Carga migra da rodovia para a ferrovia

Que a acessibilidade portuária é o principal gargalo para a melhora da produtividade de um porto, todos já sabem. Mas, no maior da América Latina, assim como acontece em diversos outros complexos do País, os acessos terrestres apresentaram infraestrutura e logística deficientes. Na chegada ao cais santista as filas de caminhões ultrapassaram, nos últimos 15 dias, 20 km em rodovias como a Cônego Domenico Rangoni (principal pista de rolagem e acesso ao porto na margem esquerda). Resultado deste cenário: muitos embarcadores de cargas estão repensando suas operações e migrando para as ferrovias.


“Nos últimos 15 dias mais de 300 contêineres migraram do modal rodoviário para ferrovia gerando um crescimento de 15% em uma demanda que estava estagnada para a carga conteinerizada há três anos”, conta o diretor da Itri Rodoferrovia, principal operador ferroviário do porto de Santos, Washington Soares.


Diariamente, a operadora ferroviária já dispõe de um fluxo diário de 30 vagões no sentido Santos-Suzano. No curso inverso são outros 30 vagões para atender à programação de cargas de diversos exportadores da grande São Paulo. Mas, estes trens expressos com destino ao interior do Estado, segundo Soares, não foram suficientes neste período dos congestionamentos. “Para atendermos, por exemplo, às montadoras de automóveis que transportam do Guarujá a São José dos Campos precisamos de mais de dez trens, com 30 contêineres cada, deslocados em direção ao Vale do Paraíba”, explica.


Ainda segundo Soares, que também é vice-presidente da Câmara Brasileira de Contêineres, Transporte Ferroviário e  Multimodal – CBC, toda esta carga que ficou paralisada por falta de escoamento rodoviário poderia ser dirigida para a ferrovia. “Mas não em caráter emergencial, por conta do problema de acessos, mas sim por se caracterizar como a solução logística mais adequada à carga. As vantagens para o embarcador ao usar a ferrovia, seja de forma unimodal ou multimodal, tendo o caminhão como parte do processo de transporte, vão desde a redução do custo logístico total até a diminuição do inventário dentro da zona primária, em área do porto organizado”, destaca.


Contudo, Soares concorda que, no caso das ferrovias que exploram o fluxo de transporte de contêineres, operadores (como a Itri) ainda dependem de uma melhor coordenação das manobras, dentro do porto organizado, onde “as concessionárias ferroviárias (MRS Logística e ALL) encontram-se em franca concorrência pela disputa de espaços de entrada e saída em ramais ferroviários dos terminais portuários”.

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