O menor investimento estimado para seu projeto de expansão e
a postergação de desembolsos em logística de celulose levaram a Fibria a
reduzir em R$ 1,5 bilhão a previsão de investimentos em 2016. Agora, a
companhia prevê desembolso de R$ 6,7 bilhões neste ano, frente a R$ 8,2 bilhões
originalmente.
Na implantação a segunda linha da fábrica de Três Lagoas
(MS), o total a ser investido caiu de R$ 8,7 bilhões para R$ 7,9 bilhões, mesmo
depois de a companhia ter elevado em 11% a capacidade instalada do projeto,
para 1,95 milhão de toneladas por ano.
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De acordo com o presidente da Fibria, Marcelo Castelli, os
R$ 800 milhões que serão economizados no projeto de expansão devem-se,
sobretudo, a ganhos de eficiência. Desse montante, R$ 250 milhões referem-se a
ajustes na previsão de inflação e câmbio. “Todo o restante diz respeito a
eficiências de gestão de custos, de negociação e risco do projeto”, disse
o executivo.
Do total previsto para 2016, R$ 4,4 bilhões serão destinados
ao projeto Horizonte 2, frente a R$ 5,4 bilhões orçados anteriormente. Em
logística de celulose, a companhia vai aplicar R$ 200 milhões neste ano e
outros R$ 500 milhões foram postergados para 2017 e 2018. Conforme Castelli,
esse adiamento reflete, em parte, o fato de a companhia já ter comprado algumas
locomotivas com ganho financeiro nas negociações.
Ao mesmo tempo, a Fibria está adotando um modelo distinto
para o projeto. “Estamos adotando uma estratégia diferente para vagões,
que agora será parcialmente de compra e eventual aluguel de vagões no
mercado”, afirmou. Essa estratégia, conforme o executivo, permite à
companhia garantir o escoamento da celulose e balancear o caixa.
Diante do cronograma das obras à frente do esperado, o
comando da Fibria indicou que a nova linha de produção estará pronta no começo
do quarto trimestre do ano que vem. “As obras seguem adiantadas e já
chegam a 45% de avanço. Com isso, a entrada em operação ocorrerá no início do
quarto trimestre [de 2017]”, afirmou Castelli.
Esses ajustes nos desembolsos da Fibria ocorrem em um
momento de tentativa de recuperação dos preços da celulose. De acordo com o
diretor comercial e de logística internacional, Henri Phillipe Van Keer, a
companhia negocia neste momento a aplicação na Ásia da segunda parcela do
reajuste anunciado para junho. “Implementamos parcialmente o aumento para
1º de junho na Ásia e agora estamos discutindo a segunda parcela”,
explicou.
No fim de maio, a Fibria anunciou nova tabela de preços para
a matéria-prima, com aumento em relação às cotações em vigor. A companhia,
porém, não divulgou o tamanho do reajuste. Com isso, a tonelada de celulose
vendida ao mercado americano passou a ter preço de referência de US$ 870. Na
Ásia, a cotação subiu a US$ 550 por tonelada e na Europa, a US$ 710 por
tonelada.
Segundo o diretor comercial, há retomada de demanda na China
e aumento das vendas globais. “Esse é obviamente um bom sinal para a
recuperação de preços, mas agora mais devagar por causa do verão no Hemisfério
Norte”, explicou o executivo, que reiterou a visão de tendência de alta
dos preços.
No curtíssimo prazo, Van Keer destacou que o “ponto
importante é a retomada da demanda”. “Depois disso vem o aumento de
preço”, afirmou. Em sua avaliação, há ainda algum desequilíbrio entre as
cotações da matéria-prima na Europa e na China, mas com o aumento dos preços na
Ásia, essa diferença é reduzida. “O momento é de reequilíbrio. A Fibria
sempre falou que o que aconteceu no início do ano [quando os preços caíram
acentuadamente] vai ser recuperado aos poucos”, comentou.
O executivo afirmou ainda que não acredita na entrada em
operação do projeto OKI, da APP na Indonésia, dentro do cronograma anunciado.
“O mercado ainda tem esse receio e precifica isso neste ano. Mas quando
perceber que o projeto deve ser postergado, não tem razão para não haver efeito
positivo no mercado”, acrescentou.
O menor preço da celulose teve impacto nos resultados da
companhia no segundo trimestre. Maior produtora mundial de celulose de
eucalipto, a Fibria registrou receita líquida de R$ 2,39 bilhões no período,
alta de 3,3% na comparação anual influenciada pelo maior volume de vendas – a
companhia tem um acordo comercial com a Klabin e já iniciou a comercialização
da celulose produzida pela empresa em Ortigueira (PR).
Já o resultado antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda) ajustado caiu 20%, a R$ 925 milhões, diante dos preços
mais baixos da celulose em reais e do aumento do custo caixa de produção. Na
última linha, a Fibria teve lucro líquido atribuível aos acionistas da
companhia de R$ 743 milhões, alta de 21,4% na comparação anual, em crescimento
sustentado principalmente pelo impacto positivo da valorização do real frente
ao dólar na parcela da dívida que está denominada na moeda americana.
Ao fim de junho, a dívida líquida era de R$ 9,72 bilhões,
equivalente a 1,82 vez o Ebitda. Em dólar, a alavancagem financeira era de 2,1
vezes. As ações da Fibria encerraram o dia com ganho de 1,16%, negociadas a R$
21, apesar de o resultado operacional ter sido mais fraco do que o esperado por
analistas.
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