Pesquisadores do Bird (Banco Mundial) desaconselham países em desenvolvimento a construir trens-balas. Em um estudo sobre o sistema de transporte em alta velocidade chinês, eles informam que poucos lugares do mundo justificam a implantação deste tipo de trem.
Os argumentos dos pesquisadores Paul Amos, Dick Bullock e Jitrenda Sandhi não falam especificamente sobre um país, mas apontam que trem-bala é caro e dificilmente chega ao número de passageiros previsto.
Eles ironizam as projeções de passageiros dos projetos ferroviários dizendo que elas sempre tiveram o viés do otimismo que agora pode ser chamado de viés do interesse próprio.
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O Bird patrocinou os estudos de viabilidade do trem-bala no Brasil. E os resultados encontrados à época corroboram o que os pesquisadores apontam agora como problemas para o projeto.
O estudo foi feito porque a China inaugura até 2012 a maior rede de TAV (Trem de Alta Velocidade) do mundo: 13.000 km. Sozinha, terá mais linhas do tipo que o resto do mundo junto. A obra de US$ 33 bilhões é tocada pela China Railway Construction, principal chinesa interessada no trem-bala brasileiro.
Segundo os pesquisadores, a China reúne condições ideais para um projeto como esse: alta densidade populacional, população em crescimento vegetativo e de renda e corredores de transporte saturados, além de condições políticas e econômicas, que eles não especificam.
O Projeto Brasileiro
O relatório não chega a recomendar a não construção de trem-bala, mas afirma que há precondições que os países devem atender. Entre as citadas, poucas seriam atendidas no projeto brasileiro.
O estudo aponta que todos os projetos de trem-bala do mundo tiveram forte subsídio governamental, inclusive no Japão e na Europa. Sem isso, dificilmente teriam como operar com lucro suficiente para pagar o investimento.
É o caso do único projeto privado do mundo, em Taiwan. Desenvolvido com tecnologia japonesa, a linha de cerca de 330 km ligando Taipei e Kaohsiung começou a funcionar em 2007. A projeção de passageiros foi 75% menor que o número real e o projeto está deficitário. O governo teve de avalizar um empréstimo de US$ 15 bilhões para salvar a empresa.
Os pesquisadores apontam que, se as precondições que eles informaram não estão contempladas, é muito difícil convencer as pessoas a fazer o trem-bala em vez dos chamados trens expressos, que andam a 160 km/h e têm valores entre 25% e 60% menores do que o custo de um projeto de alta velocidade, que anda a 250 km/h.
Hoje no Brasil, o melhor seria o trem expresso, pelas condições que temos. Mas, entre o trem-bala e nada, eu prefiro que saia o trem-bala, afirma o professor Telmo Porto, da disciplina de engenharia ferroviária da Escola Politécnica da USP.
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