Samarco poderá operar sem barragem

A Samarco tem opções para voltar a operar que dispensam o depósito de rejeitos em barragens, embora hoje qualquer decisão sobre a retomada de produção da empresa dependa de uma ampla discussão com a sociedade civil e com o poder público. “Se não conseguirmos reerguer as comunidades e mostrar que há um plano possível de recuperação do rio Doce, não conseguiremos obter junto à sociedade as licenças para voltar a operar a Samarco”, disse ontem o diretor-executivo de finanças da Vale, Luciano Siani Pires, em teleconferência com investidores.

Ficou claro que, do ponto de vista técnico, a Samarco tem a alternativa de retomar a produção jogando os rejeitos na cava (buraco) de Germano, mina exaurida da companhia, em Minas Gerais. Embora o rompimento das barragens tenha comprometido a captação de água e a deposição de rejeitos, os demais ativos da Samarco ficaram intactos: minas, minerodutos, pelotizadoras e porto. “O obstáculo para voltar a operar é mais na discussão com a sociedade do que relacionada com meios técnicos”, disse Siani. Afirmou que o foco inclui reacomodar as pessoas afetadas, assegurar a estabilidade da barragem de Germano e tornar a água do rio Doce tratável, além assegurar o abastecimento de água.

A Vale fez a teleconferência para esclarecer informações aos investidores. Entre o dia 4 deste mês, véspera do rompimento das barragens, e ontem as ações preferenciais da empresa (PNA) caíram 11,22% na BM&FBovespa, fechando a R$ 12,50. Já as ações da BHP Billiton na Bolsa de Londres recuaram 17,93% no período, cotadas ontem 8,78 libras por ação. Houve questionamentos, depois do desastre, na quinta, 5, em relação às responsabilidades de Vale e BHP como sócias da Samarco.

Na teleconferência, Siani foi perguntado sobre a influência da Vale na Samarco e sobre a política de governança corporativa da controlada. “Há independência completa [da Samarco na gestão] e a atuação da Vale se dá via conselho de administração, estabelecendo diretrizes”, disse Siani. Ele afirmou que existem legislações sobre direito da concorrência que proíbem interferência direta na gestão. “O acordo de acionistas é claro quanto à independência de gestão da Samarco.” Disse que a Vale, assim como a BHP, vai dar todo o apoio necessário para que a controlada possa se reerguer e voltar a operar “desde que a sociedade entenda que assim deve ser.”

Um analista perguntou sobre possíveis efeitos da Samarco para a Vale. “Nosso entendimento é que não há responsabilidade solidária pela Vale, mas vamos procurar apoiar a Samarco e as comunidades de forma pró-ativa e humana e só estaremos satisfeitos quando houver recomposição plena do status anterior ao acidente”.

Do ponto de vista estritamente operacional, a Samarco teria condições de voltar a funcionar antes da conclusão final das medidas de remediação das áreas atingidas pelos rejeitos das barragens. Os trabalhos de remediação ambiental, incluindo o rio Doce, devem levar anos. A Samarco contratou especialistas estrangeiros para avaliar medidas de mitigação dos estragos causados ao rio Doce, disse Siani. Ele admitiu, no entanto, que o seguro da Samarco na área de responsabilidade civil não é suficiente para cobrir ao menos a multa de R$ 250 milhões aplicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já a apólice patrimonial inclui um valor “expressivo”, disse Siani.

Ele disse que a Samarco, no aspecto operacional, tem condições de gerar caixa com venda de energia e de serviços. Esse caixa seria equivalente aos custos fixos da empresa operando em um regime “otimizado” por um período razoável de tempo. O vencimento da dívida parece não preocupar a curto prazo. “O serviço da dívida não é expressivo até 2018”, disse Siano. A incógnita para o seu futuro concentra-se, portanto, nas multas e indenizações. A empresa também precisará conseguir as licenças para voltar a operar. Classificou como “remota” a possibilidade de a Samarco operar as pelotizadoras em Ubu (ES) a partir de finos de minério de ferro fornecidos pela Vale. Há dificuldades logísticas nessa operação. “É difícil operar as pelotizadoras sem operar a mina.”

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