Bunge investirá US$ 400 mi no país em 5 anos

A recente venda das minas de potássio da Bunge no Brasil para a Vale ajudará a financiar planos ambiciosos da empresa de investimentos de aproximadamente US$ 300 milhões anuais no setor de açúcar e etanol, informou ao Valor o CEO da Bunge, Alberto Weisser. Ele informou que, somados os planos para os outros negócios da Bunge no Brasil, os investimentos previstos devem somar cerca de US$ 400 milhões anuais, nos próximos cinco anos.


“Em 2012 estaremos produzindo 30 milhões de toneladas de cana de açúcar”, previu. Essa quantidade é mais que o dobro da atual capacidade da Bunge, após a compra da Moema, a terceira maior produtora de açúcar e álcool do Brasil. A Cosan, a maior produtora, é responsável pela moagem de aproximadamente 60 milhões. Weisser ressalva que, apesar de firmado, o acordo de compra da Moema ainda deve levar entre “dois a três meses” para ser concluído em detalhes.


Em janeiro, a Bunge firmou contrato com a Vale para transporte de etanol de sua atual usina no Tocantins até o porto de Itaqui no Maranhão. Weisser diz acreditar que em breve a demanda dos EUA absorverá a cota de etanol de milho dos produtores locais e haverá importação em grande quantidade. “Estamos no mercado de distribuição e comercialização nos EUA e imagino que, no médio prazo, vamos importar, do Caribe e do Brasil”, afirma. “O problema, no Brasil, em curto prazo é que a demanda local é maior que a oferta”, diz, garantindo que a Bunge trabalhará com o governo para criação de um estoque regulador do álcool.


“É interesse de todo mundo, da indústria e do governo buscar estabilidade de preços”, afirma. Nas previsões do executivo, o açúcar e o álcool devem representar, até o fim do ano, 15% das operações globais da empresa; a maior parte, 50%, permanecerá nas atividades do setor de grãos e oleaginosas, a produção de alimentos (margarinas, maionese, óleo) ocupará 30% e as atividades com fertilizantes serão as menores, 5%. A Bunge comprou recentemente instalações da Petrobras na Argentina, de produção de nitrogênio e, apesar da venda das minas de potássio à Vale, pretende continuar no setor de fertilizantes no Brasil.


“A venda da mina foi movimento bastante lógico, as grandes mineradoras ganharam muito dinheiro com minério de ferro, estão diversificando e dispostos a pagar bom preço pelas minas no setor de fertilizantes”, resume. “Foi uma oportunidade única para nós, que prevíamos entrada de grande produção e um mercado com concorrentes muito fortes.”


No Brasil, como na Argentina, com a compra de distribuidoras locais, a Bunge manteve misturadoras, portos e as marcas Manah, Ouro verde e Serrana. “Ficamos no varejo no Brasil e na Argentina, talvez tenhamos uma ou outra fábrica a mais”, anuncia. Weisser atribui à “desinformação” acusações recorrentes no Congresso contra o “cartel de fertilizantes”, responsável por um dos principais custos da agricultura no Brasil.


Ele diz que o setor já participou de sessões no Congresso e abriu números para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para desfazer as acusações de cartel. “Somos pequenos no mercado mundial, tomadores de preço”, diz. “O mercado de fertilizantes tem cotação internacional e segue tendências de China, Índia, Canadá e Rússia. É diferente da soja, onde o Brasil forma preços e a cotação internacional segue as necessidades do produtor brasileiro.”
Dos US$ 3,8 bilhões obtidos com a venda das minas e participação acionária em mineração de potássio à Vale, uma parte (“pequena, o total não foi decidido”) será reservada ao pagamento de dívidas, para fortalecer o balanço da empresa. O executivo calcula que, após pagamento de impostos, a receita da venda estará em torno de US$ 3,5 bilhões.


Weisser afirma que pretende continuar o processo de modernização das fábricas, portos e moinhos que a empresa tem no Brasil, onde os investimentos previstos só para manutenção e expansão das instalações existentes chega, em reais, a R$ 100 milhões, aproximadamente, por ano. “Construímos um moinho no porto de Suape, estamos renovando o Moinho Fluminense, no Rio: queremos sempre estado da arte, não queremos ficar para trás”, afirma. Ele informa que os investimentos feitos pelo setor em portos e ferrovias eliminaram em grande parte os gargalos de infraestrutura que ameaçaram o escoamento da safra de 2003; lamenta, porém, o custo ainda alto da infraestrutura brasileira, o complexo sistema tributário e o câmbio excessivamente valorizado. “Ainda não é o caso, mas o Brasil está deixando de ser competitivo”, alerta o empresário.

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