaguaí. Ele informa que Jorge Luiz de Mello, presidente da Cia. Docas do Rio de Janeiro, lhe disse que o plano do porto “está andando”.
Mello garantiu que até o fim deste mês sairá a contratação do estudo ambiental para obter a licença prévia do terminal, conforme exigência do Instituto Estadual do Ambiente. “Ele precisa da licença para montar o edital”, explicou Viveiros. A previsão é que ela seja concedida até abril e o edital lançado ainda no primeiro semestre.
Essa solução, garantiu ele, seria a mais barata para as mineradoras sem logística. “Não consigo entender porque este porto ainda não saiu do papel, pois está prometido desde 2005”. Segundo informou, as tarifas de embarque serão bem mais em conta que as cobradas nos portos privados, hoje da ordem de US$ 12,5 a US$ 14,5 a tonelada. “No porto público, o valor não vai superar US$ 5”, assegurou Viveiros.
Para tocar o projeto de expansão até 2014, a ArcelorMittal ainda faz estudos preliminares. “Vamos pensar em várias alternativas: mineroduto próprio, associado a outro, como o da Ferrous, ou a ferrovia MRS – com uso do direito de passagem. Não descartamos a ferrovia, que reduziria substancialmente a tarifa”, afirmou. Para ele, “é um absurdo” não poder usar a ferrovia, que custou “uma fortuna aos cofres públicos”.
No sul da Bahia, quase divisa com Minas, a Bahia Mineração (Bamin) montou a estratégia de seu projeto na plataforma ferroviária para escoar a produção de 18 milhões de toneladas da mina localizada em Caetité. O início de operação, com investimento orçado em US$ 1,8 bilhão, está previsto para o fim de 2012. O negócio inclui operações de mina e um terminal portuário em Ponta da Tulha, 17 km ao norte de Ilhéus. O controle da empresa é dividido, 50% a 50%, entre a Zamin, do indiano Pramod Agarwal, e a ENRC, do Cazaquistão e com ações na Bolsa de Londres.
Inicialmente, segundo executivos da Bamin, temendo não ter como escoar o minério, o plano previa um mineroduto de mais de 500 km até o porto. A empresa desistiu dessa solução quando o governo federal e o baiano incluíram no PAC a construção da ferrovia Leste-Oeste, cujo primeiro trecho está previsto entre o porto e Caetité, nas imediações da mina.
A Valec, estatal responsável pela construção da ferrovia, deve lançar o edital em janeiro ou fevereiro e planeja iniciar as obras em maio de 2010 e terminá-la até agosto de 2012. O trecho Ilhéus-Caetité terá 535 km, de um total de 1.700 km até o encontro com a Norte-Sul, em Tocantins, em 2013.
A Bamin está concluindo o estudo final de viabilidade do projeto para entregá-lo aos acionistas. Eles querem apresentá-lo ao BNDES, Sudene e Banco do Nordeste para obter financiamentos. A preocupação é que a ferrovia seja vista como uma grande dúvida ao projeto, pois sua construção foge ao controle dos acionistas da empresa. “Estamos confiantes que a ferrovia vai sair, pois o presidente Lula é favor, bem como a ministra Dilma [Casa Civil]. Mas fica sempre uma preocupação”, admitem fontes.
A MMX Sudeste, mineradora controlada pela MMX, do grupo EBX, de Eike Batista, e que agora tem participação minoritária da chinesa Wuhan, tem plano de expansão de sua produção atual, de 8 milhões para 33,7 milhões de toneladas até 2013. No entanto, não dispõe de ferrovia para transportar seu minério e ainda não tem porto. Neste mês, a MMX firmou um acordo com a CSN para
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