A valorização do real frente ao dólar no segundo trimestre
deste ano beneficiou empresas de transporte e logística que têm dívida atrelada
à moeda estrangeira – como a Log-In. Mas ainda não surtiu efeito positivo no
aumento das importações, carga que melhor paga na operação portuária e de
logística, como mostram os resultados do período abril-junho de oito companhias
com ações negociadas na BM&FBovespa.
Guardadas as especificidades de cada segmento dentro do
amplo espectro de transportes e logística, a receita líquida combinada do grupo
aumentou 7%. O lucro líquido, por sua vez, cresceu 27%, se desconsiderado o
resultado da EcoRodovias, que foi distorcido por duas baixas contábeis.
Líder no setor de concessões de infraestrutura de
transportes, a CCR sofreu com a redução no lucro, apesar de ter visto sua
receita crescer. A última linha do balanço da empresa foi impactada
principalmente por um aumento de 29% no prejuízo financeiro, de R$ 501,7
milhões – principalmente de resultados com operações de hedge.
O tráfego nas rodovias administradas pela companhia
diminuiu, enquanto a tarifa média aumentou no período.
A Triunfo Participações e Investimentos (TPI) conseguiu
reduzir o seu prejuízo apesar da queda importante de receita no segundo
trimestre. O grupo, que atua em segmentos de transportes semelhantes à CCR,
conseguiu reverter o valor negativo na linha de imposto de renda e contribuição
social sobre o lucro, que era R$ 18,2 milhões no segundo trimestre de 2015 e
ficou positiva em R$ 13,4 milhões.
No caso das concessões de rodovias da Triunfo, o tráfego
total de veículos equivalentes aumentou, sobretudo devido ao início da cobrança
de pedágio na Concebra em junho de 2015. Retirando esse efeito e o da isenção
de cobrança dos eixos suspensos de caminhões, a empresa teria visto uma queda
no fluxo de veículos pagantes.
Até julho, as rodovias concedidas à iniciativa privada
tiveram queda de 3% no movimento de veículos leves e pesados, conforme dados do
índice ABCR (associação que reúne as concessionárias do segmento). Contudo,
para a Tendências Consultoria, que elabora o índice junto com a associação, o
dado negativo no que diz respeito ao movimento de pesados não deve continuar
nos próximos meses, dada a melhora em indicadores industriais.
Já o prejuízo líquido de R$ 1,18 bilhão da EcoRodovias,
outro grupo cujo negócio-âncora são as concessões rodoviárias, refletiu duas
baixas contábeis que somaram mais de R$ 1,2 bilhão nos segmentos portuário e de
logística de comércio exterior. Dois negócios que, no geral, têm sido afetados
pela queda das importações.
Só no Ecoporto, o terminal de contêineres arrendado (modelo
em que a área é pública e explorada pelo privado via licitação) que opera em
Santos (SP), a baixa foi de R$ 545 milhões. O ajuste reflete aspectos
conjunturais do comércio exterior e estruturais do ativo. O Ecoporto está sem
escalas regulares de navios e não consegue ter um bom desempenho diante da
redução de volumes de cargas e da acirrada concorrência no porto de Santos, que
não deixa espaço para instalações pequenas. A holding fez também uma baixa na
Elog, seu braço de logística, ao reconhecer uma perda por redução no valor de
R$ 671,4 milhões. As unidades da Elog estão à venda.
Também a Santos Brasil, a maior operadora de terminais de
contêineres arrendados, viu a última linha do balanço ser afetada pela redução
dos volumes importados e armazenados. Foi esse, ao lado da piora da atividade
operacional de seu terminal de veículos, o motivo que levou a companhia ao
prejuízo no trimestre.
O volume combinado nos três terminais de contêineres do
grupo aumentou, mas a queda das operações de importação de contêineres cheios
prejudicou a receita de armazenagem – um dos serviços mais rentáveis desse
negócio.
Em teleconferência com analistas, o diretor comercial,
Marcos Tourinho, disse que os volumes de cargas estão “perto da
estabilidade”, com sinais de recuperação das importações. “Os
armadores [clientes dos terminais] estão mais otimistas e preveem recuperação
mais forte nos próximos meses”.
A alta no lucro da Wilson Sons foi em grande parte oriunda
das variações cambiais. Um dos principais pontos foi a queda com recolhimento
de imposto de renda e contribuição social sobre o lucro, principalmente em
função dos ativos imobilizados e dos empréstimos em dólar. A movimentação de
contêineres nos terminais da empresa – uma das principais áreas do grupo –
aumentou devido às cargas de exportação e cabotagem. Ao contrário das de
importação, que caíram, em linha com o setor.
Em outro tipo de negócio portuário, a Prumo, responsável
pelo desenvolvimento do porto do Açu (RJ) – um condomínio privado de terminais
-, reverteu prejuízo em lucro. O desempenho refletiu principalmente o aumento
da receita, a queda das despesas e o melhor resultado financeiro.
O porto tem hoje nove terminais em funcionamento, dos quais
alguns a Prumo é sócia – como a Ferroport, que exporta minério; o Tecma, que
movimenta combustível marítimo; o terminal multicargas T-MULT (este 100% da
Prumo); e o T-OIL, especializado em petróleo. A Ferroport foi inaugurada em
2014; o Tecma e o T-MULT, em junho; e o T-OIL começa a operar neste mês.
A Rumo Logística, concessionária de transporte ferroviário,
também teve prejuízo no segundo trimestre, mas foi menor do que parte do
mercado esperava. O resultado foi afetado por maiores despesas financeiras,
devido ao aumento das taxas médias de juros.
Operacionalmente os volumes caíram, muito pela concentração
das exportações de grãos nos primeiros meses do ano, resultado do câmbio
favorável às vendas externas desde o fim de 2015.
Já a Log-In, cujas principais atividades são a navegação de
cabotagem e operação portuária, celebrou um resultado financeiro de R$ 50,1
milhões, ante resultado negativo de R$ 1,28 milhão no mesmo trimestre de 2015,
que fez o lucro disparar para R$ 30,3 milhões ante R$ 306 mil. O desempenho é reflexo
principalmente da apreciação do real diante do dólar, que incidiu sobre o saldo
dos financiamentos de novas embarcações.
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