A pergunta é inevitável. O número vem fácil e com exatidão. Apesar de mil vinculados, apenas 334 estavam ativos, pelo menos até ontem, nas fileiras do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Quem responde, com indisfarçável preocupação, é o diretor da sede local, José Carlos da Silva, sindicalista desde o início de sua carreira na ferrovia, pela extinta Rede Ferroviária Federal S/A (1975-1996), há 35 anos.
“Maquinista a gente ainda consegue ‘segurar’. Mas o trabalhador em geral, é muito difícil. A rotatividade é grande demais”, argumenta o dirigente, que afirma assistir, diariamente, a redução do efetivo que defende.
Não é para menos. O contingente de ferroviários em Bauru caiu drasticamente à medida que a ferrovia sofreu as suas derrocadas a partir ainda da década de 1930. De lá para cá, as demissões foram muito mais rotineiras que as contratações.
“Ainda tínhamos cerca de 17 mil ferroviários na década de 1950. Hoje, com tão poucos ferroviários, ficam cada vez mais difíceis até as intervenções sindicais”, comentou o ferroviário e vereador Roque Ferreira (PT).
Militante há 33 anos, ele diz que, apesar das mudanças nas formas de gestão e na relação dos transportes com a sociedade, as questões primárias das dificuldades dos ferroviários seguem as mesmas.
“Ainda há um alto nível de exploração da força trabalhadora e precariedade nas condições gerais de trabalho que continuamos a denunciar permanentemente”, diz Ferreira.
Defasagem salarial /As demandas sindicais passam, principalmente, pelas correções salariais que, segundo apontam os ferroviários, é o principal motivo para que a classe fique cada vez mais reduzida e menos mobilizada.
“Quando houve o início da privatização, o nosso piso era de dois salários e meio. Hoje, caiu pela metade”, reclama o diretor regional do STEFP (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas), Jorge Luiz Martinelo.
“Esse fator é muito complicado para a gente. Demora, em média, seis meses para a gente convencer um ferroviário da importância de sua sindicalização. O problema é que daqui a pouco, mesmo que se vincule, ele vai embora porque percebe como é sofrida a nossa categoria”, explica.
Outro perfil
Martinelo diz ainda que, diferente de outras épocas, ser ferroviário em Bauru não faz muita diferença no cotidiano da cidade.
“Antigamente, o comerciante descia as prateleiras. O comércio era voltado para o ferroviário. Hoje, Bauru perdeu essa identidade e, a categoria, essa credibilidade de antes”, lamentou.
“A mudança nessa realidade passaria pela reestatização do setor”, sugeriu Ferreira. No entanto, até que o governo federal recue do modelo atual de concessões, a ideia parece distante.
Enquanto isso, a categoria vai sobrevivendo, a conta-gotas, inclusive em Bauru.
Número de ativos é 14 vezes menor que o de aposentados
Um claro indício da redução do número de ferroviários em serviço em Bauru pode ser conferido quando se compara o contingente atual de ativos com os que estão aposentados ou recebendo pensão na cidade.
Segundo apurou o BOM DIA junto aos sindicatos, os inativos seriam cerca de 9 mil entre os que atuaram ou recebem pela extinta Rede Ferroviária Federal S/A (1975-1996).
Há ainda outros 7 mil, que encerraram suas carreiras ou têm dependentes recebendo do trabalho dedicado à Ferrovias Paulistas S/A (1971-1998).
Como os que estão em serviço não passariam de 1,1 mil (neste caso, considerando os que atuam pela base local ou em Bauru), a conta fecharia na relação de um ferroviário a cada 14 aposentados ou pensionistas.
Desses últimos, apenas 500 estão vinculados à UFA (União dos Ferroviários Aposentados), cuja sede principal fica na cidade de Rio Claro (SP).
A unidade de Bauru tem 56 anos de fundação. São atendidos ex-ferroviários que estiveram vinculados à Fepasa.
“Nós ajudamos com apoio jurídico para toda a documentação referente a salários e complementos”, diz Norma Ferreira, secretária em Bauru há 26 anos.
Os associados pagam mensalidade de R$ 32. Em troca, podem contar com três auxílios, estendidos à mulher ou marido: óptico, internação e funeral.
Última greve da categoria foi em 2009 contra ALL
A última oportunidade em que os ferroviários se mobilizaram a ponto de até conseguirem deflagrar greve em Bauru foi na campanha salarial de 2009.
Na ocasião, o embate foi contra a atual gestora do trecho de linha estreita (e também da larga), a América Latina Logística (ALL), que assumiu tudo, por concessão de 30 anos, em maio de 2006.
A paralisação ocorreu após oito meses de negociação. Foi deflagrada no dia 31 de agosto com 89% dos ferroviários, segundo o sindicato, e terminou dez dias depois, no TST (Tribunal Superior do Trabalho).
Entre os itens conquistados à época pelos ferroviários destacam-se a elevação em torno de 16% dos pisos salariais do pessoal de operação, tração e manutenção, reajuste linear de 6% para todos os empregados e abono de R$ 500.
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