Para especialistas, legado de mobilidade dos Jogos será insatisfatório

As principais promessas dos governos estadual e municipal
para a mobilidade durante os Jogos Olímpicos se cumpriram. Tanto o BRT
Transolímpico, ligação entre as duas zonas centrais de competições, Barra da
Tijuca e Deodoro, quanto a Linha 4 do Metrô, que sai de Ipanema para a Barra da
Tijuca, já estão funcionando para quem tem credencial dos Jogos.

Especialistas ouvidos pelo Estado avaliam que os torcedores
não terão muita dificuldade para se deslocar entre as arenas. Mas afirmam que o
legado deixado para os cariocas será insatisfatório, pois, passada a Olimpíada,
os moradores ainda não estarão atendidos em suas necessidades de transporte do
dia a dia. Por conta dos engarrafamentos, que já começaram, a prefeitura
decretou um novo feriado, o quarto, amanhã.

“O trajeto da linha 4 não é o que se queria, e o BRT não tem
a alta capacidade que deveria para atender à população da zona oeste. Mas
durante a Olimpíada tudo indica que vá dar certo, porque os deslocamentos serão
em condições artificiais criada pela prefeitura, com as crianças de férias e as
faixas exclusivas nas ruas para os ônibus. Isso não vai ser a realidade dos
moradores ao fim da Olimpíada”, alerta Marcus Quintella, especialista em
mobilidade urbana e professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas.

Para o período da Olimpíada, Quintella defende o incentivo à
opção ferroviária: de trem, chega-se às competições de Deodoro, como basquete,
hipismo e hóquei, ao complexo Maracanã/Maracanãzinho, onde serão realizadas as
cerimônias de abertura e encerramento e partidas de vôlei e futebol, e ao
Estádio Olímpico, casa do atletismo e também do futebol. As seis estações que
levam a essas arenas – Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos, Ricardo de
Albuquerque, Engenho de Dentro e São Cristóvão – foram modernizadas para os
jogos.

Carros particulares, táxis e Uber são contraindicados. Por
causa das faixas olímpicas nas ruas, de uso exclusivo ou compartilhado com
veículos de delegações, árbitros e dirigentes, o trânsito na cidade se
deteriorou rapidamente. Na segunda-feira, foram mais de cem quilômetros de
engarrafamento, especialmente na Linha Amarela, o que levou o prefeito Eduardo
Paes a adotar o novo feriado.

METRÔ

Fundamental por conectar o Rio turístico (Copacabana/Ipanema)
ao Jardim Oceânico, no começo da Barra, de onde sai o BRT para o Parque
Olímpico, o Campo Olímpico de Golfe, o Riocentro e o Pontal, a linha 4 do metrô
era a grande dúvida, uma vez que o cronograma de obras era bem justo. Foi
inaugurada sábado passado pelo presidente em exercício, Michel Temer. Nos dois
primeiros dias de operação, segunda e terça, as viagens transcorreram sem
problemas. A reportagem fez ontem o trajeto Ipanema-Barra e o Barra-Ipanema em
16 minutos, cada trecho.

A dois dias da abertura dos jogos, pessoas que estão
trabalhando na região do Parque Olímpico e usando o metrô se queixam da demora
para embarcar no BRT e seguir viagem. Os dois modais são ligados – basta sair
do metrô e subir uma escada para se chegar ao terminal do BRT – mas não estão
sincronizados. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, o intervalo
programado está sendo cumprido: em média, 16 minutos nos horários de pico e 20
em horários de menor movimentação. Outra queixa é o fato de o BRT estar
funcionando somente até as 23h. Só a partir do início dos Jogos o serviço até o
Terminal Olímpico será 24 horas.

Até o fim dos Jogos Olímpicos, dia 21, só são aceitos no
embarque o RioCard olímpico. A capacidade da linha 4 será de 11 mil passageiros
a cada hora por sentido.

O BRT Transolímpico, com quatro estações e três terminais
funcionando, também só pode ser acessado com o cartão olímpico. A prefeitura se
ressente da baixa procura pelo cartão, que dá direito a viagens ilimitadas em
qualquer modal (BRT, ônibus comum, trem, metrô) e custa R$ 25, válido por um
dia, R$ 70, para três dias, e R$ 170, válido por uma semana. Só foram vendidas
73,3 mil unidades. A expectativa inicial era de um milhão de usuários.

 

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