A Bahia corre o risco de perder um entrocamento ferroviário para escoamento de minérios e produtos. Em Alagoinhas, a 100 km de Salvador, por onde passa a linha férrea, a ameaça de fechamento preocupa funcionários, comerciantes e moradores, que cresceram vendo a cidade se desenvolver em torno da ferrovia.
São mais de 1.600 km de estrada de ferro, que devem ser desativados. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizou a empresa Centro Atlântica, concessionária da ferrovia, a desativar quatro trechos com a justificativa de que não são viáveis economicamente – o que vai de Alagoinhas a Juazeiro e de Alagoinhas até Propriá, em Sergipe; e, em Salvador, de Paripe a Mapele e do Terminal de Cargas ao Porto.
Segundo a ANTT, uma nova malha será construída e os funcionários transferidos para outras cidades. No entanto, de acordo com o Sindicato dos Ferroviários, não existe a garantia de manutenção dos 600 funcionários da empresa.
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Além disso, a entidade alega que as transferências seriam para cidades muito distantes de Alagoinhas. “Relocação não garante posto de trabalho. Está aqui em Alagoinhas e ir para outro ponto, a 1000 km, poucos trabalhadores irão. Portanto, o sindicato entende que haverá demissão em massa”, afirma Paulino Moura.
Há 26 anos trabalhando como maquinista, Wilson Pereira está preocupado. “Depois de laborar esse tempo em uma empresa e em um trabalho específico, que é essa função de maquinista, e, de uma hora para a outra, a empresa diz que vai fechar, acabar, com promessas obscuras de transferência, com ilusão de garantia de emprego…A gente hoje vive um temor”, aponta.
A ferrovia chegou a Alagoinhas há mais de um século e trouxe desenvolvimento. Em 1997, a atual concessionária recebeu a malha da antiga Rede Ferroviária Federal. Na época, moradores tiveram a promessa de que um novo ciclo de progresso chegaria à cidade. Hoje, Iraci Gomes, que é de uma família de ferroviários, lamenta. “Alagoinhas é uma cidade ferroviária, nasceu pela ferrovia. Não podemos abrir mão disso, vamos continuar lutando para que haja revitalização dos nossos trechos”, diz.
Raimundo Rocha já conta com prejuízos com a ameaça de fechamento da linha férrea. A pousada que gerencia recebe 60 reservas por mês a serviço da ferrovia. “São pessoas desse interior todo para prestar serviço na ferrovia. Isso não deixa de trazer prejuízos a esse hotel e a outros dessa cidade”, comenta.
A previsão dos comerciantes é de queda de 10% no faturamento com a transferência ou com demissão dos ferroviários. A indústria também pode sair perdendo. “Se perdermos a ferrovia, perdemos a atração de empresas, a exemplo das mineradoras. Temos o produto, temos o minério. O que favorecia a implantação da indústria é justamente a ferrovia”, relata Benedito Vieira, do Sindicato dos Empresários do Comércio.
Os trens que passam pelo entroncamento de Alagoinhas carregam madeira, combustíveis e minérios pelo estado. Com a desativação desse trecho, seriam necessários 51 mil caminhões para fazer o transporte de todo esse volume.
Em nota, a ferrovia Centro Atlântica disse que não estão previstas demissões por causa da desativação dos trechos. E que, através de um plano integrado de logística, o governo federal está elaborando um projeto para não prejudicar as empresas que são clientes da ferrovia. Além diso, explica que uma nova ferrovia será construída, mais moderna e com maior capacidade para os usuários do modal.
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