Os metroviários de São Paulo, que ameaçam promover uma nova greve nesta quarta-feira (1º), obtiveram reajuste acima da inflação em nove dos últimos dez anos. O ano de 2010 foi a única exceção, quando os trabalhadores do Metrô conseguiram somente a reposição do índice inflacionário.
É o que mostra levantamento feito pela Folha durante mais uma negociação salarial entre a empresa e representantes da categoria, que terão nova audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho na tarde desta terça-feira (31).
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
A primeira tentativa de acordo perante a Justiça, na semana passada, não foi bem-sucedida. O Metrô ofereceu 7,5% de reajuste nos salários, abaixo da inflação do período, enquanto os trabalhadores pediam 10,82% de recomposição, acrescido de 6,59% de aumento real. O piso salarial da categoria é de R$ 1.891,25.
Nesta segunda-feira (30), o Metrô elevou sua proposta e ofereceu o reajuste da inflação segundo o IPC-Fipe, de 10,03%, parcelado em duas vezes, extensivo a todos os benefícios. “Com isso, a empresa espera chegar a um acordo com o Sindicato dos Metroviários que evite prejuízos aos milhões de usuários do sistema e à população de São Paulo”, diz a empresa.
Representantes dos trabalhadores, contudo, já indicaram que a proposta não é suficiente. Caso o impasse continue, a paralisação de 24 horas começa a 0h de quarta.
Nos últimos dez anos, os funcionários do Metrô promoveram cinco greves que levaram a cidade a suspender o rodízio de veículos: em agosto de 2006, em junho e agosto de 2007, em maio de 2012 e em junho de 2014 –uma semana antes da abertura da Copa em São Paulo.
Em todas essas paralisações, os metroviários conseguiram obter mais do que a reposição da inflação medida pelo IPC/Fipe. Em nota, o Metrô diz que “sempre empenhou todos os esforços para atender da melhor maneira possível aos pleitos de seus funcionários”.
A empresa afirma que, neste ano, “continua buscando a melhor alternativa econômica que, ao mesmo tempo, atenda aos trabalhadores e seja suportada pela companhia para não comprometer seu equilíbrio financeiro”.
A situação econômica da companhia tem se deteriorado recentemente. No ano passado, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) deu um calote de R$ 66 milhões na empresa, um dinheiro que seria usado para cobrir os custos da política de gratuidades no transporte. Haverá novo corte nos repasses neste ano.
Outro calote do governo paulista ao Metrô, este de R$ 333 milhões, ocorreu para pagar obrigações contratuais com a operadora privada da linha 4-amarela. Sem essas verbas, a companhia é forçada a cortar custos e abrir mão de investimentos e de melhorias no serviço que presta à população e no quadro de funcionários.
Alex Fernandes, secretário-geral do Sindicato dos Metroviários, diz que o salário não é o eixo principal das reivindicações: “O mais importante para nós é ter melhores condições de trabalho, mais contratações de funcionários e não haver aumento do preço da tarifa”.
Fernandes também questiona o levantamento da Folha: “É preciso considerar que nossa reivindicação é sempre segundo o índice feito pelo Dieese, não pela Fipe. Nessa conta, nós nunca conseguimos ter o reajuste que pleiteamos”.
O secretário-geral do sindicato diz ainda que a categoria estaria disposta a trabalhar no dia proposto para a greve, desde que o Metrô aceite manter catracas abertas para a população. O Metrô tem cerca de 9.500 funcionários, sendo que dois terços deles estão diretamente envolvidos na operação dos trens e estações.
Seja o primeiro a comentar