Promessas não cumpridas da China somam US$ 24 bilhões

Em Barreiras (BA), um megaprojeto de processamento de soja parou na terra plenagem. No porto do Açu (RJ), a siderúrgica Wisco desistiu de ter uma unidade no Brasil quando Eike Batista começou a desmoronar. Em Mato Grosso e no Pará, o acordo para o financiamento de uma ferrovia está parado há três anos.

Em comum, trata-se de projetos bilionários com capital chinês anunciados com estardalhaço nos últimos cinco anos, mas que nunca saíram do papel. Somadas, essas promessas não cumpridas ou redimensionadas para baixo somam ao menos US$ 24 bilhões, segundo levantamento da Folha.
Esse montante seria maior caso entrasse na conta a fabricante de eletrônicos taiwanesa Foxconn. Em visita a Pequim em 2011, o governo Dilma anunciou que a empresa investiria US$ 12 bilhões, mas ficou bem distante disso.

Esses antecedentes têm provocado ceticismo sobre os anúncios feitos durante a visita do primeiro-ministro Li Keqiang ao Brasil, nesta semana, como a construção de uma ferrovia transoceânica e um fundo de investimento de até US$ 53 bilhões.

Levantamento da Folha publicado nesta quinta-feira (21) mostra que apenas 14 dos 35 acordos recém-assinados têm recursos assegurados e compromissos mais firmes.

MONTADORAS

O esvaziamento dos planos ocorreu em vários setores. No ramo automotivo, alguns fabricantes de automóveis ainda não implantaram projetos industriais no Brasil –casos da Lifan, da Hafei e da Zotye.

Outros investimentos acabaram dependentes de dinheiro brasileiro. Em Camaçari (BA), onde a JAC Motors planeja uma fábrica de R$ 1 bilhão, a obra está parada à espera de um financiamento estadual de R$ 122 milhões. Os chineses arcarão com 66%, e o restante virá do sócio local, o Grupo SHC.
No caso da fábrica da Foton Caminhões, que está sendo erguida em Guaíba (RS), todo o capital de R$ 400 milhões é brasileiro; a China entrará com a tecnologia.

No caso da soja, um dos principais produtos de exportação brasileira para a China, investimentos de pelo menos US$ 8,7 bilhões, que incluiriam compra de terras e infraestrutura para escoamento, não se materializaram.

Em telecomunicações, a visita da presidente Dilma Rousseff à ZTE, em Xian (China), em 2011, não foi suficiente, até agora, para a empresa implantar uma fábrica de US$ 200 milhões em Hortolândia (SP).

Por outro lado, a Huawei cumpriu a promessa na mesma época de abrir um centro de pesquisa e desenvolvimento em Campinas (SP), orçado em US$ 300 milhões.

Os empresários chineses costumam se desanimar com os custos e a burocracia. Eles estão decepcionados também com o crescimento pífio –boa parte dos anúncios ocorreu ente 2010 (quando o país cresceu 7,6%) e 2011.

INFRAESTRUTURA

O Brasil tampouco conseguiu atrair os chineses para grandes obras de infraestrutura. As empresas do país são pouco receptivas ao modelo de concessão e a participar de licitações. O Planalto não teve êxito, por exemplo, em envolver Pequim no projeto do trem-bala entre Campinas e Rio, várias vezes adiado.

 

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