O aceno do governo de Michel Temer à iniciativa privada deve
impulsionar ações do setor de infraestrutura na Bolsa até o fim do ano, na
avaliação de analistas do mercado. Nesse cenário, estão incluídos papéis de
empresas ligadas a rodovias e ferrovias, além de portos e aeroportos. A
perspectiva para outros setores na Bolsa também é positiva, uma vez que se
espera a retomada da economia a partir de 2017.
Neste ano, até agosto, o Ibovespa, principal índice da
Bolsa, subiu 33,6%, principalmente por causa das apostas de que a ex-presidente
Dilma Rousseff sofreria impeachment. Para o mercado, o Brasil só teria
condições de sair da crise econômica a partir da mudança de governo.
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O cenário externo, mais favorável a mercados emergentes,
como o brasileiro, também contribuiu para esse movimento, incluindo o adiamento
da elevação dos juros americanos e a recuperação dos preços do petróleo.
A aposta de analistas é de que a previsibilidade gerada após
a definição do impeachment deve atrair capital estrangeiro ou nacional interessado
em comprar ativos de empresas do setor de infraestrutura e em participar dos
leilões de concessão.
“Tem uma liquidez no exterior que precisa encontrar
rentabilidade. Ainda que as coisas não melhorem, uma parcela desse capital vai
ser direcionado ao Brasil e ao mercado acionário”, diz Felipe Miranda,
estrategista-chefe da consultoria Empiricus.
Outro setor que pode se beneficiar é o financeiro, afirma
Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos. “As curvas de
juros no país estão caindo, então o custo de captação dos bancos está menor. O
risco-país também recuou”, afirma. “Se o banco der empréstimo agora,
vai conceder a uma taxa mais alta e a margem financeira tende a subir,
melhorando o retorno dos bancos”.
A recuperação da produção industrial, que subiu pelo quinto
mês seguido, também é citada como um fator de valorização das ações. “São
empresas que já fizeram investimentos e que, quando melhorar a economia,
conseguem religar suas fábricas sem desembolsar grandes recursos”, diz
Sandra Peres, analista-chefe da Coinvalores. O setor elétrico deve se manter em
alta na Bolsa, com a perspectiva de fusões e aquisições.
O horizonte para o setor de consumo também pode ser
promissor. Os analistas Maria Paula Cantusio e Victor Penna, da BB Investimentos,
afirmam que os papéis foram beneficiados pela possível recuperação nas vendas
de bens duráveis no curto prazo. Mas a opinião não é unânime. “Temos
aumento da inadimplência gerado por desemprego. Com renda pressionada e sem
crédito, não vejo o consumo voltando tão rápido”, diz o economista Evandro
Buccini, da Rio Bravo.
DESTAQUES
Os destaques do índice foram as empresas do setor
siderúrgico (Usiminas, Metalúrgica Gerdau e CSN) e a Bradespar, que avançaram
mais de 100% até agosto. Em seguida, vêm as da Petrobras, com ganho acima de
90%.
“A recuperação dos preços do minério de ferro no
mercado internacional ajudou as siderúrgicas”, diz Luis Gustavo Pereira,
estrategista da Guide Investimentos. “Esses papéis também estavam muito
desvalorizados, por isso subiram tanto.”
A melhora dos índices de confiança e sinais de retomada da
economia brasileira devem continuar beneficiando as ações do setor no segundo
semestre, afirmam analistas.
As ações de estatais também ganharam força, sobretudo a
partir de março, com as apostas no impeachment de Dilma Rousseff.
Além dos resultados financeiros ruins, os papéis da
Petrobras e da Eletrobras -cuja ação ON subiu 291%-até então vinham sendo
pressionados por causa do esquema de corrupção descoberto na Operação Lava
Jato.
A Petrobras foi favorecida pela recuperação dos preços do
petróleo no mercado internacional. Cortes de custos e de pessoal, vendas de
ativos e redução do endividamento foram outros fatores para a alta das ações.
No setor elétrico, vale lembrar que, antes de se
recuperarem, os papéis de várias empresas também vinham sofrendo com as
mudanças nas regras em 2012, que afetaram seus resultados, e pela crise hídrica
de 2014.
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