O ex-diretor financeiro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Lauro Rezende, que se apropriou das ações de uma das empresas do grupo CSN e foi condenado pela Justiça americana, entregou à imprensa uma fita na qual o empresário Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, conversa com um interlocutor sobre pagamentos que teriam sido feitos no exterior.
A conversa telefônica foi apresentada ao júri popular que deu ganho de causa a Steinbruch na disputa pelas ações da International Investment Fund (IIF). Seu conteúdo, porém, não foi examinado pelo júri.
Ao todo, Steinbruch e seu interlocutor discutem quatro operações, com um valor total de US$ 10,5 milhões, mais US$ 3 milhões de uma “operação pessoal”. A fita tem pouco mais de três minutos, em que um interlocutor fazia o detalhamento de pagamentos que seriam “políticos”. Não se sabe ao certo a data das gravações, mas segundo Rezende, elas ocorreram em 2000 e foram legalmente feitas dentro da empresa, que rotineiramente mantém esses registros.
Em uma entrevista coletiva, o diretor jurídico da CSN, Fernando Quintana Merino, questionou ontem a autenticidade da gravação, lembrando que a corte de Nova York concluiu que Rezende mentiu repetidas vezes durante o processo e fabricou documentos.
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Não está totalmente claro a que se referem esses pagamentos. O juiz que comandou o caso, Harold Baer, quis saber se eles eram relacionados a propinas ou contribuições a políticos, segundo transcrições judiciais de um diálogo entre o próprio Baer e o advogado de Rezende, Ira Glauber. Glauber argumentou que a lei brasileira não admite contribuições de campanha fora do país.
Rezende disputava, nos últimos três anos, a propriedade da IIF com Steinbruch, cujo principal patrimônio são US$ 15 milhões em dividendos distribuídos pela companhia ferroviária MRS Logística e ações da empresa avaliadas em cerca de US$ 500 milhões.
Na terça feira, Steinbruch depôs em Nova York e, após ouvir a gravação, confirmou que a voz na fita é sua, segundo transcrição oficial do depoimento obtida pelo Valor.
“A primeira questão que eu tenho é se você reconhece a sua voz como um participante dessa conversa?”, pergunta o juiz Harold Baer. “Sim”, responde Steinbruch. Ontem, porém, Merino afirmou que houve uma confusão na tradução. A tradutora teria dito “yes”, ou sim, em vez de dizer que Steinbruch não tinha certeza. Na transcrição judicial, Steinbruch disse ainda não saber a que se referiam as transcrições nem as suas circunstâncias.
Não está completamente claro nas gravações a que se refere pagamentos citados como sendo “sobre a CVRD”. No começo da conversa, o interlocutor de Steinbruch relata um pagamento feito no exterior ao próprio Steinbruch, mas ele insiste que quer informações sobre pagamentos políticos.
Ontem, na coletiva, Merino disse que o juiz não aceitou a gravação como prova a ser apresentada para os jurados porque Rezende tinha uma reputação de fabricar documentos. O juri concluiu que Rezende desviou dinheiro e roubou documentos da CSN, disse Merino, e tenta destruir a reputação de Steinbruch. As transcrições da audiência, porém, mostram que o juiz Baer não aceitou a gravação porque ela foi apresentada na última hora, sem oportunidade para a CSN se defender, e porque o tema não tinha nenhuma relação com o objeto da disputa judicial. Não foi feita, por exemplo, perícia para averiguar se houve montagens. “Tenho outras semelhantes a essa para divulgar”, disse Rezende anteontem a jornalistas, na saída do júri.
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