O deputado estadual mato-grossense Romoaldo Junior (PMDB) era o líder do governo na Assembleia Legislativa em junho de 2011, quando a Casa aprovou a construção de uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), de custo então previsto de mais de R$ 1 bilhão, na cidade de Cuiabá. A obra foi incluída no plano de mobilidade urbana da cidade para a Copa do Mundo de 2014, contrariando a opinião unânime de técnicos em engenharia, que eram favoráveis à construção de um sistema de corredores de ônibus na cidade, por metade do preço da obra que foi por fim escolhida.
O sistema de transporte não ficou pronto a tempo para a Copa. Até hoje, a capital de Mato Grosso é cortada por linhas inacabadas do VLT, cuja construção chegou só até a metade, está parada desde o ano passado e já consumiu cerca de R$ 1 bilhão dos cofres estaduais. O deputado Romoaldo, então, explicou à sociedade, na semana passada, o que fez com que ele e seus pares aprovassem a construção do sistema, mesmo com aviso dos técnicos sobre a dificuldade de êxito na obra: foi “a euforia do momento”.
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“Na euforia da Copa do Mundo, o VLT parecia ser a melhor opção. Naquele momento, pareceu o melhor investimento, o mais moderno. A Assembleia errou? Se errou, foi tentando acertar”, disse o deputado, em entrevista coletiva na Assembleia Legislativa.
A obra do VLT foi contratada pelo então governador Silval Barbosa (PMDB), que ignorou os conselhos dos técnicos de seu próprio governo, como o engenheiro Yênes Magalhães, ex-secretário de Transporte de Cuiabá. Barbosa encontra-se atualmente preso. Está na cadeia desde o dia 15 de setembro graças a uma investigação da Polícia Federal que descobriu um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em seu governo.
O atual governador, Pedro Taques (PSDB), interrompeu o contrato da obra, cujo consórcio vencedor da licitação já era conhecido um mês antes da abertura dos envelopes, assim que assumiu o cargo, no início deste ano. Ele contratou uma consultoria para apurar todas as irregularidades e problemas do projeto e afirmou estar diante de nada menos do que “o maior escândalo da história de Mato Grosso”.
Agora, tenta viabilizar uma forma de concluir a empreitada, cujos trilhos e canteiros cortam boa parte da cidade de Cuiabá, sem onerar ainda mais os cofres do Estado.
Então, o deputado Romoaldo Junior, cuja “euforia de momento” levou com que fosse um dos responsáveis pela construção do VLT (a segunda obra de mobilidade mais cara da Copa), quer, agora, ajudar o governo a solucionar este “pepino bilionário”. “Acho que, se nós fomos corresponsáveis na aprovação da mudança do modal de transporte, temos que ajudar o governador. Ajudá-lo a encontrar uma solução para esta obra, que é importante para a capital”.
A obra do VLT e suas irregularidades são atualmente investigadas pelo Ministério Público Federal e pela promotoria estadual de Mato Grosso. A Assembleia Legislativa, por sua vez, também quis ajudar nesta parte criminal. Para tanto, criou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar os eventuais atos ilícitos. O presidente da comissão, deputado Oscar Bezerra (PSB), então, contratou uma auditoria para analisar o contrato e planilhas desta e de outras obras inacabadas da Copa de 2014. O único problema foi que ele contratou uma empresa fantasma, que nunca tinha faturado nenhum contrato.
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