O grupo alemão ThyssenKrupp e a Vale anunciam amanhã, ou no mais tardar até o fim da semana, o divórcio na sociedade que as duas empresas têm na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA). A separação visa das acionistas criar alternativas futuras para a produtora de placas de aço localizada no Rio de Janeiro, que opera no vermelho desde que iniciou suas atividades em junho de 2010.
Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a inciativa da dissolução da parceria partiu da ThyssenKrupp, que é quem tem garantido capital de giro para a sobrevivência financeira da CSA ao longo dos últimos anos. Todavia, conforme o acordo, a Vale sai do capital da siderúrgica mantendo algumas garantias, caso da exclusividade de fornecimento de minério de ferro e pelotas, cujo contrato em vigor tem prazo até 2024.
A mineradora pode entregar até 8 milhões de toneladas ao ano da matéria-prima com a CSA operando à plena capacidade de produção anual de 5 milhões de toneladas. Para 2016, mantido o atual ritmo de produção de 4,4 milhões de toneladas de placas, o volume de minério escoado de Minas Gerais para pátios da CSA, no distrito de Santa Cruz, deve alcançar 7 milhões de toneladas.
Para a Vale, disse uma fonte, o que mais importa é ter garantida uma cliente importante aqui mesmo no Brasil. Foi esse o motivo que a levou a estimular o projeto de instalação da CSA, em 2005, assumindo 10% do capital da siderúrgica. Com a crise mundial de 2008/2009, aliada ao encarecimento do projeto, no fim de 2009 a mineradora teve de aportar mais capital para que sua obra pudesse ser concluída e a empresa iniciasse produção. Colocou US$ 1,44 bilhão.
Assim, a Vale ampliou sua participação acionária para 26,87% na empresa, enquanto a da ThyssenKrupp baixou para 73,13%.
A CSA, o mais moderno complexo de produção de aço no Brasil – com porto próprio para recebimento de carvão e embarque de aço e uma termelétrica de 490 MW – sofreu uma série de transtornos. O projeto atrasou alguns anos, estourou o orçamento, atingindo US$ 10 bilhões, e enfrentou problemas operacionais no início, além de ter gerado impactos ambientais no entorno da usina.
Somente depois de quatro ou cinco anos, desde meados de 2010, quando iniciou a operação com metade da capacidade, foi que a empresa conseguiu atingir níveis operacionais satisfatórios. Ainda cumpre termos de ajuste de conduta com os órgãos ambientais do Rio. Mas já produz a níveis elevados de ocupação da capacidade – quase 95% -, diferentemente do que ocorre no mundo e no Brasil. Os níveis variam de 60% a 70%.
No último trimestre do ano passado, a CSA fabricou 1,11 milhão de toneladas de placas – volume recorde. Pode ter repetido ou superado esse volume de janeiro a março. A maior parte é exportada para América do Norte, Europa e países asiáticos, além de vendas no Brasil para Usiminas e CSN, que desligaram altos-fornos.
Mas, a CSA continua a operar com resultado operacional negativo e não há perspectivas no médio prazo de reversão desse desempenho, dada a crise mundial da indústria do aço, concorrência da China e depressão dos preços. Em 2015, com vendas de 4 milhões de toneladas de placas, a CSA obteve receita de € 1,77 bilhão e gerou um Ebit (lucro antes de juros e impostos) negativo em € 138 milhões. Conforme o balanço publicado no Brasil, o ano fiscal encerrado em 30 de setembro trouxe prejuízo R$ 1,02 bilhão, quase o dobro de 2014.
A siderúrgica, pivô de profundas mudanças na gestão do grupo ThyssenKrupp no fim de 2011, com a chegada do CEO Henrich Hiesinger, tinha prejuízos acumulados de R$ 17,1 bilhões até o fim de setembro. Na mesma data tinha uma dívida de empréstimos e financiamentos total de R$ 12,1 bilhões, sendo R$ 1,06 bilhão no curto prazo. Grande parte desse montante é com o próprio grupo alemão, na forma de mútuos. O BNDES também é credor da CSA.
Hiesinger chegou com a missão pôr à venda a divisão de aço Américas, que abrangia a siderúrgica e uma laminadora no Alabama, EUA. Devido ao perfil financeiro das empresas e às condições do mercado, só conseguiu vender a unidade americana, no fim de 2014, que ficou com consórcio ArcelorMittal – Nippon Steel.
Agora, o CEO busca outras saídas para a CSA, dentro de nova onda de consolidação do setor. Uma delas, conforme apurou o Valor, pode ser uma fusão de ativos, unindo a CSA a um fabricante no exterior, por exemplo dos EUA, que ganharia um fornecedor mais moderno da matéria-prima (placa). Com isso, em outras bases, o projeto original de unidade integradas do grupo seria ressuscitado.
A permanência da Vale no capital da CSA dificultaria a operação. E o negócio, unicamente como produtora de placas, não se mostra financeiramente sustentável.
Thyssen e Vale informaram que não comentariam o assunto.
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