O aumento do otimismo com a economia chinesa e a corrida às compras das usinas siderúrgicas locais ajudaram a trazer o minério de ferro a patamares mais rentáveis em abril. O preço terminou ontem em US$ 56,90 por tonelada e fechou no melhor mês em cerca de dois anos ¬ o número final será conhecido hoje ¬, com alta acumulada de 11,6%, em um momento no qual as principais commodities metálicas e o petróleo também se recuperaram. Esse desempenho representa um alívio não só no resultado da Vale como também na balança comercial brasileira.
Desde julho de 2013 o insumo não registrava um aumento tão relevante. Na época, o avanço foi de 11,5%. Antes disso, na comparação da série histórica disponível ¬ que tem dois anos e meio ¬, não há valorização tão representativa. Mas mesmo a forte tendência positiva em abril não foi suficiente para anular as perdas do ano, já que até agora no agregado de 2015 a queda é de 20%. Os dados são do minério com teor de 62% de ferro, negociado no porto chinês de Tianjin.
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Carsten Menke, analista de commodities do banco suíço Julius Baer, classificou o avanço como “notável”. Em entrevista ao Valor, ele lembrou que abril foi um período em que, com a redução dos estoques, as usinas siderúrgicas chinesas saíram às compras para garantir o fornecimento do minério. Ao mesmo tempo, o mercado, que estava bastante cético quanto à matéria¬prima, passou a perder dinheiro apostando na queda dos preços e começou a apostar em uma melhora no curto prazo
O movimento é positivo para a economia brasileira. Mas Bruno Rezende, da Tendências Consultoria, ressalta que os ganhos de abril só vão se traduzir em superávit nas trocas comerciais no mês que vem, como tradicionalmente ocorre. A instituição prevê valor de exportações 8% maior do minério em maio por conta da valorização. Para se ter a dimensão da importância da commodity na balança, no primeiro trimestre as vendas de produtos minerais ao exterior responderam por 20,7% do total.
“Mas o mercado do minério vai continuar com excedente de oferta dentro do médio prazo, provavelmente. E o consumo de aço pelos chineses não deve aumentar na mesma proporção, sendo pressionado pela piora da construção civil”, completa o analista.
Além disso, os investidores esperavam que a economia chinesa pudesse ganhar respiro adicional com a redução da taxa de depósitos compulsórios menor para os bancos locais, o que poderia acelerar a oferta de crédito e impulsionar a economia. No entanto, esse otimismo começou a se dissipar, de acordo com Colin Hamilton, diretor de análise de commodities da financeira australiana Macquarie.
A expectativa do Julius Baer é de US$ 45 por tonelada para o minério durante os próximos três meses. A Macquarie, por sua vez, projeta queda a até US$ 48 na média do terceiro trimestre. A Tendências crê que a balança comercial do insumo perca US$ 10 bilhões em 2015 como um todo e feche em US$ 15 bilhões por causa da piora dos preços.
Já o petróleo tem perspectiva mais otimista dos analistas. A redução dos estoques nos Estados Unidos e o corte prolongado da oferta vinda da exploração do xisto impulsionaram os preços do barril do Brent em 18,38% durante abril, para US$ 66,54 cada. O WTI avançou 21,32% no mês, para US$ 59,86 ¬ ambos barris fecharam na maior cotação do ano. Neste caso, a valorização pode atrapalhar a rentabilidade da área de abastecimento da Petrobras e consequentemente a balança brasileira de petróleo.
Em relatório, o banco americano J.P. Morgan projetou uma procura maior das economias emergentes pela commodity, o que ajudaria a impulsionar os preços. O texto também cita a redução de capacidade no mercado americano a partir do fim do segundo trimestre, o que conteria a pressão sobre o petróleo. No ano o WTI já registra aumento de 11,47% e o Brent, de 14,31%, mas em 12 meses ainda há queda ¬ de 40,2% e 38,2%, respectivamente.
Mas o Citi acredita que as notícias vindas dos EUA podem dar uma impressão errada de como está o cenário atual. Enquanto o país, em conjunto com China e Índia, por exemplo, acelera a expectativa de demanda ¬ e também faz a lição de casa no campo da oferta ¬, grandes mercados como o Brasil e a Rússia podem piorar o saldo final. Isso porque o crescimento nesses dois grandes mercados, que impulsionam a procura pelo petróleo nos últimos anos, deve piorar.
Nas contas da Tendências, contudo, o saldo ainda é positivo para a economia brasileira. A importação de derivados, que tem o maior peso sobre a balança comercial, encontra¬se em ritmo de contenção em meio à menor necessidade de combustíveis na esteira da desaceleração da atividade. No primeiro trimestre, as compras de derivados estrangeiros atenderam por 14% do total de importações.
A previsão para 2015 é de redução em US$ 8,6 bilhões do déficit na balança comercial, para US$ 11,2 bilhões. Em abril, a perspectiva é de US$ 300 milhões no negativo, com redução de US$ 400 milhões no saldo de derivados ante março, para US$ 1,3 bilhão.
Também durante este mês, o cobre engatou movimento de alta. Os preços do metal avançaram 2,1%, segundo o contrato futuro de três meses, para US$ 6.145 por tonelada. A redução dos gastos de extração ao redor do mundo ajuda as produtoras, mas o problema, lembra Menke, do Julius Baer, é que a qualidade do mineral é cada vez menor, o que tornará novos projetos muito mais custosos. A projeção é de oferta cada vez menor e o analista crê que o balanço da cotação será cada vez mais resultado de uma queda de braço entre essa diminuição da capacidade e a demanda do setor de construção chinês.
Em abril, o níquel subiu 7,1%, para US$ 13.420 a tonelada, e o alumínio avançou 5,2%, fechando cotado a US$ 1.883.
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