No Estado de Rondônia, no percurso entre Guajará-Mirim e a capital Porto Velho, a ferrovia Madeira-Mamoré emprestou à BR 364 pontes que hoje resistem ao trânsito de carros e caminhões. Próximo ao rio Jaci-Paraná, avistam-se estoques de madeira extraída da floresta para o enchimento das represas que vão gerar energia. De lado a lado, as pastagens indicam o modelo de desenvolvimento da região.
Mais adiante na estrada, junto à ponte sobre o rio Araras, antigas instalações de garimpos abandonadas são resquícios da exploração de ouro que marcou a região até a década de 1990, ao custo do assoreamento e da poluição – um problema que está ameaçando voltar.
Dragas de garimpeiros já frequentam os rios para aproveitar o ouro que restou, contido nos sedimentos que agora estão sendo revolvidos após alterações no fluxo das águas, causadas pelas barragens das hidrelétricas.
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Com a chegada de trabalhadores para as novas usinas e o aumento do capital circulante, Porto Velho vive o “boom” do mercado imobiliário e de obras públicas – algumas paralisadas por irregularidades nas licitações. Uma ponte de R$ 209 milhões, uma obra que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), está sendo construída para levar o crescimento econômico à outra margem do rio Madeira e fazer a ligação com a BR 319, que cruza a Amazônia até Manaus.
Restaurantes e hotéis de bom nível indicam uma mudança de perfil na capital. Lá funcionava a estação principal da Madeira-Mamoré. Os antigos galpões, oficinas e locomotivas começaram a ser restaurados com recursos de R$ 38 milhões, relativos à compensação pelos impactos da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio. O investimento inclui a revitalização de 7 km de trilhos para viagens turísticas.
“Só iniciaremos a obra depois que a prefeitura realocar a população de baixa renda que mora em situação de risco ao lado da ferrovia”, afirma José Carlos de Sá, coordenador de relações institucionais da empresa Santo Antônio Energia.
Apenas uma parte dos moradores foi transferida para conjuntos habitacionais e a situação de quem lá permanece é de extrema pobreza. “Não sabemos o que farão com a gente para o trem passar”, diz Gracineia Barbosa, moradora que tem a porta da casa colada ao trilho, na Vila Candelária. No bairro vive Conroy Theophilus Chochness, 78 anos, filho de um carpinteiro que imigrou de Granada, no Caribe, para trabalhar na construção da Madeira-Mamoré.
“Ela jamais poderia ter sido desativada pelo governo brasileiro, pois foi construída para a Bolívia em troca do Acre”, lamenta Conroy, ex-motorista da litorina – o vagão a diesel que transportava passageiros na ferrovia.
Teme-se pela falta de condições financeiras da Prefeitura para manter a estrutura dos trilhos e estações funcionando, assim como aconteceu com a ciclovia, que foi construída com recursos da empresa de energia e agora está tomada pelo mato.
“O plano é criar um fundo municipal, somando 1% da arrecadação, turbinada pela nova receita a ser gerada quando as hidrelétricas entrarem em operação”, informa Aguinaldo Nepomuceno, secretário de Turismo.
Hoje o orçamento do município para o setor é de apenas 0,001% da arrecadação. No percurso dos trilhos abandonados da ferrovia Madeira-Mamoré, um cemitério de locomotivas em ruínas, cobertas pela floresta, atrai visitantes.
Nas proximidades da ferrovia, está prevista a construção de um complexo turístico com vista para a barragem da usina de Santo Antônio. Atualmente, o local está sendo alvo de escavações arqueológicas que buscam resgatar o povoamento que surgiu na região a partir do ouro quer era transportado nos tempos da ferrovia Madeira-Mamoré.
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