O primeiro trimestre pode ter reservado uma surpresa positiva para o balanço da Vale, que enfrenta uma forte desvalorização de seu principal produto no mercado internacional, o minério de ferro. Com o enfraquecimento do real ante o dólar, é bem provável que a companhia consiga registrar alta em sua receita, na comparação com o mesmo período do ano passado, contabilizada em moeda brasileira. O crescimento só da área de finos de minério, responsável por mais da metade do faturamento, seria de no mínimo 8%.
A cotação média da commodity foi de US$ 48 por tonelada entre janeiro e março, segundo a principal referência do mercado (62% de ferro negociado no porto chinês de Tianjin). Esse nível significa queda de 21,9% frente aos mesmos meses de 2015. Mas como o dólar médio subiu 34% sobre as mesmas bases, na verdade em reais o insumo registrou avanço de 6,3%, para R$ 187,62. Ante o quarto trimestre, o ganho seria de 5,7%.
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De abril a dezembro do ano passado, as vendas de finos de minério atenderam por ao menos 58% da receita da Vale em reais. Além disso, em 2014 e 2015, o preço praticado pela empresa na comercialização do insumo foi, na média, 18,5% descontado em relação ao mercado à vista na China. A mineradora ainda projeta que vai produzir de 340 milhões a 350 milhões de toneladas neste ano, sendo que desde 2014 cerca de 81% dos volumes traduziram-se em vendas. Além disso, cerca de 21% das vendas concentram-se no primeiro trimestre.
Com isso, a empresa pode vender cerca de 60 milhões de toneladas, 2% a mais do que nos três primeiros meses do ano passado. Com o desconto recente de 18,5% para o preço realizado da Vale, em relação à referência, o que levaria a média em reais do trimestre para R$ 153,85, a receita desse segmento chegaria a R$ 9,3 bilhões, alta de 18,6% na comparação anual. Se for levado em conta o valor 25% menor do que o mercado à vista chinês, observado nos primeiros trimestres de 2014 e 2015, o faturamento teria potencial para atingir os R$ 8,5 bilhões, crescimento de 8,5%.
A Vale, entretanto, utiliza um sistema de precificação para seu minério que leva em conta preços passados, previsões de preços e a referência de mercado já citada. No quarto trimestre de 2015, 42% do valor de venda veio de preços provisórios, 47% das correntes e 11% de cotações defasadas. De acordo com a companhia, a projeção na época, que referendou 42% do preço realizado que era provisório, era de US$ 41, em média. A média de cotação da commodity fechou os três meses 17% acima dessa previsão.
Isso significa que o benefício da mineradora pelo repique da commodity e também pelo câmbio pode ser ainda maior do que preliminarmente os números sugerem. De qualquer maneira, mesmo no cenário mais conservador, de que a receita com finos subiria apenas 8,5%, mantendo-se estáveis os ganhos com as outras atividades – pelotas, carvão, metais não ferrosos, fertilizantes e outros -, a receita líquida da Vale avançaria pelo menos 4% em comparação anual. Os preços em reais dos metais e do carvão, contudo, também subiram, por exemplo.
O Valor consultou 12 bancos sobre estimativas para o balanço da companhia no primeiro trimestre, mas apenas o Grupo Bursátil Mexicano (GBM) apresentou seus números. O restante estava com cobertura restrita, ainda não calculou as prévias ou simplesmente não as divulga.
Para o período entre janeiro e março, Rodrigo Garcilazo, analista do GBM, espera receita líquida de US$ 5,61 bilhões para a mineradora. Sob efeito do câmbio médio, a cifra se tornaria R$ 21,93 bilhões, aumento de 19,4%.
Considerando a comparação anual, desde o terceiro trimestre a receita não sobe. Analisando apenas os primeiros trimestres, a última alta foi entre janeiro e março de 2014. O levantamento de dados do Valor, contudo, não representa projeção de resultados.
Procurada, a Vale disse que não comenta seus resultados antes da divulgação de balanços. A companhia também negou que os descontos do preço realizado frente à referência do mercado sejam recorrentes.
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