A receita com as exportações do agronegócio brasileiro caiu
14,2% em julho ante o mesmo mês de 2015, para US$ 7,81 bilhões, conforme dados
da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados pelo Ministério da
Agricultura. A queda se deveu à redução do faturamento com os embarques do
complexo soja, carnes e café, principalmente.
As importações do setor no mês passado tiveram queda menor,
de 0,6%, na comparação com julho de 2015, para US$ 1,14 bilhão, segundo o
ministério.
Os embarques do complexo soja (grão, farelo e óleo) recuaram
22,6% na comparação anual, para US$ 3,04 bilhões. Essa redução foi reflexo da diminuição
de 29,2% do volume exportado. Já o preço médio na exportação de soja e
derivados aumentou 9,3%.
A receita com as carnes somou US$ 1,18 bilhão, 19,6% a menos
do que em julho de 2015. “A redução ocorreu em função da queda quase
generalizada na quantidade exportada e, também, da diminuição do preço médio de
exportação”, segundo nota do ministério.
Já o complexo sucroalcooleiro teve alta de 41,1% na receita
com exportações em julho, para US$ 1,17 bilhão. Houve aumento na quantidade
embarcada (22,3%) e no preço médio de exportação (15,3%).
No acumulado de janeiro a julho, as exportações do
agronegócio somaram US$ 52,82 bilhões, alta de 0,9% sobre igual intervalo de
2015. As importações do setor caíram 11,8% no período, para US$ 7,24 bilhões no
período. Com isso, o saldo da balança comercial do agronegócio ficou em US$
45,58 bilhões.
Disputa por trigo faz
estoque de moinhos encolher
Competição com indústria de aves e suínos
turbinou e enxugou oferta do cereal
A forte demanda da indústria de aves e suínos por trigo para
uso na ração dos animais este ano enxugou a oferta doméstica do cereal e
complicou o abastecimento dos moinhos brasileiros, que se veem às voltas com
preços elevados, apesar das recentes quedas do dólar e das cotações do trigo na
bolsa de Chicago.
“Os moinhos estão em condição muito delicada, nunca
entraram num segundo semestre com estoques tão curtos e muito disso se deve ao
milho”, diz Christian Saigh, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo
no Estado de São Paulo (Sindustrigo). Com a redução da oferta e os elevados
preços do milho no Brasil, inflados pela seca que derrubou a produtividade do
grão no país este ano, os granjeiros recorreram ao trigo como substituto na
alimentação dos animais.
Conforme Saigh, a saída para muitos moinhos será buscar
ainda mais trigo nos EUA, que tem chegado a cerca de US$ 270 por tonelada no
porto de Santos (SP). Ele calcula que pelo menos 1,5 milhão de toneladas do
cereal americano serão trazidas nos próximos 90 dias. O volume é bem superior
às 295,68 mil toneladas que vieram daquele país entre julho e dezembro de 2015.
“Esse trigo vem com TEC [Tarifa Externa Comum de 10%,
cobrada do produto de fora do Mercosul] e a logística dos EUA leva em média 60
dias, entre fechar o contrato e receber em Santos. E os preços dos negócios
realizados há 60 dias eram outros”, diz Saigh.
De fato, a desvalorização do trigo ganhou mais força apenas
nas últimas semanas, com a melhora das perspectivas para a safra 2016/17 dos
EUA. Somente em julho, os preços dos contratos com entrega em setembro na bolsa
de Chicago recuaram 8,5%, encerrando o mês a US$ 4,0775 por bushel. No mercado
interno, porém, as cotações acumularam ligeira alta de 0,24% no período, para
R$ 902,98 por tonelada no Paraná, embora tenham cedido um pouco nos últimos
dias, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
(Cepea/Esalq). O fato é que o valor atual é cerca de 35% mais alto do que há um
ano, quando o trigo estava na casa de R$ 650.
“Boa parcela dos moinhos está cautelosa com os estoques
porque a reposição não está sendo feita no momento necessário. Quem não
acreditou em fazer estoques está reduzindo a moagem”, afirma Saigh. De
acordo com Marcelo Vosnika, presidente do conselho deliberativo da Associação
Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), houve diminuição da moagem nos
últimos 90 dias, mas ainda não há dados fechados sobre essa redução.
“No ano passado, tivemos uma queda de 8% na moagem, mas
por crise de consumo, não por falta de trigo e preços altos como agora”,
diz Vosnika. Segundo ele, as indústrias de aves e suínos adquiriram
praticamente todo o estoque de trigo do Paraná, maior Estado produtor do
cereal.
“Os volumes movimentados pelo pessoal do milho são
muito maiores. Um pouco de compra para eles é muito para nós”, afirma. Com
estoques também já enxutos, a Argentina tem potencial restrito para suprir a
demanda dos moinhos paranaenses, e a atenção do mercado está voltada à nova
safra brasileira, que começa a chegar em outubro.
Nos cálculos do Departamento de Economia Rural do Paraná
(Deral), o Estado deverá colher 3,35 milhões de toneladas na recém-plantada
safra 2015/16, alta de 2% em relação ao ciclo anterior. A produção total do
país está estimada em 6,28 milhões pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab).
Apesar do momento de aperto e do menor processamento nos
últimos 90 dias, Vosnika acredita ser possível encerrar o ano com uma moagem
perto da estabilidade. “A perspectiva é de manter a moagem perto das 10,5
milhões de toneladas. Acreditamos que o consumo esteja retornando ao
normal”, afirma.
Seja o primeiro a comentar