A Vale deverá garantir uma boa performance no segundo
trimestre do ano como resultado direto da alta de 14% no período nos preços do
minério de ferro no mercado à vista da China. A valorização do real fará,
porém, a mineradora registrar aumento de custos em suas operações de abril a
junho, segundo projeções de mercado. Os resultados da Vale no segundo trimestre
serão conhecidos amanhã antes da abertura do mercado.
Consenso de sete bancos e corretoras elaborado pelo Valor
indica que a mineradora fechou o segundo trimestre do ano com receita média US$
6,5 bilhões, queda de 6,2% sobre igual período do ano passado. O lucro antes de
juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em US$ 2,25 bilhões,
também na média dos sete bancos, alta de 1,8% sobre o mesmo período de 2015. A
estimativa das instituições aponta ainda para lucro de US$ 1,9 bilhão entre
abril e junho, aumento de 14% sobre o mesmo período do ano passado.
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Apesar de no segundo trimestre do ano, o minério de ferro,
principal produto da Vale, ter registrado alta de 14% no mercado à vista da
China, a mineradora não deverá incorporar todo esse aumento nos preços
realizados no período. A razão está na sistemática de preços praticada pela
Vale, composta por diversas fórmulas, uma delas de preços provisórios que
sofrem ajustes. A previsão de preços realizados menores no minério de ferro
considera também custos mais altos para os fretes marítimos, indicou em
relatório o J.P. Morgan.
O banco projetou receita de US$ 6,6 bilhões, Ebitda de US$
2,17 bilhões e lucro líquido de US$ 2,8 bilhões para a Vale no segundo
trimestre. Os resultados melhores, em relação ao primeiro trimestre, serão
determinados também pelo aumento nos volumes de minério de ferro, níquel e
cobre produzidos pela Vale. O segundo trimestre sempre costuma ser melhor por
razões sazonais do que o começo do ano. Esse aumento nos volumes vai mais do
que compensar o efeito negativo da valorização do real no segundo trimestre
sobre os custos da empresa, disse o J.P. Morgan.
A Vale tem grande parte de seus custos em reais, embora sua
receita seja em dólares. A valorização da moeda brasileira tende, portanto, a
aumentar os custos em dólares. A valorização do real frente ao dólar foi de
12,01% no segundo trimestre, segundo o Valor Data. Em relatório, o banco Credit
Suisse disse esperar um aumento no custo caixa do minério de ferro reportado
pela Vale no segundo trimestre. “Esperamos aumento de US$ 1,5 por tonelada
no custo caixa [do minério de ferro] colocado na China, apesar de uma qualidade
média mais alta”, disse o Credit Suisse.
O banco projetou receita de US$ 6,62 bilhões, Ebitda de US$
2,32 bilhões e lucro líquido de US$ 1,88 bilhão para a Vale no segundo
trimestre. O Credit Suisse acredita que a mineradora continua no caminho de
entregar uma redução de US$ 10 bilhões em sua dívida. O banco considera a
possibilidade de US$ 3 bilhões entrarem no caixa da Vale como resultado da
conclusão do acordo no negócio de carvão em Moçambique, na África. Mas
considera que há riscos de novos atrasos no fechamento da transação.
A corretora Itaú BBA também disse esperar aumento nos custos
do minério da Vale no segundo trimestre depois de cinco trimestres consecutivos
de declínio como resultado, justamente, de um aumento das taxas de frete
marítimo decorrente de maiores cotações no bunker (o combustível de navegação).
A Itaú BBA previu que a Vale possa anunciar um preço de realização de US$ 48,1
por tonelada para o minério de ferro, acima dos US$ 46,5 por tonelada do
primeiro trimestre do ano. A corretora estimou receita de US$ 6,47 bilhões,
Ebitda de US$ 2,3 bilhões e lucro líquido de US$ 1,8 bilhão para a Vale, no
segundo trimestre do ano.
O Grupo Bursátil Mexicano (GBM) considerou que a Vale deve
reportar uma performance “decente” no segundo trimestre, ajudada mais
uma vez pela recuperação nos preços do minério de ferro. O GBM previu receitas
de US$ 6,1 bilhões, Ebitda de US$ 2,15 bilhões e lucro de US$ 2,59 bilhões para
a Vale no segundo trimestre do ano. O Morgan Stanley previu números parecidos:
receita de US$ 6,46 bilhões, Ebitda de US$ 2,19 bilhões e lucro líquido de US$
851 milhões. O consenso elaborado pelo Valor incluiu ainda duas instituições
bancárias que preferiram não ser identificadas.
Liminar pode sustar
plano de limitação de idade
A gestão da Vale volta a ser alvo de discussão por
acionistas da mineradora. Minoritários preparam pelo menos dois pedidos de
ações liminares com objetivo de suspender uma proposta da empresa que pretende
limitar a 65 anos a idade dos membros da sua diretoria executiva. O tema está
previsto para ser votado na assembleia geral extraordinária (AGE) de acionistas
marcada para 12 de agosto.
