Editorial: Trilhos e corredores

A expansão do bilhete único e a melhoria da rede de transporte sobre trilhos em São Paulo traduziram-se, nos últimos cinco anos, em significativo aumento da utilização do metrô e dos trens metropolitanos – em detrimento da procura por linhas de ônibus.


O fenômeno, previsível, reflete a demanda reprimida por transporte público eficiente na cidade, que paga o preço do privilégio concedido durante décadas ao automóvel.


Capital nacional das obras viárias, São Paulo tornou-se símbolo de tráfego congestionado e transporte coletivo de má qualidade, fórmula que deu no pior dos mundos.


Nos últimos anos, felizmente, verificaram-se progressos na melhoria do transporte. Novas linhas de metrô foram inauguradas, elevou-se a qualidade dos serviços da CPTM (em que pesem as constantes falhas operacionais) e criou-se a possibilidade de, com a tarifa do bilhete único, realizar mais de uma viagem em meios diferentes, no período de duas horas.


O resultado é que desde 2006 o número anual de passageiros transportados subiu 63% na CPTM, 44% no metrô e só 13,3% nos ônibus (10,5%, se consideradas apenas as linhas municipais).


Numa cidade de grandes dimensões e ruas travadas, como é a capital paulista, constata-se o abandono do trajeto em ônibus sempre que for possível trocá-lo -integral ou parcialmente- por trem ou metrô, mais rápidos e previsíveis.


Para que o ônibus possa cumprir seu papel com eficiência, é preciso construir corredores com plataformas maiores, semáforos programados e pistas de ultrapassagem, que permitam o desenvolvimento de velocidade adequada. Essas vias deveriam servir como troncos para trajetos mais longos em áreas que não são servidas por metrô.


Sinal de descaso, o prefeito Gilberto Kassab prometeu entregar 66 km de corredores na atual gestão, mas não concluirá nenhum.


Além de mais corredores, é preciso aperfeiçoar as conexões mais curtas de ônibus, que, nos bairros, ligam o usuário ao trem ou ao metrô. Tais ligações precisam ser mais bem planejadas, de modo a evitar a sobrecarga de determinados acessos ao transporte sobre trilhos. Em vez de concentrar as paradas de ônibus num único ou em poucos terminais de trem ou metrô, é preferível distribuir os passageiros por diversas estações.


O trânsito é um sistema que depende de uma série de fatores para ganhar fluidez. Os dados sobre o aumento da demanda por transporte em São Paulo atestam não apenas a óbvia necessidade de expandir o sistema, mas também de um planejamento mais equilibrado e integrador.

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