“O jogo está apenas começando.” A frase dita assim solta poderia soar pedante, mas refletia naquele momento, mais precisamente no dia 1º de fevereiro de 2010, uma nova fase para o empresário Rubens Ometto Silveira Mello. Ele tinha assinado um dia antes, em Londres, um dos principais acordos do mundo dos negócios, a joint venture entre a Cosan com a petroleira Royal Dutch Shell para a criação da Raízen, tornando-se uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil.
Até aquele momento, a Cosan era conhecida apenas como a maior companhia global de açúcar e álcool, o que não é pouco. É verdade que dois anos antes, em abril de 2008, o grupo tinha decidido sair de sua zona de conforto no setor sucroalcooleiro para se aventurar em um novo negócio: ser dono da Esso no Brasil. Parecia um passo fora da trilha, mas a Cosan já estava começando a mudar sua trajetória. “Estavam concorrendo com a Cosan, nesse negócio, a Petrobras e o grupo Ultra [com a Ipiranga]. Foi muito bom para nós [a aquisição] porque todo mundo achava que a Cosan não tinha bala na agulha”, gaba-se Binho, como é conhecido o fundador da Cosan, de 62 anos.
Rubens diz que uma coisa (a compra da Esso) não levou a outra (parceria com a Shell). Embora ele garanta que em sua futura biografia – que um dia pretende escrever – ele contará que tudo foi de caso pensado.
Mas de caso pensado mesmo foi a proposta para entrar no bloco de controle da ALL. “Eu sempre gostei da ALL. Acho que vai ser um bom negócio para o país”, diz. O empresário está preparando a Cosan para ser uma gigante de infraestrutura e energia. Por trás desse negócio, Rubens vê grandes oportunidades de investimentos na área de logística em todo o país. Ele já é dono da Rumo Logística.
O passo ambicioso do empresário no mundo dos negócios reflete sua própria trajetória de vida. De tradicional família de imigrantes italianos que chegou ao Brasil no fim século 19 e fez fortuna plantando cana-de-açúcar em Piracicaba (SP), Ometto, que, aliás, não gosta de ser chamado de Rubens Ometto – ele prefere ser citado pelo nome completo, Rubens Ometto Silveira Mello – teve uma carreira profissional meteórica e bem-sucedida fora do setor da cana. Formado engenheiro pela Escola Politécnica de São Paulo, aos 24 anos era diretor-financeiro do grupo Votorantim. Se quisesse, teria seguido carreira na TAM, como alto executivo. Sua família era principal sócia da companhia aérea e ele foi nomeado o primeiro presidente do conselho do grupo. “O nosso sócio Rolim Amaro era quem entendia do negócio.”
Largou a promissora carreira no mundo corporativo para gerir os negócios da família no início dos anos 80. Mas, antes de transformar a Cosan na potência de hoje, teve desentendimentos familiares. “O negócio só começou a crescer quando resolvi os problemas societários [e familiares].” Por parte de mãe, o ramo Ometto controlava as usinas Costa Pinto, Santa Barbara, Da Barra e a fazenda Bodoquena. Para evitar atritos, que já ocorriam, Rubens firmou um acordo com seu tio, Orlando Ometto, no qual ele e seus três irmãos ficaram com a Costa Pinto e a Santa Bárbara. Orlando e seus herdeiros ficaram com a usina Da Barra e a fazenda.
Quase na mesma época, tornou-se sócio das usinas Bom Jesus e Santa Helena, além de participação minoritária na São Francisco e negócios adquiridos com a herança deixada por seu pai. Como as brigas familiares foram inevitáveis, foi as poucos comprando a participação de seus irmãos, tios e primos. “O negócio só decolou quando acabaram as disputas.”
Com Rubens à frente, a Cosan tornou-se uma das maiores consolidadoras de usinas do país e partiu para diversificação dos seus negócios, a partir dos anos 2000, quando boa parte dos tradicionais empresários do setor começou a quebrar. “Não somos mais um grupo setorizado. Mudamos de propósito. Foi planejado. “Eu tenho uma equipe muito boa.”
