A GE Transportation, empresa da americana General Eletric especializada em fabricação de locomotivas, chega ao fim do ano com cerca de 50 pedidos em sua fábrica no Brasil. É menos da metade das encomendas de 2011, quando recebeu 116 pedidos. No ano passado, a produção já havia caído para o patamar de 50 unidades. Para se adaptar à subutilização da capacidade instalada de sua unidade de Contagem (MG), a companhia passou a fazer serviços que antes eram terceirizados e desenvolveu outros produtos.
Mesmo com a demanda mais fraca, a GE investiu cerca de US$ 5 milhões na adaptação da fábrica para produção de um novo modelo de locomotivas. As primeiras três unidades da Dash 9 foram feitas para a Brado Logística – num negócio cujas partes não revelaram o valor. A entrega do primeiro lote ocorreu na sexta-feira.
“Já temos pedidos de outro cliente e até março entregamos mais um lote de oito máquinas. Além disso, estamos em negociação para volumes adicionais ao longo de 2014”, disse ao ValorPRO, serviço em tempo real do Valor, Rogério Mendonça, presidente da GE Transportation.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
A Dash 9 tem 50% de componentes fabricados no Brasil – as outras duas linhas de locomotivas da GE têm entre 60% e 70% de conteúdo nacional. Hoje, a Vale e a VLI são as empresas que mais usam a Dash 9. A ALL tem um número menor – todas até agora importadas dos EUA.
A empresa, porém, depende de apoio do governo federal para garantir seus negócios. Hoje cerca de 90% das vendas são custeadas com financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Como a indústria tem poucos operadores, poucos clientes, ficamos sujeitos a uma volatilidade muito grande”, diz Mendonça. “Essa volatilidade é um desafio para a indústria de maneira geral. Daí a importância do plano de incentivo para a substituição de frota.” Essa tem sido uma das bandeiras do setor: um plano de incentivo para que concessionários e operadores troquem locomotivas velhas por máquinas mais potentes, que gastam menos diesel e que não estão tão vulneráveis a falhas mecânicas.
Mendonça cita um número: o país tem 1.400 locomotivas antigas em operação. Se fossem substituídas por novas, seriam necessárias apenas 600 máquinas para tracionar a mesma carga. O tempo das viagens também cairia.
A idade média das locomotivas no Brasil é de 35 anos, segundo o executivo. “À medida que locomotivas mais confiáveis e mais rápidas passem a rodar consegue-se extrair um uso mais eficiente da mesma malha. Construir novas ferrovias é fundamental, mas custa caro e leva muito tempo. Se a gente conseguir mexer na eficiência, o país ganha uma produtividade com as vias atuais”, afirma.
A malha atual é de 30 mil quilômetros. O governo federal vem levando adiante um programa de concessões ferroviárias. Hoje cerca de 25% das cargas transportadas são transportadas por trens. O Ministério do Desenvolvimento afirma que analisa a proposta da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) e da Associação dos Transportadores Ferroviários (ANTF) de substituição de frota, que passa, necessariamente, por linhas de crédito específicas. Nos últimos anos, o governo, segundo o ministério, vem adotando medidas como desonerações, regras de conteúdo local e financiamento.
A GE Transportation inaugurou sua fábrica em 1972 e afirma já ter produzido mais de 1.100 locomotivas no Brasil. A empresa ficou anos sem concorrente nacional. Desde o ano passado, a Caterpillar começou a entregar locomotivas produzidas em sua fábrica em Sete Lagoas, também em Minas. São os dois únicos fabricantes no país.
A previsão da Abifer é que a produção das duas empresas chegará a 100 locomotivas este ano. As projeções de que haveria demanda de 100 máquinas por ano levaram a empresa a expandir sua fábrica há dois anos, lembra Mendonça. Em 2011, a previsão se confirmou, mas, em seguida, a demanda por locomotivas caiu. 2011 foi um ano especial: a produção de locomotivas ultrapassou a marca das 100 unidades apenas em 1975, 1976 e 1977, segundo a Abifer.
A GE atravessou o ano passado e este com uma demanda de 50 locomotivas, muito aquém de sua capacidade, de 120 unidades por ano. Este ano, 35 foram para o mercado local e 15 para Colômbia e Moçambique. Mendonça atribui o recuo à redução da demanda chinesa por minério de ferro, bem como às concessões das ferrovias, cujas regras considera pouco claras.
O faturamento da GE Transportation – que não é divulgado — caiu, segundo o executivo, mas não na mesma proporção das vendas. Isso porque a empresa buscou novos negócios. “Passamos a fazer painéis eletrônicos de sinalização ferroviária”, diz Mendonça. A fábrica está produzindo também motores diesel para geração de energia elétrica. A fábrica tem 550 funcionários.
A empresa encerrou este ano um programa de investimentos de US$ 35 milhões, iniciado em 2008, para aumentar a nacionalização das máquinas. A empresa deve investir cerca de US$ 10 milhões em 2014, repetindo o orçamento de 2013.
Seja o primeiro a comentar