O que todas tiveram em comum no início foi o desemprego. E como a necessidade não faz cerimônia, elas acabaram entrando por uma porta pela qual, durante décadas, apenas homens passavam. Assim, três domésticas, uma vendedora, uma motorista do transporte alternativo e uma cabeleireira deixaram pra trás a procura por oportunidades em suas áreas e se tornaram operárias da construção civil, trabalhando duro nos canteiros de obras da Linha 4 Sul do metrô.
As seis fazem parte de um universo de 24 mil mulheres com emprego formal na construção civil do Rio de Janeiro, segundo dados do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego. Mesmo com um aumento de 200% em participação no setor entre 2002 e 2013, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar do IBGE, as mulheres representam apenas 9% do total de empregos em obras no estado.
— Nunca pensei em trabalhar na construção civil. Temia casos de violência e riscos de acidentes. Mas eu estava desempregada — diz a pedreira de acabamentos Andreia Assis Lucas, de 38 anos, que trabalhou nas obras do Maracanã e entrou para o setor após um curso numa ONG. — A construção civil mudou muito. É extremamente profissional e cuida da segurança de todos.
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Betoneira virou tarefa para mãos delicadas
Do total de 575 mulheres que trabalham nos canteiros do metrô da Linha 4, 62 são operárias qualificadas. E é assim, aos poucos, que começam a mudar o cenário nas construções da cidade.
Quem passa pelo canteiro de obras do metrô ao lado do 23º BPM, no Leblon, não imagina que a primeira máquina que Fátima Conceição Silva, de 51 anos, ‘‘pilotou’’ na vida foi um fogão. Hoje, do alto de uma carregadeira, ela transporta muitas toneladas de brita e areia por dia. Devido à falta de oportunidades e ao pouco estudo, Fátima começou a trabalhar como doméstica, e tirar a carteira de habilitação foi o primeiro passo num caminho completamente diferente do destino traçado para as mulheres de sua família.
Depois de um período trabalhando no transporte alternativo, a ex-motorista de van conseguiu emprego no setor de mineração.
— No trabalho, aproveitei uma chance e fiz um curso de operadora. Em seguida, arranjei um emprego de caminhoneira na Linha 4 Sul do metrô e, como tinha uma especialização, consegui uma vaga para dirigir uma carregadeira. Agora, estudo para me tornar guindasteira. E, mesmo sabendo que meu tempo já está ficando curto, já começo a pensar em aprender a pilotar avião — conta Fátima, abrindo um sorriso.
Sua colega Luciene Cruz, de 26 anos, abandonou um emprego de vendedora e também tirou carteira de habilitação para trabalhar no transporte alternativo. Porém, um amigo a indicou para as obras do metrô e ela trocou as vans por uma betoneira:
— A construção me abriu um leque de oportunidades. No setor, há empregos que jamais imaginei. Gosto muito de obra, pretendo voltar a estudar para me tornar engenheira civil — revela.
Também motorista de caminhão, Josiane da Silva Marques, de 36 anos, hoje é chefe de transportes no mesmo canteiro:
— Eu trabalhava como cabeleireira, mas, devido a uma tendinite, tive de mudar de profissão. Acabei adorando.
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