O pacote de concessões lançado semana passada
pela presidente Dilma Rousseff tenta equilibrar a matriz de transporte
brasileira, hoje baseada nas rodovias. Sem considerar o projeto da ferrovia
Bioceânica, ainda sem estudos, o governo promete colocar em licitação mais de 4
mil quilômetros de trilhos novos. Boa parte deles tem o objetivo de escoar a
produção de grãos do Centro-Oeste, que tem sérias limitações para transportar a
produção.
Segundo relatório publicado mês passado pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil tem o pior mix de transportes
entre os concorrentes (Austrália, Canadá, China, Rússia e Estados Unidos).
Cerca de 60% de tudo que é movimentado no País é feito por caminhões em
estradas de péssima qualidade, o que encarece o produto nacional.
“A agricultura brasileira está aumentando a
área plantada e a produtividade, mas para tirar esse produto da fazenda e
levá-lo até um porto gasta-se boa parte da competitividade conseguida”, afirma
o coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral,
Carlos Braga. Para ele, o pacote apresentado pelo governo é uma ótima notícia,
mas ainda é incapaz de reduzir o passivo do setor. “Temos uma defasagem
histórica, que não se consegue eliminar no curto prazo.”
Apesar dos esforços do governo, no entanto, ainda
falta muito para colocar as ferrovias de pé. Segundo especialistas, um dos
pontos cruciais é a definição do modelo que será usado nas concessões. Desde
2012, o governo vinha trabalhando numa nova fórmula, que separava a construção
e administração da operação. Sem o aval dos investidores, o modelo está
praticamente eliminado.
De qualquer forma, o governo terá de acelerar
essas definições para conseguir turbinar os investimentos no Brasil. “Se não
tiver um mínimo de investimentos, o País passa da recessão para a depressão”,
afirma o economista Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. Na avaliação dele,
no entanto, os efeitos práticos do programa de concessão não será imediato.
Muitos projetos ainda precisam de estudos de viabilidade econômico-financeira.
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