Empresas buscam renegociar dívida

A combinação de economia em recessão, juros altos e dólar mais caro tem levado uma série de empresas a procurar os credores para negociar um alívio em seus compromissos financeiros com bancos e no mercado de capitais. O objetivo é evitar o descumprimento de cláusulas contratuais (“covenants”) que podem, no limite, acelerar o vencimento de todas as dívidas de uma companhia.

A distribuidora de energia Light, a concessionária de rodovias Arteris, a Rumo Logística e a sucroalcooleira Tonon Bioenergia são algumas das empresas que já pediram uma trégua a seus credores. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) negocia com bancos o alongamento de sua dívida.

Executivos de bancos e advogados dizem que os processos de renegociação estão apenas começando. “A crise é real. As companhias estão com dificuldades de fechar o caixa e não acho que já chegamos ao olho do furacão”, diz Thomas Felsberg, do Felsberg Advogados. Segundo ele, a procura por assessoria jurídica para renegociação de dívidas aumentou 50% nas últimas semanas. O escritório trabalha em cerca de 30 casos.

Fontes de bancos de investimentos relatam receber mais mandatos de companhias em busca de reestruturação de dívidas ou de um perdão (“waiver”, no jargão do mercado) temporário para o descumprimento de indicadores financeiros.

A economia fraca afetou a geração de caixa das empresas, levando a um aumento da alavancagem. Com isso, muitas companhias ficaram desenquadradas ou já sabem que não vão conseguir atender as métricas previstas nos contratos.

No fim de julho, a Arteris obteve aprovação para elevar de 3,75 para 4,25 vezes a alavancagem máxima prevista em uma emissão de debêntures da companhia.

Há duas semanas, a Light anunciou negociar um “waiver” com seus três maiores bancos credores porque tinha estourado o limite de alavancagem – medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) – no segundo trimestre. O indicador ficou em 4,54 vezes, acima do teto fixado em 3,75 vezes. A violação por dois trimestres seguidos poderia deflagrar o vencimento antecipado das dívidas.

A Rumo Logística obteve consentimento dos credores da ALL, adquirida pela empresa neste ano, para aumentar o limite da relação entre a dívida líquida e o Ebitda para até 5,5 vezes. No segundo trimestre, o indicador estava em 4,97 vezes.

Já a Tonon anunciou uma renegociação com detentores de bônus, o que afetou momentaneamente sua classificação de risco.

As empresas com dívida em moeda estrangeira e com emissões locais, como debêntures, estão entre as mais expostas a uma possível quebra dos compromissos financeiros, diz Fabrizio Sasdelli, sócio do Lobo & de Rizzo Advogados. No ano, o dólar acumula alta de 36%, o que eleva o passivo das companhias.

As formas de renegociação são variadas. Para algumas, basta um “waiver” quando há desenquadramento temporário. Para outras, as conversas passam pela revisão no cronograma de pagamentos.

As renegociações de compromissos financeiros tendem a se intensificar até o fim do ano, diz Sasdelli. Isso porque, do ponto de vista contábil, uma quebra de “covenants” não negociada no mesmo exercício pode obrigar a empresa a registrar todas as dívidas no passivo circulante.
Os casos devem se concentrar em dívidas bancárias no Brasil e no exterior e em emissões locais. Renegociações de bônus externos tendem a ser mais raras porque a maior parte não tem cláusulas que limitem a alavancagem. Ajuda o fato de as companhias terem aproveitado as boas condições dos últimos anos para melhorar o perfil de seus passivos. “A gente está vendo um impacto positivo disso agora”, diz Pedro Bianchi, do Bank of America Merrill Lynch. “Mais de 70% do volume de títulos de empresas brasileiras só vencem a partir de 2020.”

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