*Telmo Giolito Porto
O noticiário recente sobre falhas no sistema dos trens urbanos de São Paulo traz uma questão “que não quer calar”: O número de falhas aumentou em relação à média histórica? A resposta é não, e pode ser comprovada pelos relatórios anuais da CPTM. Em 2003, ano de criação da Companhia, o MKBF (quilometragem média entre falhas dos trens) foi de 2.161 quilômetros. Em 2011, de 3.716 quilômetros.
Então, por que parece ter aumentado? Porque, no mesmo período, a quilometragem anual da frota passou de 103,6 milhões de quilômetros para 181,3 milhões. O número médio de falhas por quilômetro diminuiu, mas o número absoluto de ocorrências aumentou, porque a circulação total cresceu. Em outras palavras: houve incremento de 75% na quilometragem e redução de 72% na média de eventos, o que significa que o número absoluto de eventos aumentou.
Ainda seguindo essa linha de raciocínio, é necessário chamar a atenção dos caros leitores para outro fato. Se considerarmos a quantidade de viagens realizadas pela CPTM, o número de falhas é relativamente baixo. Em 2011, por exemplo, foram realizadas 810 mil viagens, com 0,005% de ocorrências (42), que resultaram em paralisações parciais da operação.
É preciso reconhecer o esforço que permitiu melhorar a média de ocorrências, numa malha caracterizada pela diversidade tecnológica e por equipamentos com idades variadas. Na CPTM, a realidade é exatamente esta: a Companhia opera 12 diferentes séries de trens.
Quem conhece de perto o dia a dia da CPTM sabe que as falhas na circulação de trens não são provocadas apenas por problemas técnicos. Outros fatores, como a presença de usuários na via, alagamentos, descargas atmosféricas e interrupção de energia, também prejudicam o funcionamento do sistema. O crescimento do uso de celulares também exerce sua parcela de culpa. Isso porque a rapidez da informação (SMS, foto, redes sociais) acelera e amplia a repercussão das falhas, criando a “sensação” de aumento do número de ocorrências.
Em paralelo, é preciso lembrar que parte das falhas decorre justamente do reflexo de obras de modernização em sistemas em operação. O fato é que, seja pela necessidade de projetar, construir, implantar e testar, seja pelos percalços nas licitações públicas, na ferrovia não existe melhoria rápida. Não existem soluções imediatas.
Muito importante, contudo, é lembrar que a tecnologia ferroviária está baseada no conceito de falha-segura. Isto significa que uma ocorrência resulta em parada dos trens, em desconforto para os passageiros, mas não cria situação insegura.
*Telmo Giolito Porto, Prof.Dr. pela Escola Politécnica da USP, onde leciona.
Seja o primeiro a comentar