Em meio a um cenário de desaceleração da economia, que caminha para o segundo ano consecutivo de retração, a americana Cargill, uma das maiores empresas de capital fechado do mundo, planeja forte expansão no Brasil. Impulsionada pelo complexo soja (grão, óleo e farelo), que deve movimentar cerca de R$ 174 bilhões este ano, a trading prevê investimentos de, no mínimo, R$ 600 milhões neste ano, sobretudo em infraestrutura portuária.
O apetite do grupo, que saltou da sexta maior exportadora do País em 2014 para a quarta posição no ano passado, encostando na sua principal concorrente, a Bunge, terceira no ranking, tem o respaldo da matriz americana – o Brasil é o maior exportador global de grãos e é considerado estratégico para a Cargill. “O grupo está no Brasil há 51 anos e todo investimento aqui é de longo prazo. O País é prioridade”, diz Luiz Pretti, presidente da companhia no Brasil, que faturou R$ 32,1 bilhões em 2015.
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Um dos poucos setores imunes à crise, o agronegócio brasileiro da “porteira para dentro” é referência mundial em custos e eficiência, mas os desafios logísticos para escoar a produção a partir da região Centro-Oeste para o Norte ou para o Sul e Sudeste do País são grandes.
O grupo, que movimentou 28 milhões de toneladas em grãos no ano passado, deve desembolsar R$ 160 milhões no Terminal de Exportação de Santos (TES) – consórcio vencedor do leilão realizado no ano passado no maior complexo portuário da América Latina. A Cargill tem 40% da empresa, e sua parceira, a Louis Dreyfus Commodities (LDC), 60%.
Também na mesma região, a trading vai colocar R$ 18,5 milhões no Terminal de Exportação de Açúcar do Guarujá (Teag), em sociedade com a Biosev, controlada pela LDC. O investimento mais pesado, cerca de R$ 350 milhões, será no terminal da Cargill em Paranaguá (PR), que ainda aguarda aprovação da Secretaria Especial dos Portos.
Desafio. A companhia deverá concluir ainda nos próximos meses a ampliação do seu terminal em Santarém, no Pará. No mesmo Estado, está em construção a Estação de Transbordo de Cargas (ETC), que terá capacidade de transporte para até 3,5 milhões de toneladas de cargas por ano em transbordo de caminhões para barcaças.
É no Norte do País onde se concentra o maior desafio logístico. Para o Sul e Sudeste, o transporte de grãos é feito pela malha da Rumo ALL. “A grande dificuldade é escoar a produção de grãos lá de cima”, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, um dos maiores especialistas em agronegócio do País. “A saída seria a Ferrogrão.”
Esse é um projeto ambicioso, do qual a Cargill e suas rivais Bunge, LDC e Amaggi, juntamente com a empresa de estruturação de negócios EDLP, entregaram no ano passado proposta de interesse para a construção do trecho de 930 km ligando os municípios de Sinop, em Mato Grosso, e Miritituba, no Pará. O estudo avalia que o investimento necessário para colocar o projeto nos trilhos é de R$ 12,5 bilhões (boa parte financiada pelo BNDES).
“A expectativa é de que esse projeto seja destravado a partir de uma eventual mudança de governo”, diz Mendonça de Barros. Pretti prefere não fazer previsões. Apesar do forte interesse na Ferrogrão, diz que, se o projeto realmente sair do papel e o consórcio do qual faz parte for o escolhido, a Cargill vai avaliar “se e como deverá participar dessa empreitada. ”
Saída. Em menor escala, a busca de saída pela região Norte também é objeto de interesse da nacional Caramuru, de César Borges de Souza. O grupo já está investindo cerca de R$ 50 milhões para levar sua produção de grãos em Sorriso (MT) ao Pará.
O projeto em andamento é a construção de uma unidade de transbordo em Itaiatuba (PA) e outro no porto de Santana, no Amapá. A companhia, maior usuária do transporte de cargas por hidrovias pelo trecho Tietê-Paraná, foi abatida pela crise hídrica em 2014.
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