O governador Geraldo Alckmin (PSDB) justificou como “vandalismo ou sabotagem” uma pane de cinco horas ocorrida na manhã desta sexta-feira na Linha 9-Esmeralda, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que cruza a Marginal do Pinheiros. Um trem que seguia em direção a Osasco se enroscou na rede elétrica aérea e precisou ser rebocado, novamente superlotando as estações.
A pane começou às 4h40 e só terminou às 9h30. Quase meio milhão de pessoas usam a linha todos os dias. Na versão do governador, alguém conseguiu arremessar, da Ponte do Morumbi, um cabo de vassoura em direção aos trilhos. Quando o trem passou, o pantógrafo – espécie de “garfo” que conecta o trem à rede – se enroscou nos fios, causando a pane.
Alckmin exibiu fotos dos trilhos, com os cabos de vassoura no chão, durante evento na manhã de sexta-feira na zona sul. “Vejam aqui: madeira, cabo de vassoura, tudo em cima da linha. Foi destruído o sistema. É óbvio que o trem, por segurança, para. Isso não é geração espontânea: ou é vandalismo ou sabotagem”, disse. “Infelizmente, isso não foi ocasionado por falha nem do trem, nem do sistema, nem da rede elétrica.”
As declarações foram criticadas por representantes de funcionários da CPTM. “Foram 156 panes na CPTM no ano passado, uma a cada dois dias. Já fizeram acusações de sabotagem antes, mas nunca comprovaram nada. Se desta vez foi sabotagem, no mínimo mostra a fragilidade da rede”, diz Everson Craveiro, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Sorocabana.
Na tarde desta sexta-feira, um blog de um funcionário da companhia publicou um relatório interno da CPTM sobre a pane. O texto diz que o pantógrafo se enroscou na fiação – uma falha que já aconteceu em outras situações – e não cita os cabos de vassoura.
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A CPTM diz, em nota, que o relatório apenas descreve a ocorrência, “sem a necessidade de constar a conclusão dos técnicos sobre o fato”. A nota diz que o áudio entre o maquinista do trem acidentado e a central de controle, na hora do acidente, “aponta a existência de um objeto na rede aérea que se chocou com trem”. Tanto o trem quanto a rede aérea naquele ponto são novos, ainda segundo a nota.
Um inquérito foi aberto no Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC). Foram recolhidos dois pedaços de cabo de vassoura, amarrados a um pedaço de fio marrom. No local, não há câmeras de vigilância para ajudar a investigação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Trajeto de 20 minutos demorou 2 horas e meia
A falha na Linha 9-Esmeralda afetou milhares de pessoas que disputavam espaço dentro dos vagões e nas estações. No trem em que estava o analista de comunicação Gustavo Iwanaga, de 20 anos, uma mulher desmaiou com o calor. “Quebraram a janela da saída de emergência e chamaram os seguranças para tirá-la”, disse Iwanaga. “Lotado é pouco para a situação.”
O jovem, que mora no Grajaú e trabalha no Morumbi, ambos bairros da zona sul, leva cerca de 20 minutos para fazer esse percurso todos os dias. Ontem, o trajeto demorou duas horas e meia. “Na catraca havia uma folha de papel que avisava sobre uma pane elétrica e um anúncio ra feito pelo sistema de som. Eu já estava lá dentro e não fazia ideia que ia demorar tanto.”
Iwanaga ficou 40 minutos só esperando o trem, na Estação Grajaú. Durante a viagem, as composições ficavam paradas mais de 15 minutos com as portas fechadas em cada estação.
Atrasos por causa da Linha 9-Esmeralda da CPTM já são comuns na rotina de Iwanaga. Ele conta que o chefe até se acostumou. Os dois entraram em acordo: nos dias em que as falhas dos trens atrasam a chegada ao escritório, ele fica até mais tarde para compensar.
O web desenvolvedor Felippe Linhares Serralvo, de 27 anos, demorou 40 minutos para completar um trajeto que geralmente faz em 10 – duas estações entre Cidade Jardim e Pinheiros. “Estava lotadíssimo. Como só ia andar duas estações, entrei e fiquei na porta.”
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