Pedido da VLI garante ocupação da Caterpillar

A fábrica de locomotivas da Caterpillar, no interior de Minas Gerais, opera desde o fim do ano passado num ritmo acelerado. Os funcionários trabalham para entregar uma encomenda de quase R$ 1 bilhão para a VLI, a empresa de logística que tem a Vale como maior acionista.
Num momento de semi¬paralisia da economia, o negócio permite que a linha de produção da Caterpillar rode quase à plena capacidade. O contrato com a VLI prevê 97 locomotivas. Dessas, 20 já foram entregues. As demais ficarão prontas até agosto de 2016.

As duas empresas já tinham fechado outro negócio grande há alguns anos: 50 máquinas. Todas já foram entregues. As 97 locomotivas começaram a ser negociadas em 2013. Elas serão alugadas à VLI por um período de cinco anos, período que pode ser renovado.

A indústria ferroviária no país vem passando por um período de expansão nos últimos anos. Em 2014, faturamento cresceu 24%, indo a R$ 5,6 bilhões.
Pelos trilhos da VLI nos corredores Centro-Norte e Centro-Sudeste, as máquinas que virão da Caterpillar puxarão vagões carregados, principalmente de grãos, farelo e açúcar. São produtos que estão na rota de exportação do agronegócio brasileiro, cujo desempenho tem se destacado mesmo nessa era de desaceleração. A VLI transporta também combustível, celulose, carvão e escória para a indústria siderúrgica nacional.

Com essas aquisições da VLI, essa fábrica já opera num nível muito maior do que a gente teve em 2014, disse ao Valor, Carlos Roso, diretor¬geral da área ferroviária da Caterpillar no Brasil. Segundo ele, o número de unidades fabricadas no ano passado foi mais baixo que o de 2013. A empresa não divulga os números.

Roso se diz otimista com 2015 e afirma que está em negociação com a própria VLI para fazer outras 60 locomotivas e que também conversa com a Rumo ALL e MRS, outras empresas que operam ferrovias no país, sobre possíveis encomendas entre este ano e 2017. O executivo afirma que o período de economia parada, geralmente, abre espaço para empresas buscarem formas de reduzir seus custos trocar locomotivas antigas por novas, mais eficientes.

A crise é uma motivação para renovação das nossas máquinas, confirma Rodrigo Rogério Ruggiero, diretor de operações da VLI. Segundo ele, as 97 locomotivas farão o trabalho que hoje é executado por 150 locomotivas. Isso significa menor consumo de diesel e menor poluição. O investimento previsto é de R$ 900 milhões.

Além dessa substituição, VLI tem plano de adquirir mais 200 locomotivas para ampliar sua frota, sendo que 114 já foram adquiridas. O plano inclui ainda compra de vagões, construção de terminais que fazem ligação com as linhas férreas e a ampliação do terminal no porto de Santos. O investimento previsto é de R$ 9 bilhões. Parte do plano de expansão está voltado para a agricultura, setor que continua bem, diz Ruggiero.

A Caterpillar inaugurou em novembro 2012 sua fábrica brasileira na cidade de Sete Lagoas, a uma hora de Belo Horizonte. É a única fábrica própria de locomotivas que tem no mundo, afora a da cidade de Muncie, no Estado de Indiana, nos Estados Unidos.
A empresa já investiu US$ 150 milhões na implantação do negócio de trens no Brasil. Neste momento existe uma situação mais delicada para a economia, mas continuamos acreditando que a infraestrutura vai crescer no país.

Roso lembra que em fins de 2010, quando a Caterpillar informou que instalaria uma planta no Brasil, as expectativas eram altas. Achávamos que nos cinco anos seguintes, teríamos potencial para pedidos de 200 locomotivas por ano. Seriam 1.000 em cinco anos, achávamos que o mercado poderia absorver isso, disse ele à reportagem enquanto circulava pelos grandes galpões pintados de azul de onde saem as locomotivas. Eu ainda acho que vai absorver.

Por enquanto a realidade é outra. Desde fins de 2012, a Caterpillar fez pouco mais de 100 locomotivas, ou 50 por ano, considerando que 2013 e 2014 foram os dois únicos cheios de produção até agora. Em 2015, segundo Roso, o número de máquinas que devem sair dos seus galpões em Sete Lagoas chegará mais perto de 100.

A capacidade de produção é de 90 por ano. A Caterpillar ingressou no negócio de trens em 2006, quando adquiriu a Progress Rail, nos EUA. Em 2010, adquiriu a tradicional EMD ¬ marca que usa em sua fábrica mineira. O outro grande fabricante mundial de locomotivas, a General Electric (GE), com unidade fabril também em Minas, em Contagem, não informa o número de unidades que prevê produzir este ano. Mas declara que, em função de contratos assinados em 2014 e de lançamentos e investimentos, a fábrica deverá ampliar em mais de 65% sua produção este ano em relação à do ano passado.

Caterpillar e GE esperam que a demanda ganhe mais impulso com a aprovação de um plano de estímulo para as concessionárias ferroviárias renovarem suas frotas. O plano está em discussão no governo federal. Vicente Abate, presidente Associação Brasileira da Indústria Ferroviária, diz esperar que o programa saia do papel este ano.

Em 2014, a indústria de locomotivas, vagões e de metrôs e trens urbanos ¬ que emprega 20 mil pessoas ¬ faturou R$ 5,6 bilhões no país, 24% a mais que em 2013. Este ano, apesar da retração esperada do PIB, a previsão da Abifer é que o valor possa chegar a R$ 6 bilhões.

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