A Vale indicou ontem que pode produzir menos minério de
ferro em 2017 como resultado da estratégia da empresa de redução de estoques. A
mineradora também reforçou que em 2016 pretende extrair de suas minas cerca de
340 milhões de toneladas da commodity, volume equivalente ao “piso”
da meta de produção fixada para este ano. A decisão segue a lógica de privilegiar
margens aos invés de volumes. As duas informações apareceram no relatório de
produção do segundo trimestre, quando a Vale atingiu 86,8 milhões de toneladas
de minério de ferro, incluindo compras de terceiros, com queda de 2,8% sobre o
mesmo período do ano passado.
No relatório, a empresa atribuiu a queda à decisão de
reduzir marginalmente a produção de operações com menor margem e também à
paralisação do fornecimento de minério bruto à Samarco. A Vale disse que as
reduções de produção ocorreram nos sistemas Sudeste, que compreende os
complexos das minas de Itabira, Minas Centrais e Mariana, e Sul, que abrange as
minas de Paraopeba, Vargem Grande e Minas Itabirito; além do sistema
Centro-Oeste, que considera as minas de Urucum e Corumbá (Mato Grosso do Sul).
A Vale afirmou que permanece com a estratégia de reduzir a
produção de operações com menor margem. “Os esforços de otimização da
cadeia de fornecimento continuarão em 2017, com importantes reduções dos
estoques no Sistema Sul [MG]. É importante salientar que há flexibilidade para
produzir menos, uma vez que há espaço para reduzir estoques.” A mineradora
previu que deverá produzir em 2017 volumes inferiores ao intervalo entre 380
milhões e 400 milhões de toneladas de minério de ferro que havia anunciado no
fim do ano passado. Alguns bancos trabalham com números de venda de minério de
ferro mais baixos do que os previstos pela própria companhia em seus planos de
produção tanto para 2016 quanto para 2017.
O BTG Pactual disse, em relatório, que é difícil quantificar
de quanto será a redução na produção da Vale em 2017. Mas avaliou que um corte
potencial de 10 milhões de toneladas sobre o “piso” de 380 milhões
seria insuficiente para equilibrar oferta e demanda. O banco estimou a entrada
de cerca de 80 milhões de toneladas de nova oferta chegando ao mercado no ano
que vem. O BTG manteve a previsão de um preço de US$ 40 por tonelada para o
minério de ferro no mercado à vista em 2017.
Na visão do Goldman Sachs, a Vale admitir que vai entregar
apenas o “piso” de sua meta de produção em 2016 e que não vai
alcançar as projeções para 2017 representa um risco de execução. Em relatório,
o banco afirmou que essa postura desaponta as expectativas com o S11D, o maior
projeto de minério de ferro da história da companhia, previsto para entrar em
operação comercial no começo de 2017. O banco reconheceu, porém, que frustrar
suas próprias expectativas pode ajudar estruturalmente o mercado:
“Produção menor do que o esperado de minério de ferro, em relação às
produções das grandes produtoras, poderia reduzir o excesso de oferta e
sustentar os preços a níveis mais altos, o que não é o nosso cenário base”, informa o Goldman
Sachs.
O Scotiabank destacou dois aspectos positivos da estratégia
da Vale: a liberação de caixa resultante de menores estoques e a redução de
custos, o que está em linha com o compromisso da empresa de privilegiar margens
aos invés de volumes. O Credit Suisse disse que trabalha com vendas de 371
milhões de toneladas de minério de ferro pela Vale em 2017. “É o número
que acreditamos vai ser entregue”, disse o banco no relatório.
No relatório do segundo trimestre, o destaque no minério de
ferro ficou por conta de Carajás, no Pará, que produziu 36,49 milhões de
toneladas de abril a junho – uma alta de 15,5% em relação ao mesmo período do
ano passado. Já os sistemas Sudeste e Sul, em Minas Gerais, caíram 13,6% e 10%,
respectivamente.
A produção de pelotas de ferro também teve queda no segundo
trimestre. O volume caiu quase 18%, totalizando 10 milhões de toneladas. A
redução foi motivada por paradas na usinas de pelotização em Minas e Espírito
Santo. A Vale informou que a Samarco planeja retomar as operações em 2017,
embora ainda seja incerto o momento. Em metais, o níquel alcançou recorde de
produção para o mesmo trimestre com 78,5 mil toneladas, aumento de 17%.
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