Os cerca de US$ 53 bilhões em investimentos chineses chegam para alavancar a economia brasileira em um momento de desaceleração. Mas a injeção de capitais não substitui a necessidade de uma agenda de reformas, alertam economistas. Para Cláudio Frischtak, da Inter.B consultoria, os primeiros efeitos podem ocorrer já no PIB de 2016 — na melhor das hipóteses, até 0,3 ponto percentual no PIB, reflexo de investimentos sobre a construção pesada e máquinas e equipamentos, entre outros.
— Isso se a economia já tiver saído da recessão, mesmo que com uma recuperação modesta, e estiver em um ritmo de retomada dos investimentos, ou seja, havendo um efeito virtuoso, que chama outros investimentos públicos e privados complementares — afirma Frischtak.
O economista Jorge Arbache, da UnB, é mais cauteloso:
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— Existe um alívio de curto prazo, num momento de desaceleração da economia e dos investimentos da Petrobras, mas é preciso saber os termos e as condições dos chineses. Na Argentina, elas não foram favoráveis, embora o Brasil seja mais protegido. Se a ferrovia, por exemplo, tiver como meta o escoamento de commodities, isso não necessariamente casa com objetivos de longo prazo e pode nos deixar reféns de sermos produtores de commodities.
Eventuais dependências preocupam. Para o professor de Relações Internacionais Kevin Gallagher, especialista nas relações entre a China e a América Latina da Universidade de Boston, um ponto importante são os contratos paralelos a grandes investimentos de infraestrutura, como a Ferrovia Transoceânica, que ambiciona ligar o Oceano Atlântico ao Pacífico.
— Será um teste para chineses e brasileiros. Os chineses querem diversificar seus investimentos e ter acesso barato a produtos da América Latina. O Brasil, porém, precisa ter cuidado com as condições no momento em que as empresas nacionais tentam se recuperar de uma desaceleração. Além da ferrovia, quem vai vender os trens, vagões e equipamentos necessários? Serão os chineses? — observa.
Opinião diferente tem Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral. Para ele, a ferrovia pode significar um salto na matriz de transportes do país. Isso viria, segundo ele, pela redução de até 70% do custo do frete e pela possibilidade de escoamento de carne, milho e outros grãos pelo Rio Madeira, desafogando os portos de Paranaguá e de Santos:
— Existe uma vantagem logística para o deslocamento de granéis, porque economiza pela metade a distância para a Europa e em um terço para a China.
Sobre quem e o que querem os parceiros chineses, dizem os mesmos analistas, a visão é que o Brasil está dentro de uma visão estratégica. De um lado, pode ajudar a assegurar aos chineses sustentabilidade alimentar e energética, e de outro, ampliar a influência deles no continente.
— A China encara o Brasil como um parceiro estratégico, não é um investimento oportunista— afirma Frischtak.
Resende considera que os chineses serão exigentes:
— Não vai ficar barato. Eles vão querer cumprir contratos, a longo prazo vão querer o respeito às tarifas negociadas e cotas de exportação, nada que o mercado não exigiria.
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