As multinacionais que operam na China vêm estabelecendo fábricas no interior do país em busca de mão de obra mais barata. Mas isso tem uma desvantagem: essas fábricas podem ficar a mais de mil quilômetros da costa.
Para as companhias que exportam para a Europa – ainda um dos maiores mercados para os produtos chineses – o transporte por ar de Chongqin ou outras cidades do interior é caro demais. O transporte de produtos em caminhões ou trens para os portos de Xangai ou Yantian, em Shenzhen, e depois em navios para a Europa ocidental pode levar 40 dias.
Para a Hewlett-Packard (HP), que produz notebooks em Chongqin, há uma alternativa: uma rede internacional de trens de carga que liga a China à Europa. Desde 2011, a HP já transportou 4 milhões de notebooks pela rota ferroviária de 11.179 km, inaugurada no ano passado pelas autoridades ferroviárias de Chongqin e do governo central chinês.
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Ela começa em Chongqin e atravessa Cazaquistão, Rússia, Bielorrúsia e Polônia, antes de chegar a Duisburg, na Alemanha. Uma linha separada sai do norte da China e vai até a Ferrovia Transiberiana, que percorre 9.288 km de Vladivostock a Moscou.
Com planos de transportar também suas impressoras a jato de tinta via trem, a HP diz que intensificará o uso da ferrovia da média de um trem por semana para 1,5 em 2013. Fomos pioneiros na ida para o oeste da China e somos pioneiros no desenvolvimento dessa rota, diz Tony Prophet, vice-presidente sênior de operações para sistemas de impressão e pessoais da HP.
O embarque de um contêiner em um trem custa cerca de US$ 10 mil, um terço do preço do transporte aéreo, diz Prophet. Embora o custo ferroviário seja duas vezes maior que o do transporte marítimo, a carga demora apenas 21 dias de Chongqinq até a Europa ocidental. No entanto, a pegada de carbono deixada pelo transporte ferroviário representa a trigésima parte da do transporte aéreo.
Companhias de produtos eletrônicos como a Foxconn e a Acer, ambas com fábricas em Chongqin, também estão embarcando produtos para a Europa por trem, segundo a companhia de transporte internacional Far East Land Bridge, com sede em Viena. Henry Wang, porta-voz da Acer confirmou que a companhia está usando a ferrovia; a Foxconn não quis comentar.
BMW, Audi e Volkswagen estão usando a ligação ferroviária para transportar autopeças produzidas na Alemanha para suas unidades de montagem na China. Cada corrida vazia custa muito dinheiro, portanto é preciso um equilíbrio entre o Oriente e o Ocidente, diz Thomas Kargl, diretor-presidente da Land Bridge, acrescentando que sua empresa está administrando trens para todas essas companhias. Somente a BMW envia de três a sete trens por semana de Leipzig para a China, transportando autopeças para sua unidade de montagem em Shenyang.
Outros setores inclinados a adotar o transporte ferroviário incluem o siderúrgico, o de sucata, plásticos e produtos químicos, segundo Kargl. A DHL e a DB Schenker anunciaram no ano passado o lançamento de serviços mais frequentes. A DHL passou de um serviço de transporte noturno para um concorrente global em logística, incluindo o transporte ferroviário; ela é controlada pela Deutsche Post. A DB Schenker outra empresa de logística, é controlada pela Deutsche Bahn, uma companhia ferroviária alemã.
Os chineses estão entusiasmados com as conexões ferroviárias com a Europa. O governo cogita a possibilidade de financiar a construção de trilhos em vizinhos da Ásia central como o Uzbequistão e o Quirguistão, segundo relatos da agência de notícias estatal Xinhua News Agency.
O premiê Wen Jiabao referiu-se à ligação ferroviária China-Europa como parte de uma nova Rota da Seda, a rota terrestre que ligou o oeste da China com o leste do Mediterrâneo por mais de mil anos. Os russos também estão gostando: a Russial Railways, a empresa ferroviária estatal, é acionista da Far East Land Bridge. Ter tranquilidade nos negócios com os russos é muito importante. Eles controlam a linha, diz Kargl. Se você tiver o apoio deles, tudo correrá bem.
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