O trem de alta velocidade (TAV) que ligará Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro a 350 quilômetros por hora, vai tirar cerca de 8 mil carros e mais de 600 ônibus por dia do sistema Anhanguera-Bandeirantes já no primeiro ano de operação entre Campinas e São Paulo.
Esse é o trecho de maior fluxo atual de passageiros de todo o trajeto e será também o que mais irá transferir passageiros para o trem, segundo o estudo de viabilidade do TAV elaborado pelo consórcio Halcrow/Sinergia. Com o trem, diz o estudo, as estradas ficarão mais transitáveis para aqueles que ainda preferirem ir de Campinas a São Paulo de carro ou ônibus.
De Campinas ao Rio de Janeiro 18,4 mil carros e 1,09 mil ônibus deixarão de circular com o trem.
A entrada em operação do TAV vai reduzir a pressão sobre a infraestrutura rodoviária e aeroportuária que já está em fase de esgotamento da capacidade, afirmou o gerente do projeto de implantação do trem de alta velocidade da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Roberto Dias David. Segundo ele, o TAV vai propiciar redução de emissão de poluentes, redução do tempo de deslocamentos e redução de acidentes e de congestionamentos em rodovias e áreas urbanas.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
A redução de carros e ônibus do sistema Anhanguera-Bandeirantes vai gerar R$ 76 milhões ao ano em tempo economizado, segundo o estudo. Ou seja, sem os congestionamentos, quem vai de carro ou ônibus de Campinas, Jundiaí e outras cidades que usam o sistema Anhanguera/Bandeirantes até São Paulo vai chegar mais rápido, consumindo menos combustível e ganhando tempo. Esse trecho é considerado como uma via urbana congestionada.
Dados da AutoBan informam que circulam em todo o sistema Anhanguera-Bandeirantes 650 mil veículos por dia, incluindo as rodovias Anhanguera, Bandeirantes, Dom Gabriel Paulino Bueno Couto e a interligação Adalberto Panzan, num total de 316,7 quilômetros de extensão. Não há informações sobre o volume atual apenas entre Campinas e São Paulo, segundo a assessoria da concessionária.
O levantamento do governo calculou também que haverá significativa redução nos acidentes, com menos mortes e feridos. Haveria uma redução de 9%, segundo a análise da consultoria, que utilizou levantamento feito na Via Dutra em 2008. Extrapolando a redução de 9% para o trecho Campinas/São Paulo, 67 mortes e 724 feridos teriam sido evitados em 2008 se o trem já estivesse circulando.
Atualmente, no Brasil, a segurança nas rodovias é muito precária, com cerca de 40 mil mortes por ano resultantes de acidentes. Contrastando com as viagens por rodovia, acidentes em ferrovia separada de alta velocidade como o TAV são extremamente raros. Assim, o estudo presumiu um índice zero de acidentes.
A consultoria estimou a movimentação da estrada com e sem o trem em 2014, data referência da primeira operação, mas já mudada pelo governo para 2016. As empresas que pretendem disputar a concessão do TAV têm contestado a demanda de passageiros apresentada pela ANTT e isso vem se transformando na principal briga dos consórcios para que o governo adote um mecanismo de compensação se a demanda não se configurar, porque representará menor receita para o trem.
O estudo contratado pelo governo calculou que, sem o trem, 8,3 milhões de passageiros por ano estarão no corredor paulista em carros em 2014. Com uma ocupação média de dois passageiros por carro, significa 11,4 mil carros por dia transitando no trajeto. Outros 6,3 milhões utilizarão ônibus, ou seja, serão 873 ônibus por dia entre Campinas e São Paulo levando em consideração uma ocupação média de 20 passageiros por ônibus.
Com o trem de alta velocidade, a demanda no trajeto será incentivada, de forma que 12,3 milhões por ano utilizarão o trem no trecho, enquanto 2,7 milhões irão em carro e 1,8 milhão em ônibus por ano, o que significa 3.710 carros e 258 ônibus na estrada por dia. Assim, a previsão é de que o TAV vai tirar 7.787 carros e 615 ônibus por dia naquele percurso.
Para o gerente de projeto funcional da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Ayrton Camargo e Silva, o trem de alta velocidade será um importante meio para que a população da região não fique parada nas estradas, na chegada em São Paulo.
Diariamente temos 10 quilômetros, das marginais ao Rodoanel, de trânsito travado, disse. O TAV vai descongestionar as estradas e também dentro de Campinas. Mas isso só irá ocorrer se a tarifa a ser cobrada nas viagens for acessível, disse.
Trânsito em Campinas também será afetado
A entrada em operação do trem de alta velocidade (TAV) vai mexer com o trânsito também dentro da cidade. O benefício será uma redução importante no tráfego da Avenida Prestes Maia, o principal acesso às rodovias Anhanguera e Bandeirantes, e que hoje convive com o trânsito lento e até congestionamento. O problema será o acesso à futura estação, no Centro.
O secretário municipal de Transportes, Gérson Bittencourt, estima que aquela estação será o ponto de embarque de toda região. Teremos muita gente vindo em ônibus ou carro até Campinas para embarcar no trem até São Paulo, afirmou. Se hoje já é complicado o acesso ao Terminal Intermodal, com o trem ficará intransitável se a atual estrutura de acessos for mantida.
Atualmente, 100 mil pessoas por dia chegam naquela área, para acessar o Terminal Rodoviário e o Terminal Metropolitano. Com o TAV, serão mais 50 mil que irão pegar o trem ou no Centro ou no Aeroporto Internacional de Viracopos. A estrutura de trânsito da cidade não vai suportar.
Por isso a Prefeitura deve publicar, ainda nesse mês, edital para contratar um estudo que irá apontar o que Campinas precisará fazer para que os passageiros da região não percam o TAV. O estudo vai custar cerca de R$ 600 mil. A Prefeitura quer que o futuro concessionário do trem de alta velocidade arque com os custos das obras que serão necessárias para garantir acesso às estações.
Na estrada, no entanto, Bittencourt disse que haverá um alívio no trânsito. Ele diz que não fala em descongestionamentos porque mesmo com o trem tirando carros e ônibus da estrada, o crescimento da frota é grande. Mas, certamente teremos um trânsito bem melhor do que hoje no sistema.
Seja o primeiro a comentar