Valec divide licitação de trilhos da Norte-Sul

A Valec está pronta para fazer aquela que deverá ser a sua maior licitação neste ano. Por meio de uma concorrência internacional, a estatal das ferrovias vai adquirir 90 mil toneladas de trilhos. Os 680 quilômetros de pares de barras de aço serão usados para concluir o trecho da Ferrovia Norte-Sul que liga a cidade de Ouro Verde, em Goiás, até Estrela d’Oeste, no interior de São Paulo.


A estatal vai testar um modelo inédito de compra. A licitação, segundo o presidente da Valec, José Eduardo Castello, foi dividida em duas partes. A primeira vai tratar exclusivamente da aquisição dos trilhos e de sua entrega até um porto brasileiro, a ser definido. Em março, a Valec lançará uma segunda licitação, desta vez para contratar o operador logístico que irá transportar as 90 mil toneladas de trilhos até os estaleiros de solda da Ferrovia Norte-Sul, em Goiás.


Como o Brasil não tem fábricas de trilhos, a estatal despachou avisos a mais de 20 embaixadas para divulgar a concorrência. Os principais interessados vêm da Áustria, China, Estados Unidos, Índia, Japão e Polônia. Ao dividir a licitação, temos boa chance de uma empresa nacional assumir a logística desse material, diz Castello.


Essa é segunda vez que a Valec tenta comprar trilhos para a Norte-Sul. O primeiro edital, lançado há um ano, foi cancelado em agosto, depois de o Tribunal de Contas da União encontrar uma série de problemas na concorrência, como algumas regras que restringiam a competitividade.


Diferente da concorrência anterior, o novo edital elimina a figura do trading, um intermediário que acabava aumentando o preço do material. Desta vez, a estatal vai fechar contrato direto com a siderúrgica internacional.


As mudanças também incluem aspectos técnicos que podem ajudar a reduzir o custo dos trilhos. Um exemplo claro é o tamanho dos trilhos. Castelo afirma que a Valec sempre comprou barras curtas de até 12 metros. Era assim porque a empresa nunca tinha negociado o transporte dos trilhos pelo meio ferroviário. Isso sempre foi feito pelas rodovias, o que me parece uma política míope, diz.


Os novos trilhos terão 18 ou 24 metros de comprimento. Assim, será reduzido pela metade a quantidade de soldas, por exemplo. Pode parecer só um detalhe, mas cada solda custa R$ 500. Isso significa que, em um quilômetro de trilhos, serão economizados nada menos que R$ 40 mil. Se pensarmos em todos os 680 quilômetros, são mais de R$ 27 milhões em economia, comenta Castello.


O plano da Valec é que, ao serem deixados no porto, os trilhos sejam transportados por ferrovias que já existem. Para que isso seja possível, a estatal está negociando com representantes das empresas ALL e da Vale. A primeira opera a ferrovia Malha Paulista, que parte do porto de Santos e chega até Estrela D’Oeste. Já a Vale oferece a opção de sair de Santos e subir até Anápolis, em Goiás, ou ainda por meio do Porto de Itaqui, no Maranhão. Dali, o material poderia descer pela estrada de ferro Carajás e chegar ao trecho da Ferrovia Norte-Sul que já é operado pela Vale.


Se quiserem, a ALL e a Vale poderão participar da licitação. De qualquer forma, o que queremos é garantir ao operador logístico que vencer a licitação o direito de optar por essas vias de transporte ferroviário, diz Castello.


Se tomado como referência o preço da tonelada de trilho fechado na licitação do ano passado, que foi cancelada, o contrato atual pode chegar a R$ 270 milhões, mas a Valec aposta numa redução de pelo menos 30% sobre esse valor, dadas as novas condições embutidas no edital.


A previsão é de que, no segundo semestre, uma nova licitação vá para a rua, desta vez para comprar 500 quilômetros de trilhos para tocar a primeira etapa de obras da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol), entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia. O projeto original previa que esse material fosse adquirido em conjunto com os trilhos da Norte-Sul, mas a Valec decidiu seguir a orientação dada pelo TCU. Vamos comprar as barras para aquilo que realmente está em implantação. A Fiol ainda passa por uma fase de preparo. A recomendação é que não tenhamos trilhos em estoque, o que significaria custo extra.


A expectativa é que, a cada seis meses, a Valec faça uma licitação para aquisição de trilhos. Vamos fracionar as licitações para que outras empresas possam participar da concorrência.

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