Não é de hoje que se discute a construção de uma ferrovia na Bahia. Há 50 anos, o engenheiro e professor emérito da Faculdade Politécnica da Bahia, Vasco Neto, já defendia o plano de instalar uma estrada de ferro que cortasse o sertão baiano e avançasse sentido leste do país. A “Ferrovia Transulamericana” teria alcance continental e selaria a integração da América do Sul. Vasco Neto morreu em 2010, ano em que obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste tiveram início. De certo, não aprovaria a situação em que o projeto se encontra atualmente.
Depois de quase quatro anos de obra, a Fiol ainda é objeto de discussões intermináveis sobre onde, afinal, seus trilhos devem ser instalados. Pelo projeto do governo, o marco zero da ferrovia deve ser a cidade de Figueirópolis, em Tocantins. O plano é que, a partir de Barreiras (BA), o traçado da ferrovia siga sentido oeste e entre no Estado vizinho, totalizado 1,5 mil km de malha. Em Figueirópolis, a Fiol encontraria os trilhos da Ferrovia Norte-Sul, abrindo nova possibilidade de escoamento. Esse projeto, no entanto, não é consenso.
Para o vice-governador e secretário de infraestrutura da Bahia, Otto Alencar, o ponto de partida que a Valec desenhou para a Fiol está errado. Ele passou a defender que a largada da ferrovia deve ser construída mais ao sul, no município de Campinorte, em Goiás. A distância entre uma opção e outra é pequena, de apenas 200 quilômetros. Para o vice-governador baiano, no entanto, essa mudança pode fazer toda a diferença. Campinorte, que é cortada pela Norte-Sul, também será o ponto final da prometida Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), projeto que seria construído pela Valec, mas que acabou sendo incluído no pacote de concessões ferrovias que o governo pretende fazer nos próximos meses.
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A tese de Alencar tem um propósito muito claro: criar uma rota direta e sem escalas para o escoamento das safras do Mato Grosso, que um dia poderá contar com a Fico para despachar seus grãos. A mudança no traçado poderia evitar o “desastroso efeito para a Bahia e o Nordeste” que o projeto atual, afirma ele, vai gerar. Dentro do próprio governo baiano, porém, há divergências sobre a proposta.
“O vice-governador defendeu uma opinião dele, mas o Estado da Bahia não pode se dar ao luxo de ficar fazendo alterações a essa altura do campeonato. O governador [Jaques Wagner] defende que o traçado até Figueirópolis seja mantido”, diz Eracy Lafuente, coordenador de acompanhamento de políticas de infraestrutura do governo da Bahia. “Nós já estamos muito preocupados com o prazo. O Estado da Bahia não quer rever traçado nenhum.”
O presidente da Valec, Josias Cavalcante, diz que a estatal recebeu o pedido para que a nova rota seja avaliada, mas garante que, até segunda ordem, nada muda. “Quanto mais o traçado ruma para o sul, maior a incidência de cavernas, é um traçado mais complicado. O projeto atual está mantido”, diz Cavalcante.
Da mesma forma que as coisas não estão bem resolvidas no ponto de partida da Fiol, também pesam dúvidas sobre o seu destino final. Em Ilhéus, na praia de Aritaguá, a placa que o governo mandou instalar para indicar o local de construção do Porto Sul da Bahia foi arrancada e jogada no mato. Há anos, o projeto enfrenta uma forte resistência por conta do impacto ambiental, situação que já obrigou o governo a mudar o local inicialmente previsto para construção do porto (Ponta da Tulha). Apesar de estar a apenas cinco quilômetros do centro de Ilhéus, Aritaguá é uma praia isolada. Próximo de sua orla, o rio Almada espalha uma enorme faixa de mangue.
Em novembro do ano passado, o Ibama concedeu a licença prévia para a construção de um complexo portuário no local. O projeto de R$ 4 bilhões prevê a ocupação de uma área total de 1,8 mil hectares, para instalação de um terminal público e outro privado, que será erguido pela empresa Bahia Mineração (Bamin). A licença de instalação do empreendimento, no entanto, que vai autorizar o início efetivo das obras, ainda não tem data para sair. Sem o porto concluído, a Fiol não tem nenhum sentido.
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