A BHP Billiton vai reavaliar suas joint-ventures com o objetivo de “endurecer” as providências adotadas nas minas onde não tem uma administração direta. A decisão foi tomada após o acidente no projeto brasileiro de minério de ferro.
A mineradora anglo-australiana detém 50% da Samarco, a operadora brasileira da mina cuja barragem de rejeitos se rompeu, alagando com os detritos uma cidade próxima e deixando 600 desabrigados. A Vale é a outra acionista.
BHP, a maior mineradora mundial por capitalização de mercado, é reconhecida por ter se tornado uma operadora segura e eficiente de suas minas, e administra a maioria dos projetos de mineração em que investiu.
No entanto, a Samarco se organizou como uma empresa operada separadamente, em que a BHP e a Vale têm representação no conselho, mas não supervisão de direção no dia a dia.
Respondendo a perguntas formuladas numa teleconferência com investidores e analistas realizada ontem, Andrew Mackenzie, o principal executivo da BHP, disse que o grupo está apurando se a governança deveria ou não mudar nas joint-ventures não operadas diretamente pela empresa, como a Samarco.
A companhia tem dois outros projetos de mineração estabelecidos como empresas autônomas. Na mina colombiana de Cerrejón, a BHP, a Anglo American e a Glencore detêm um terço do capital cada uma. Na mina de cobre de Antamina, no Peru, a Teck e a Mitsubishi são acionistas ao lado da BHP e da Glencore.
“Esse é o tipo de medida que precisamos reavaliar e temos reavaliado, para ser sincero, para decidir não apenas sobre as perspectivas dos nossos acionistas como também dos acionistas das companhias que são parceiras dessa joint-venture”, disse Mackenzie.
A BHP detém participações não operacionais em projetos de petróleo e gás, mas estes, normalmente, estão sob controle operacional de uma das sócias.
O principal executivo da companhia sugeriu que a BHP vai verificar “se um modelo mais semelhante ao do petróleo poderia ser mais adequado no futuro” para os empreendimentos de mineração que não opera diretamente.
“Já faz algum tempo que a BHP pensa em suas joint-ventures e no risco que originam”, disse James Gurry, analista do Credit Suisse. “Em alguns casos há providências de governança que poderiam ter sido apropriadas para as décadas de 1980 ou 1990, quando foram adotadas, mas que não são próprias para os dias atuais, em que há potencialmente mais risco e maior obrigação de responsabilidade no ambiente operacional de hoje, e em que algumas mineradoras já pensavam em reduzir ou aumentar suas participações em algumas dessas joint-ventures.”
Prevê-se que as operações da Samarco permanecerão paralisadas por vários anos após o acidente, que também arrastou por muitas centenas de quilômetros, rio abaixo, uma torrente de rejeitos de mineração.
Mackenzie disse que a BHP está ansiosa pela retomada das atividades no projeto. “Não somos a única parte interessada nisso… há um grande número de postos de trabalho em jogo no caso”, afirmou.
“Temos, sem dúvida, uma mina potencialmente viável, desde que possamos encontrar uma forma de processar corretamente os rejeitos da produção e de torná-los seguros”, disse o executivo.
A mineradora deverá realizar a assembleia anual de seus acionistas australianos nesta semana, quando os investidores deverão formular mais perguntas sobre os custos do acidente. A BHP não forneceu qualquer estimativa dos custos de recuperação ou das providências de seguro.
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