A derrocada da Sete Brasil, criada para gerenciar as sondas
do pré-sal para a Petrobrás, as denúncias de corrupção e a escassez da demanda
internacional por navios de exploração de petróleo deterioraram a situação
financeira e operacional dos três estaleiros nacionais ligados a empreiteiras e
que eram, até pouco tempo, símbolos da arrancada da indústria naval no País.
Juntos, Enseada, Atlântico Sul e Rio Grande estão em processo de reestruturação
e renegociam dívidas com bancos e fornecedores da ordem de R$ 8 bilhões.
Para alguns especialistas em renegociação, s situações mais
crítica é a do estaleiro Enseada Indústria Naval, que pertence a Odebrecht,
UTC, OAS e aos japoneses da Kawasaki Heavy Industries. A empresa construiu um
estaleiro na Bahia exclusivamente para atender os contratos para fornecimento
de sete navios sondas para a Sete. Desde início do ano passado, a Sete não paga
os contratos, e a Petrobrás não define se vai manter os contratos.
O resultado é que a Enseada terminou o ano com passivo de
curto prazo a descoberto de R$ 2 bilhões. Em outubro, ainda terá pela frente os
primeiros vencimentos do empréstimo de R$ 1,1 bilhão que tem com os bancos do
Brasil e Caixa, que repassaram recursos do Fundo de Marinha Mercante.
A empresa tenta renegociar prazos e ganhar tempo para
encontrar uma solução que gere receita. O fluxo de caixa novo passará por essa
renegociação e pela manutenção dos contratos com a Petrobrás no âmbito da Sete.
A empresa estuda buscar receitas com produção de torres e geradores eólicos.
Projeto ambicioso criado para revigorar a indústria naval
brasileira, a Sete Brasil – envolta em denúncias de corrupção, que também
atingiram os estaleiros – entrou em recuperação judicial neste ano. Desde o ano
passado, a companhia vinha tentando um empréstimo de longo prazo que pudesse
financiar pelo menos parte das sondas que estavam na sua carteira.
A empresa chegou a tentar reduzir de 28 para 19 o total de
sondas contratadas pela Petrobrás para manter parcialmente a encomenda, mas não
teve sucesso. Sem dinheiro, a estatal parou de pagar os estaleiros, que
paralisaram as construções. O último balanço da Sete mostra que o calote com os
cinco estaleiros com os quais tinha contratos (EAS, Enseada, ERG Jurong e
Brasfels) foi de R$ 6 bilhões.
Prejuízos. Para os bancos, que já tiveram de baixar a
prejuízo os empréstimos que fizeram diretamente à Sete Brasil, a situação dos
estaleiros também se mostra preocupante.
Só com a Ecovix, empresa dona do Estaleiro Rio Grande, os
bancos estão renegociando dívidas de R$ 4,5 bilhões, sob a liderança do
escritório Felsberg e do banco Brasil Plural. Os empréstimos não estão sendo
cobrados, mas a empresa tem até o fim do ano para apresentar uma solução, que
deve passar pela venda a um investidor estrangeiro.
Os principais sócios da Ecovix, da empreiteira Engevix,
estão hoje presos e alguns já foram condenados por corrupção em contratos com a
Petrobrás. Todos foram afastados do estaleiro, hoje administrado pelo Banco
Plural. A avaliação é que o fato de o estaleiro manter outros contratos diretos
com a Petrobrás, e não apenas os que tinha com a Sete, poderá ser um ponto
positivo nas negociações.
O mesmo acontece com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), que
pertence a Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, e já tinha contratos diretamente
com a Petrobrás.
O estaleiro informou que conseguiu manter cinco encomendas
da Transpetro e está negociando outros sete navios, que também seriam para a
Transpetro, com outros clientes. O EAS recebeu capitalização de R$ 400 milhões
dos sócios neste ano, em parte para manter os contratos de financiamento. A
empresa tem uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão com o BNDES.
Apesar do otimismo em retomar receita, seu prejuízo foi de
R$ 349 milhões em 2015, que se somaram a perdas de R$ 329 milhões do ano
anterior. A empresa também tinha contratos com a Sete Brasil e foi a única a
encerrar unilateralmente o contrato ao deixar de receber. Ainda existe uma
disputa em torno da questão, mas, de qualquer forma, a empresa ainda precisa
renegociar cerca de R$ 500 milhões com fornecedores.
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