Antes mesmo do lançamento do pacote de concessões e da nova etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL), integrantes do governo iniciaram uma série de viagens para apresentar as oportunidades de negócios em infraestrutura no Brasil para fundos de investimentos internacionais. O Ministério da Fazenda aposta na capacidade de o país atrair investidores institucionais estrangeiros, fundos de pensão, seguradoras e fundos mútuos ¬ uma indústria que acumulou mais de US$ 90 trilhões em ativos em 2013.
Na visão da Fazenda, ser capaz de mobilizar esse tipo de investimento de longo prazo será essencial para financiar a crescente demanda por infraestrutura no país. Na semana passada, técnicos da pasta foram a uma reunião da força¬tarefa de infraestrutura e investimentos do G¬20, em Cingapura, onde o Banco Mundial tem um centro com uma base de dados de projetos nessa área. O objetivo da força¬tarefa é discutir experiências de vários países para viabilizar aportes de capital necessários a obras em ferrovias, portos, aeroportos e rodovias.
“Existe muita liquidez no mercado mundial e uma busca intensa por retornos melhores do que os vigentes em mercados maduros, como Europa e Japão. Por suas características financeiras, ativos de infraestrutura despertam cada vez mais o interesse de investidores internacionais em todo o mundo”, disse ao Valor o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Paulo Corrêa, que representou o Brasil no encontro.
Em dezembro, a União Europeia identificou mais de 2 mil projetos potenciais na área, nos quais € 500 bilhões poderiam ser executados pelo setor privado nos próximos três anos. Os Estados Unidos estimam que há a necessidade de aportes de US$ 1 trilhão para atender à demanda por melhorias em infraestrutura global nos próximos cinco anos.
Além da reunião do G¬20, O Brasil participou de uma série de debates organizados pelo Banco Mundial e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Cingapura. De um lado, países, como EUA, Canadá, México e Reino Unido, apresentaram as oportunidades de investimentos em concessões e, de outro, representantes do setor financeiro, como BlackRock e Credit Suisse, discutiram as barreiras enfrentadas para a realização de aportes em cada nação.
“As principais barreiras apontadas pelo setor privado referem¬se à falta de um marco de longo prazo, transparente e estável para o setor, o risco regulatório e a ausência de projetos bancáveis”, explicou Corrêa, que defendeu para os investidores internacionais a realização de aportes no Brasil.
A Fazenda também enfatiza a importância desses aspectos dentro do governo. Na revisão do marco regulatório do setor de ferrovias, por exemplo, a pasta defende a substituição do modelo que prevê a separação entre os donos dos trilhos e os operadores pela implementação de um modelo integrado, com acesso aberto aos produtores e regulação do direito de passagem pelo qual uma companhia pode usar os trilhos da outra.
Nas reuniões de representantes de governos de diferentes países com investidores, esses últimos pedem informações que vão desde as condições de estabilidade macroeconômica até os detalhes das concessões. Um ponto em que eles insistem são as normas regulatórias. Como os investimentos em concessões são de longo prazo, os investidores fazem diversas questões a respeito da estabilidade jurídica dos países em que pretendem aportar capitais e das condições das agências de regulação.
Os encontros estão funcionando como uma espécie de feira para atrair capitais de bancos comerciais, fundos de pensão e gerenciadores de ativos. Representantes dos países apresentam as suas estratégias nas áreas de concessões e os investidores fazem comparações em busca dos melhores projetos para aportar dinheiro.
A competição por esses recursos de longo prazo está cada vez mais acirrada internacionalmente, já que os investidores estão de olho numa série de projetos ao redor do mundo que serão abertos ainda neste ano, como o programa de concessão de aeroportos no Japão e o leilão de 4G na Colômbia. O programa de concessões do Brasil pode entrar nessa lista.
Para aproximar os investidores dos países em que podem aportar capitais, o G¬20 criou, no ano passado, o Centro de Infraestrutura Global (GIC, da sigla em inglês).
O GIC funciona como uma espécie de biblioteca atualizada com informações sobre projetos de financiamento de obras ao redor do mundo, permitindo que investidores possam consultá¬la antes de decidir onde vão realizar aportes. O GIC funciona na Austrália, país que propôs a sua criação, enquanto presidia o grupo das 20 maiores economias do mundo, em 2014. Na ocasião, o grupo estimou que a demanda para obras em infraestrutura está represada em cerca de US$ 1 trilhão.
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