O passo mais recente da diversificação foi dado em fevereiro, quando fez polpuda proposta de R$ 896 milhões para entrar no bloco de controle da ALL, concessionária de ferrovias e de operações logísticas no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. O negócio envolve a ações de dois grandes acionistas Wilson Ferro de Lara e Riccardo Arduini. A transação aguarda ainda a aprovação dos demais sócios do bloco de controle da ALL. Nem a situação financeira da ferrovia, alavancada, o intimida. “O importante é ver como a empresa vai ficar. Temos planos arrojados para ela.” A ALL é considerada a “espinha dorsal do agronegócio”.
Para comportar o novo tamanho do grupo, a Cosan se mudou para um imponente prédio em uma das regiões mais caras de São Paulo, a esquina das avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, a poucos metros de sua antiga sede. Se depender do apetite do empresário, a Cosan logo passará a ocupar um edifício inteiro. “Também quero me fortalecer em energia. Estamos montando planos estratégicos muito interessantes nessa área.”
Com estilo agressivo de fazer negócios, ele é um empresário de posições firmes. “Essa postura não pode ser confundida com arrogância. Binho sempre foi muito transparente, mas o lado político dele não é o mais forte”, diz um antigo concorrente. Em Brasília, seu trânsito com o governo é bom. O Valor apurou que a proposta do grupo pela fatia da ALL foi muito bem recebida. O empresário tenta minimizar o mimo. “Antigamente, o respeito que eles [governo] tinham por mim era diferente. Era menor, porque éramos menores.”
“Eu vim do setor sucroalcooleiro, ‘Casa Grande e Senzala’, mas querendo mudar para melhor. Nós [Cosan] somos um pouco revolucionários, rebeldes, no bom sentido”, afirma. “É muito difícil dizer onde a Cosan quer chegar… Você vai passo a passo. A Cosan é uma usina de ideias, de trabalho. As coisas vão aparecendo. Quando compramos a Esso, não queríamos a divisão de lubrificantes. Mas a ExxonMobil exigiu que fosse todo o pacote. A área de lubrificantes vai muito bem. Se eu fosse vendê-la hoje, pagaria a Esso inteira [a Esso foi adquirida por quase US$ 1 bilhão, incluindo dívidas]. Somos vice-líderes no país”, diz.
Desde que decidiu ir para a bolsa, em 2005, a Cosan e, sobretudo Rubens Ometto, tornaram-se vidraça. Ele se ressente. “O mercado sempre me criticou, mas depois me dá razão. Eles [mercado] têm que nos dar credibilidade, para mim e para Cosan, porque estamos no caminho certo. Sobre o negócio de 10 para 1, o Google é 10 para 1, o Facebook vai ser 10 para 1. Eles querem que eu faça um negócio e perca o comando?”, argumenta.
Dois anos após abrir o capital, em 2007, a Cosan fez uma reestruturação societária: criou a holding Cosan Limited, com sede nas Bermudas e ações listadas em Nova York. Nessa operação, ele permaneceu como controlador, pois as leis locais permitiram que as ações de controle tivessem poder de voto diferenciado – nas Bermudas, cada ação sua valeria por dez das comuns. O mercado não gostou, embora não tenha nada de ilegal na operação, diz uma fonte de um banco.
“Entendemos que todas as aquisições feitas pela Cosan têm um objetivo estratégico”, afirma a mesma fonte. A compra da Esso é o melhor exemplo de todos. “Em um primeiro momento, as pessoas tentaram entender o que era a operação. Depois, viram que faziam todo o sentido para a Cosan. O mesmo aconteceu com Shell e agora com a ALL”, diz. “O mercado gosta de empresa de dono. O empresário criou um colosso do açúcar e álcool e partiu para distribuição de combustíveis”, diz outra fonte.
Com a expansão de seus negócios, Ometto se tornou referência, não só para os usineiros. A empresa saltou de R$ 700 milhões no faturamento, no início dos anos 2000, para quase R$ 60 bilhões – listada entre os quatro maiores grupos privados do país. Incluído na lista de bilionário da Forbes, ele tem uma fortuna de US$ 2,7 bilhões.
A diversificação trouxe novos horizontes. “É muito bom ter como concorrentes empresas
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