No caso de ser aprovada, a mudança será acrescentada ao
estatuto social da Vale como 4º parágrafo do artigo 26 do documento que rege a
vida da companhia, conforme antecipou o Valor PRO, serviço em tempo real do
Valor, no meio da tarde de ontem. A limitação de idade para os cargos
executivos da mineradora gerou vários questionamentos de acionistas incomodados.
O advogado Fernando Amante Chidiquimo, de São Paulo, que
representa um grupo de pequenos acionistas – pessoas físicas e ex-empregados da
companhia -, diz que a decisão é discriminatória e impede que potenciais
executivos nessa faixa de idade, com capacitação de dirigir a empresa. “É
uma tentativa política de preterir candidatos em plenas condições de vir a
ocupar cargos de presidente da mineradora”, afirma.
Chidiquimo já se prepara para entrar na Justiça do Rio com
um pedido de tutela antecipada em caráter antecedente com o objetivo de
“garantir as mais justas e transparentes condições de concorrência na
próxima AGE da Vale”, que vai ocorrer na sede da companhia, no Rio, daqui
a 15 dias.
Outra ação, de outro advogado, representando um fundo de
investimento, pede que a Justiça defira liminarmente medida de urgência para
suspender o item das deliberações da AGE da Vale, com suspensão da discussão e
votação para tratar da limitação de idade ao exercício do cargo de membro da
diretoria Executiva da Vale. E pede ainda “ordem judicial” para que o
presidente do conselho da Vale [Gueitiro Matsuo Genso, presidente da Previ]
“abstenha-se de incluir na referida assembleia o referido item”.
Trecho da petição aponta que no Brasil “são muitas as
figuras empresariais que continuam na ativa após esta idade, tanto que das 59
companhias atualmente integrantes do Ibovespa apenas 5 companhias têm regra de
aposentadoria compulsória: a própria BM&Bovespa, Bradesco, Itau Unibanco,
Itaúsa e Porto Seguro “. As três últimas são do grupo Itaú.
O autor alega que cerca de 10% apenas das companhias do
Ibovespa têm limitação de idade para seus diretores. Aponta que Banco do
Brasil, Petrobras, Embraer, AmBev e JBS, por exemplo, não têm limitação de
idade. De destaca que nas diretorias dos controladores brasileiros da
mineradora (Bradespar, Fundos de Pensão, BNDES e outros) não existe a regra que
se pretende adotar agora na Vale.
O Valor apurou com fontes próximas dos acionistas que a
proposta de limitação de idade visa, na verdade, formalizar uma decisão tomada
pelos acionistas por volta de 2012/2013, fruto de sugestão do presidente da
companhia, Murilo Ferreira. A medida, que teria sido acatada em consenso pelos
acionistas da Valepar – holding controladora da Vale que abriga fundos de pensão
liderados pela Previ, Bradesco, Mitsui e BNDES -, definiu um processo de
aposentadoria compulsória de executivos aos 65 anos.
A alegação era que a regra seguia prática comum em outras
empresas, como Petrobras e Rio Tinto, evitando assim permanência longa em
cargos de direção. O antecessor, Roger Agnelli, ficou na presidência por dez
anos.
Em razão disso, José Carlos Martins, que era diretor
-executivo de ferrosos e estratégia – e nome cotado no mercado como potencial
candidato a ser presidente da Vale – teve de deixar a companhia no ano passado
ao fazer 65 anos. O mesmo ocorreu com Roberto Castello Branco, diretor de
relações com investidores e bem próximo de Ferreira. É o que está previsto
também para Galib Chaim, diretor-executivo de projetos, também próximo, mas que
fará 65 anos no final deste mês.
O argumento no conselho de administração da Vale é que a
regra torna o processo sucessório mais previsível e planejado, permitindo saber
com talentos internos pode contar ou que perfis podem ser buscados no mercado.
A informação é que foi feito uma comparação com várias companhias.
Ferreira, presidente da Vale desde maio de 2011, todavia não
seria atingido pela mudança no estatuto. Ele acabou de fazer 63 anos. Em tese,
o executivo teria ainda condições de ficar à frente do comando da empresa por
mais uma gestão, a partir de abril de 2017, quando vence seu atual contrato.
Mas isso dependerá do desejo dos acionistas da Vale em mantê-lo no cargo.
Da parte do governo interino, que está no bloco controlador
por meio da BNDESPar, já há uma manifestação pela substituição de Ferreira,
conforme já noticiou o Valor. O presidente interino Michel Temer, atendendo
pleitos de políticos mineiros, chegou a se encontrar com o presidente do
Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para falar sobre a troca de comando na Vale. O
processo ficou congelado, mas, segundo disseram fontes ao Valor, deve ser
retomado após a definição do processo de impeachment da presidente afastada
Dilma Rousseff, no fim de agosto.
Procurados, Bradesco e Previ, principais acionistas
controladores da Vale, junto com Mitsui e BNDES, informaram que não comentam o
assunto a ser votado na AGE de agosto. A Vale também preferiu não se
manifestar.
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