Tesouro paga menos em emissão de US$ 1,5 bi

O Tesouro aproveitou o aumento do apetite global por ativos
de maior risco e a melhora do cenário político e econômico local para voltar ao
mercado internacional de dívida. O governo emitiu US$ 1,5 bilhão em papéis de
30 anos, com retorno ao investidor (“yield”, no termo em inglês) de 5,875% ao
ano. Os papéis tiveram demanda de US$ 6 bilhões, o que permitiu reduzir o custo
da operação. A taxa sugerida inicialmente estava levemente acima de 6%.

A última emissão soberana havia ocorrido em 10 de março, em
termos de precificação mais difíceis. Na época, foram emitidos US$ 1,5 bilhão
em papéis de dez anos com yield de 6,125%, o que mostra que as condições mais
favoráveis permitiram ao Tesouro alongar o prazo da dívida ao mesmo tempo em
que conseguiu reduzir o retorno ao investidor.

Embora as condições sejam melhores, o país ainda está
pagando caro para atrair a atenção dos investidores. Em julho de 2014, por
exemplo, embora o humor com o país já não fosse dos melhores, o Tesouro colocou
papéis de 30 anos no mercado a uma taxa de 5,131% ao ano. Em 2011, quando o
cenário era ainda melhor, foram emitidos bônus com o mesmo prazo e yield de
4,694% ao ano. Para se ter ideia do prêmio pago, a taxa da operação de ontem tinha
um spread de 357,2 pontos base sobre o título público americano, mais altos que
os 187,5 pontos de 2014 e os 160 pontos de 2011.

“A emissão de 30 anos é um sinal mais forte de confiança do
investidor no Brasil. O fato é que o investidor estrangeiro retomou confiança
na estabilidade política e econômica, o que levou ao sucesso da operação”,
afirma Alexei Remizov, gerente de mercado de capitais para América Latina do
HSBC, que coordenou a operação ao lado do Deutsche Bank e do Goldman Sachs.

A conjuntura internacional é o principal ponto que compõe o
cenário da emissão. A decisão de saída do Reino Unido da União Europeia, em
meio a um ambiente de taxas de juros negati- vas no continente, causou uma
corrida por retornos por parte dos investidores globais, com saída de fluxo da
Europa. Ficou maior a procura por investimentos mais rentáveis e mais longos.

“Os bancos já estavam observando esse movimento há semanas e
mantendo conversas com o Tesouro”, diz uma fonte próxima à operação que
preferiu não ser identificada. Os eventos recentes na Turquia também ajudam
pontualmente o apetite por outros países emergentes, como o Brasil, uma vez que
grandes investidores estão reduzindo a exposição ao país.

A situação local foi outro ponto forte no interesse pelos
papéis. Ainda que o cenário macroeconômico tenha melhorado apenas
marginalmente, as perspectivas para o país são muito melhores, segundo Carlos
Mendes, chefe de renda fixa internacional da XP Securities. O especialista
observa uma compressão das taxas dos bônus do Brasil negociados no mercado
secundário. “Apesar dos números relativos à economia ainda não serem
suficientes, a perspectiva para o país saiu de negativa para estável ou até
mesmo positiva. Para o mercado de crédito, isso é importante, pois é baseado na
capacidade de pagamento”.

A emissão teve uma base diversificada de investidores. Os
papéis foram colocados nos Estados Unidos, na Europa, Ásia e Oriente Médio.
Apesar da forte demanda, a República optou por emitir um volume mais baixo e
apertar a taxa. O Tesouro apontou que as emissões externas conservam caráter
qualitativo, para fornecer preços de referência para as empresas privadas que
buscam captar recursos fora do país.

Ao olhar para a frente, Remizov, do HSBC, afirma que as
taxas de juros globais devem continuar deprimidas por mais tempo, o que melhora
o ambiente para bônus de países emergentes. Mas, especificamente para Brasil, a
melhora adicional das taxas pagas pelos emissores depende da capacidade da
atual equipe econômica de seguir reconquistando a confiança e da postura do
Congresso Nacional de aprovar medidas importantes para o ajuste fiscal.

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