O cenário mais otimista para o setor de máquinas e
equipamentos para este ano ainda representa uma queda de 7,5% no faturamento das
empresas. Nos doze meses até junho, os fabricantes de bens de capital mecânicos
acumulam uma receita líquida de vendas de R$ 72,7 bilhões, conforme dados da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Um
cenário otimista considera que, até dezembro, as empresas consigam atingir a
cifra de R$ 80 bilhões.
As estimativas são do novo presidente da Abimaq, João Carlos
Marchesan, e do presidente executivo da entidade, José Velloso, em entrevista
ao Valor. A projeção considera a resolução do impasse político no país com o
processo de impeachment e a implementação de medidas pelo governo para retomada
dos investimentos no país. Mesmo assim, o setor deve enfrentar o quarto ano
consecutivo de queda no faturamento. Em 2012, a indústria atingiu o patamar de
R$ 120 bilhões.
A entidade vem travando conversas com o governo para
apresentar as demandas do setor. No início da semana, Marchesan tinha reuniões
agendadas com o diretor de política econômica do Banco Central (BC), Carlos
Viana de Carvalho, e com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda,
Eduardo Refinetti Guardia. Também foi solicitado um encontro com o presidente
interino, Michel Temer, mas ainda não houve confirmação.
Antes, o novo presidente do conselho diretor da Abimaq, que
ficará no cargo até 2018, já tinha se reunido com vários ministros – desde
Henrique Meirelles, da Fazenda a José Serra, das Relações Exteriores, passando
Blairo Maggi (Agricultura), Moreira Franco (Secretaria Especial) e Maria Silvia
Marques (presidente do BNDES).
A associação cobra do governo uma taxa de juros que deixe o
investimento produtivo mais atrativo. “O maior concorrente da indústria
hoje é Banco Central”, reclama Velloso, que diz que a indústria tem de
disputar recursos com investimentos financeiros.
Outro problema apontado pela entidade seria a falta de uma
política industrial robusta com um câmbio mais competitivo que permita a
atuação de fabricantes nacionais no mercado externo. Um patamar de dólar
adequado, diz Marchesan, seria em torno R$ 3,80, lembrando que só é possível
trabalhar em cima de exportações se também houver previsibilidade.
A Abimaq ainda defende que o governo exija contrapartida dos
vencedores de licitações na forma de compras de fornecedores brasileiros. Uma
espécie de conteúdo local. A associação não trabalha, porém, com a perspectiva
de que um mecanismo do tipo seja incluído já nos projetos que virão ao mercado
no curto prazo, como as licitações dos aeroportos.
O setor, diz o presidente executivo, ainda enfrenta um
problema no que diz respeito à capacidade das fabricantes de máquinas de
manterem em dia os pagamentos dos impostos. A associação espera conseguir a
aprovação de uma regra nos programas de refinanciamento de débitos fiscais que
preveja a suspensão dos pagamentos dos Refis passados caso o país entre em
crise. O que a entidade está propondo para o governo, segundo Marchesan, são
formas de ajudar a indústria em uma “travessia” da crise, que reduziu
a demanda por máquinas. “Estamos propondo uma travessia até o segundo semestre
de 2017”, diz o dirigente.
A carteira de pedidos do setor, atualmente, é de apenas 2,6
meses. A Abimaq trabalha com a expectativa de que a economia brasileira consiga
sair do negativo em meados do próximo ano.
A mensagem da entidade a representantes do governo indica a
necessidade de uma política que gere competitividade para indústria de base do
país. Isso passa por questões tributária, juro, financiamento, câmbio e
inserção nos programas de investimentos, como as concessões de infraestrutura.
Há mais de um ano a associação tentava obter a aprovação de
um programa de modernização do parque industrial brasileiro. Com o agravamento
da crise, Velloso admite que a prioridade do governo interino é a realização do
ajuste fiscal e que o programa não está hoje no centro das discussões.
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