O que você vai ver agora é um exemplo prático das carências do Brasil na infraestrutura de transportes. O repórter Marcos Losekann percorreu a principal rota da produção de grãos do Centro-Oeste até o Porto de Santos. E registrou as dificuldades e prejuízos que estradas e ferrovias ruins trazem ao país. Do total de 150 milhões de toneladas produzidas por ano, um terço sai do estado de Mato Grosso.
Gigantescas lavouras, em breve, vão gerar uma supersafra de grãos. Pelas contas dos produtores do norte de Mato Grosso, serão 50 milhões de toneladas de soja e milho colhidas a partir de fevereiro.
Só que a região que mais produz grãos no planeta sofre com a falta de infraestrutura de transportes. O único trem, que parte de Rondonópolis, a 500 quilômetros das principais lavouras, não consegue atender nem um quarto da demanda: duas mil carretas carregadas por dia.
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São 1,6 mil quilômetros de ferrovia de Rondonópolis até Santos. Se fosse tudo normal, tranquilo, o trem levaria uma noite e um dia para chegar ao destino. Mas por causa dos problemas nos trilhos e nas locomotivas acaba demorando até 90 horas e depois gasta mais 45 horas, esperando o momento de descarregar. Quase seis dias. Apesar de todos os problemas nas estradas, os produtores acabam preferindo os caminhões na rodovia que passa ao lado. Ali gastam menos de um terço do tempo consumido pelo trem.
Economia de tempo, desperdício de dinheiro. A começar pelo desgaste dos caminhões. As crateras nas pistas levam os motoristas a reduzir a velocidade e a gastar muito mais combustível.
O Jornal Nacional embarcou em um desses caminhões que percorrem dois mil e cem quilômetros de Sinop, em Mato Grosso, até o litoral. Quarenta e oito horas de solavancos e perigos.
A precariedade da infraestrutura de transporte gera uma conta que não fecha. O frete pode custar mais caro do que o produto transportado. De caminhão, de Mato Grosso até o Porto de Santos, o transporte de uma saca de milho, por exemplo, custa R$ 18. O dobro do valor do próprio milho, que gira em torno de R$ 9 a saca. Um custo que torna ainda mais difícil para o Brasil competir no mercado internacional.
No fim do segundo dia de viagem, Santos finalmente surge atrás da Serra. O mapa do governo prevê um sistema ferroviário moderno com quase 10 mil quilômetros de trilhos e ramais que ligariam todas as regiões do Brasil a uma espinha dorsal: a ferrovia Norte-Sul. O problema é que só seis mil quilômetros estão prontos. Em três anos depois do primeiro anúncio de leilão do sistema, o projeto ainda não saiu do papel.
“Esse modelo que nós estamos apresentando de concessão de ferrovias, que é um modelo diferente, que países da Europa utilizam. Então é natural que demore um pouco mais de tempo, tenham mais dúvidas, mas nós temos muita certeza que esses investimentos vão mudar o cenário da logística brasileira”, declara a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
Pelas contas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as ferrovias podem gerar uma economia de R$ 2 bilhões por ano só em combustível.
“Nós temos tudo aqui no país para fazer as coisas todas bem feitas, gente capaz, empresas, mas nós precisamos botar essa máquina para funcionar eficientemente. E aí vem algo que se chama burocracia, que a função é praticamente impedir que isso funcione numa velocidade, numa eficiência que nós todos gostaríamos e que trouxesse benefícios ao país”, analisa José de Freitas Mascarenhas, pres. Cons. Infraestrutura – CNI.
Enquanto os investimentos nas ferrovias não entram nos trilhos, o transporte vai devagar, quase parando.
Nesta semana, o Tribunal de Contas da União deu o primeiro aval aos estudos de viabilidade das privatizações de ferrovias. Mas antes de publicar o edital de licitação, o Governo Federal terá que rever algumas estimativas de gastos que foram consideradas exageradas pelo TCU. Não há data prevista para a publicação do edital.
Clique no link e assista a reportagem:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/12/estradas-e-ferrovias-ruins-trazem-prejuizo-ao-mercado-de-graos.html
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