A Eldorado Celulose e Papel, controlada pela J&F, holding do grupo JBS, inaugura amanhã, em Mato Grosso do Sul, sua primeira fábrica – atualmente a maior linha única de produção de celulose do mundo -, e terá pela frente um cenário desafiador. Embora a expectativa seja a de sustentação de preços nos próximos meses, a entrada em operação de pelo menos mais quatro unidades fabris, todas na América do Sul, entre 2013 e 2015, vai exercer pressão sobre as cotações da matéria-prima.
Ao todo, pelo menos 7,3 milhões de toneladas por ano de celulose serão adicionadas nesse intervalo. O mercado cresce à média anual de 1 milhão de toneladas. A própria indústria admite que o próximos três anos serão incertos e dividiu-se entre companhias que apostam em investimentos em expansão e as que defendem na consolidação. Diante das incertezas, Fibria e Suzano Papel e Celulose – que vai iniciar as operações de uma nova linha no Maranhão em 2013 – colocaram projetos na geladeira e tomarão uma decisão sobre levá-los adiante em 2014.
Confiante, a Eldorado planeja mais duas fábricas, incluidas no projeto original, com capacidade de 1,5 milhão de toneladas cada, entre 2017 e 2020. Com isso, pretende atingir 5 milhões de toneladas anuais, volume que hoje a levaria à segunda colocação no ranking mundial de produtores de celulose de eucalipto, atrás da Fibria. De acordo com o presidente José Carlos Grubisich, a empresa entra em operação no momento certo: antes dos demais projetos. “O ‘timing’ foi adequado”, diz. “Faríamos tudo de novo, do mesmo jeito.”
Segundo o executivo, a base florestal necessária ao abastecimento da segunda linha começará a ser formada em 2013. Ao longo do ano, a intenção é plantar 50 mil hectares de eucalipto, em parte com vistas ao projeto de expansão. Para a primeira linha, garante, toda a necessidade de madeira foi equacionada e não haverá pressão de custos proveniente da compra de insumo de terceiros, como vem sendo questionado por analistas.
Neste momento, a Eldorado conta com 110 mil hectares plantados na região de Três Lagoas, que sedia o projeto. Segundo Grubisich, há disponibilidade de terras para o plano de expansão e, embora os preços do hectare tenham subido, ainda estão atrativos. “Há muitas áreas de pastagem que podem ser convertidas.”
No total, a primeira linha recebeu R$ 6,2 bilhões, 10% abaixo do estimado originalmente. Na área industrial, conta o executivo, as economias atingiram R$ 400 milhões, sobretudo em razão do momento em que foram comprados os equipamentos – com a crise de 2008 e a escassez de projetos industriais, os preços de máquinas ficaram mais competitivos.
Em termos de tecnologia, a linha de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano corresponde ao que há que mais moderno na indústria. Mas os novos projetos partem dos mesmos números e já preveem a possibilidade de adição de 200 mil toneladas anuais com pequenos ajustes, o que elevará o tamanho dos empreendimentos a 1,7 milhão de toneladas anuais. Em logística, os aportes da Eldorado somaram R$ 800 milhões, aplicados em dois terminais rodo-ferroviários e hidro-ferroviários, locomotivas e vagões e um terminal de embarque em Santos.
A celulose será escoada por hidrovia e ferrovia. As duas maiores concessionárias do país, ALL e MRS Logística, têm contrato com a Eldorado e cada uma transportará metade da produção até o Porto de Santos. Desde o início das operações, no mês passado, clientes nacionais já receberam a fibra da Eldorado. Ainda em dezembro, de acordo com o presidente, o primeiro navio sairá rumo à China.
Com capital social de R$ 1,79 bilhão, dividido em 1,53 bilhão de ações ordinárias, a Eldorado tem como principal acionista a J&F, holding da família Batista, que alcançou participação direta e indireta superior a 80% após um acerto com o empresário Mário Celso Lopes, que detinha 25% da empresa. Hoje, os fundos de pensão Funcef e Petros completam o quadro de acionistas.
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