Mitsui avalia rever acordo com Vale em projeto de carvão na África

A japonesa Mitsui poderá rever os termos de um acordo assinado com a Vale, em 2014, para tornar-se sócia da brasileira em um projeto de carvão em Moçambique, na África subsaariana. Essa possibilidade surge como resultado da baixa contábil de US$ 2,4 bilhões (R$ 9,3 bilhões) feita pela Vale nos ativos da empresa em Moçambique em 2015. A redução pela metade do valor recuperável desses ativos tende a levar os japoneses a revisar pontos, enquanto o acordo não está oficialmente concluído. Passado mais de um ano do anúncio da parceria, nem a Mitsui nem um grupo de bancos multilaterais liderados pelo JBIC aportaram os recursos para o projeto.

O acordo assinado entre Vale e Mitsui previu que os japoneses investissem, no total, US$ 1 bilhão no projeto da Vale em Moçambique, com base em números do fim de 2014. O montante incluía a compra de 15% na mina de carvão de Moatize e a aquisição de 50% da participação da Vale no Corredor Nacala, estrutura logística formada por ferrovia de 700 quilômetros e por um porto no Oceano Índico. A Mitsui também se comprometeu a reembolsar a Vale por investimentos feitos na mina e na ferrovia retroativos a junho de 2014.

O acordo previu ainda a contratação de um “project finance” que poderia chegar até US$ 2,7 bilhões. Nessa modalidade, a receita gerada pelo empreendimento garante a dívida com os bancos. Fonte disse que a Vale estaria próxima de fechar o “project finance” com um grupo de bancos liderado pelo JBIC e que também conta com a participação da IFC, braço do Banco Mundial (Bird) para o setor privado, e do African Development Bank (ADB), entre outros.

Não está claro qual poderá ser agora o valor final da operação. Segundo analistas, o aporte da Mitsui tende a ser um pouco menor enquanto o valor do project finance poderia ficar no patamar de US$ 2 bilhões. O Valor enviou e-mail à Mitsui no Japão perguntando sobre a revisão do acordo, mas não recebeu resposta. Analista disse que a demora no fechamento da operação em Moçambique pode estar relacionada à precificação do acordo com a Mitsui. A Mitsui é sócia da Valepar, acionista controladora da Vale. Na Valepar, a Mitsui tem 18,24% de participação, segundo dados da mineradora.

Os investidores da Vale têm se mostrado impacientes com os sucessivos adiamentos no fechamento da operação. Ao mesmo tempo, analistas questionam por que a Vale não fecha Moatize e a Vale Nova Caledônia (VNC), operação de níquel na Oceania. As duas operações geraram juntas prejuízo de quase US$ 1 bilhão em 2015. As operações em Moçambique registraram lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) negativo de US$ 508 milhões. Na VNC, o Ebitda negativo superou US$ 400 milhões.

Um eventual encerramento dessas operações, como defende parte do mercado, permitiria à Vale preservar caixa em um dos momentos mais difíceis da história da companhia. Mas a economia não seria idêntica ao prejuízo registrado por essas duas operações no ano passado, uma vez que a suspensão das atividades embute custos, como gastos com manutenção.

A Vale considera que não faz sentido fechar Moatize, mina que ganhou em licitação. Mesmo com as operações em Moçambique dando prejuízo até 2019, a empresa acredita que em alguns anos o projeto vai garantir melhores condições competitivas na exportação de carvão, com custos menores. A previsão é produzir 10 milhões de toneladas de carvão no país este ano e 18 milhões em 2019. Na VNC, um possível fechamento da operação parece estar amadurecendo dentro da mineradora.

Essa situação deixa claro que a Vale avalia os dois ativos (Moçambique e VNC) de forma diferente. Na VNC, a mineradora não tem conseguido fazer crescer a produção, enquanto que em Moatize aposta em uma visão de longo prazo para o projeto. “Não faz sentido para a Vale hoje fechar Moatize”, disse uma fonte. Para alguns analistas, o fechamento implica tomar decisões difíceis, inclusive na esfera política junto aos governos locais (Moçambique e Nova Caledônia, um arquipélago da Oceania). Há ainda custos para encerrar as atividades. Em Moçambique, por exemplo, há contratos logísticos com terceiros que teriam de ser encerrados se Moatize parasse de produzir temporariamente.

A demora no fechamento da operação em Moçambique pode, porém, ser compensada neste momento pela recuperação nos preços do minério de ferro no primeiro trimestre. O preço médio do minério de ferro com 62% de teor de ferro no mercado à vista da China situa-se próximo de US$ 50 por tonelada de janeiro até agora. Mesmo que o preço caía a US$ 40 nos próximos meses, a Vale conseguiria fechar 2016 com um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) na casa dos US$ 7 bilhões, acima das projeções de boa parte dos bancos.

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