As empresas brasileiras se mostram mais distantes de dois tipos de concessão: ferrovias e trem de alta velocidade (TAV). A menos de quinze dias da data prevista para entrega de propostas do “trem-bala”, o governo confirmou o cronograma do processo licitatório contando com o interesse de dois grupos estrangeiros – um francês e outro espanhol.
Demanda e custo dos investimentos afastaram as brasileiras que haviam sinalizado interesse. Agora, o mercado comenta que o grupo francês – composto pela fabricante Alstom e pela operadora de ferrovias SNCF – demonstra o maior apetite.
Já o grupo espanhol, composto pela operadora Renfe e pela fabricante Talgo, chegou a apresentar defesa de sua participação por meio do governo do país ibérico. A Renfe opera a linha onde houve um acidente com 80 mortos na última semana – e o edital brasileiro proíbe a participação de quem tenha registrado mortes de passageiros nos últimos cinco anos. A justificativa do governo espanhol é que o acidente não ocorreu em linha de TAV, e por isso a Renfe não estaria impedida. “Isso ainda precisa ser verificado”, disse ontem Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL).
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
“Não será nenhum espanto que restem só esses dois grupos concorrentes”, diz um executivo do setor. Em uma recente disputa pelo trem-bala na Arábia Saudita, franceses e espanhóis também ficaram na disputa final.
Além do TAV, o governo inicia neste ano os leilões do novo modelo de concessão de ferrovias. Esse é o segmento visto com mais receios por parte da iniciativa privada. Até agora, só dois grupos brasileiros demonstraram efetivo interesse nos projetos. A maior dúvida diz respeito às garantias que o governo irá oferecer para o pagamento que a Valec fará os concessionários. Isso porque a estatal é que será a fonte de receitas dos vencedores ao longo do contrato de concessão. Segundo as empresas, há o risco de um governo futuro, por exemplo, decidir interromper ou mudar o cálculo para o pagamento.
O primeiro empreendimento da série de leilões de ferrovias é o que liga Açailândia (MA) a Barcarena (PA), que terá demanda de movimentação de commodities. O edital definitivo ainda não foi publicado – a previsão mais recente do governo é que isso aconteça até 19 de agosto (dois meses antes do leilão, em 18 de outubro). O investimento estimado para a construção do trecho ferroviário é de R$ 3,2 bilhões, segundo o governo.
Apesar dos receios, a Triunfo Participações e Investimentos (TPI), que já venceu no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), vai disputar o leilão para buscar conhecimento sobre o mecanismo proposto pelo governo. No entanto, tem pouca intenção de ganhar esse primeiro projeto.
Seja o primeiro a comentar