A frase que intitula este texto foi dita por José Luiz Portella, secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, durante uma entrevista sobre monotrilhos à revista EXAME. A reportagem sobre o tema, intitulada A Conta Não Fecha, encontra-se na edição que está nas bancas e mostra as deficiências do monotrilho como alternativa de transporte de massa em outros países. Mas é preciso destacar aqui que a declaração de Portella sobre M’Boi Mirim foi inusitada. Ela simplesmente contraria tudo o que os técnicos da prefeitura de São Paulo – e também do governo do estado – sustentaram até agora em audiências públicas.
M’Boi Mirim é um área na zona sul da capital paulista onde mais de 600 000 pessoas dependem de uma única e estreita estrada para ir e vir do trabalho. Ali os congestionamentos diários de ônibus, vans e carros são tão embaralhados que fazem o trânsito caótico do resto da cidade parecer até agradável. A população local já fez passeatas e queimou pneus para reivindicar que o metrô chegasse até lá. Os moradores não querem o monotrilho por considerá-lo insuficiente para a demanda.
A prefeitura ignorou as manifestações de repúdio ao monotrilho. Em um sinal de que pretende tocar a obra queiram ou não os moradores, reservou 30 milhões de reais no orçamento do próximo ano para bancar o projeto básico de monotrilho em M’Boi Mirim. A administração municipal preferiu não comentar a declaração de Portella. Em resposta a solicitação de entrevista de EXAME, enviou uma nota curta: “A Secretaria Municipal de Transportes informa que busca a melhor alternativa para atender os usuários do serviço de transporte público na região da Estrada do M’Boi Mirim e no Jardim Ângela, na zona sul da cidade. Entre as alternativas, o modal monotrilho é uma das mais interessantes.”
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Portella foi claro e enfático em seus comentários. As palavras textuais, na entrevista gravada, foram: “O cara do M’Boi Mirim não quer monotrilho porque quer metrô – e ele está certo. A demanda é de metrô. Não é para monotrilho. Isso todo mundo sabe. O secretário Marcelo Branco (atual secretário municipal de Transportes) sabe. Se fizer monotrilho lá, você vai precisar de um corredor de ônibus embaixo”.
Maurício Pereira, integrante da ONG Rede Nossa São Paulo, que acompanha a polêmica de perto há meses, ficou sem palavras quando soube da declaração. “O que as pessoas têm na cabeça para insistir numa obra sem sentido e ainda colocar milhões nela?” É, de fato, uma pergunta pertinente, que ficou sem resposta.
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