O governo Michel Temer trabalha com um banco de projetos em
infraestrutura que somará US$ 269 bilhões entre 2016 e 2019. É uma espécie de
cardápio para mostrar potenciais empreendimentos no Brasil que podem ser
tocados pelo governo ou oferecidos ao capital privado – inclusive estrangeiro.
Os números gerais foram apresentados a investidores chineses nesta sexta-feira,
2, e a primeira parte desse menu de oportunidades será detalhada ainda este mês
pelo secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira
Franco.
A cifra total do banco de projetos foi apresentada pelo
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante o seminário Brasil – China
realizado em Xangai. “Essa é uma projeção das oportunidades e projetos nos
próximos três a quatro anos”, disse Meirelles em entrevista à imprensa já
na cidade de Hangzhou, que hospedará a reunião das 20 maiores economias do
mundo, o G-20.
Em tempos difíceis nas contas públicas e falta de confiança
na economia, Meirelles ressaltou que o valor “não é um compromisso”
do governo. “Não quer dizer que isso vai ser cumprido. É para mostrar a
imensidão do que existe de oportunidade no País”.
Segundo a apresentação feita mais cedo pelo ministro da
Fazenda, o banco de projetos será capitaneado pelo setor de petróleo e gás que
tem empreendimentos com potencial de US$ 90,6 bilhões em investimentos. Nessa
cifra, explicou Meirelles, estão valores relacionados à Petrobrás.
O ministro, porém, não deu mais detalhes. Em seguida,
aparecem os segmentos de energia elétrica (US$ 65,5 bilhões), telecomunicações
(US$ 43,6 bilhões), estradas (US$ 26,6 bilhões), saneamento básico (US$ 10,9
bilhões), ferrovias (US$ 10,1 bilhões), além de mobilidade urbana, aeroportos,
portos e resíduos sólidos – todos com menos de US$ 10 bilhões potenciais cada
para o período.
“Essa é uma visão dos projetos em infraestrutura que
poderão ser feitos e estarão disponíveis no Brasil. São concessões outorgas,
privatizações…”, enumerou o ministro. Meirelles indicou que alguns deles
já podem ter sido discutidos no governo, enquanto outros são novos. “Em
resumo, é um vasto e amplo programa de investimento em infraestrutura de
diversas formas no País”, disse. “É um mapa do que se pode ser feito
em quatro anos. Tudo que pode ser concessionado, privatizado”.
Chineses veem
“janela” de oportunidade no Brasil
05/09/16 – Valor Econômico
Valor Econômico – A
avaliação é de que uma parte central na agenda futura Brasil-China será ocupada
por negócios na área de infraestrutura
A China poderá ser o investidor estrangeiro a mais buscar
projetos do pacote de US$ 269 bilhões que o governo oferecerá em concessões,
outorgas e privatizações entre 2016-2019. É o que acreditam membros da
delegação brasileira em Hangzhou.
Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e das Relações
Exteriores, José Serra, viram sinais positivos do presidente Xi Jinping para
mais investimentos em infraestrutura no Brasil, abrindo novas “boas
oportunidades” para os negócios.
A avaliação é de que uma parte central na agenda futura
Brasil-China será ocupada por negócios na área de infraestrutura. Os chineses
buscam oportunidades no exterior, já que no mercado interno há excesso de
capacidade em vários setores.
A China vê uma “nova janela” de investimentos, com
novos protagonistas privados buscando parcerias com empresas no Brasil.
“As relações bilaterais ganham novos galhos onde antes havia apenas o
tronco”, diz um negociador.
Primeiro o que explodiu foi o comércio bilateral. O Brasil
acumulou superávit de US$ 46 bilhões com os chineses entre 2009-2015, vendendo
commodities. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil
aumentou as importações de manufaturados chineses, de 4% em 2001 para 21% em
2015. Mas 70% das exportações brasileiras são de produtos básicos e a China
impõe barreiras à compra de manufaturados. A CNI mapeou 14 segmentos de
produtos que o Brasil possui vantagem competitiva para exportar, da indústria e
agroindústria, e que sofrem com barreiras à entrada na China.
São eles: carne de aves, bovina e suína; café torrado, em pó
e essência; extratos e suco de frutas, suco de laranja; soja em grão e óleo;
bebidas processadas e vinhos; couros e peles; celulose e papel; produtos
químicos; máquinas e equipamentos médico e hospitalares.
Agora a aceleração é esperada do lado dos investimentos.
Conforme o Itamaraty, em razão da desvalorização de muitas empresas
brasileiras, corporações chinesas têm realizado grandes aquisições no Brasil.
Segundo levantamento da consultoria Dealogic, de Londres, entre janeiro e
agosto os chineses investiram US$ 10,6 bilhões em aquisições no Brasil, mais do
que o dobro dos US$ 5 bilhões registrados no passado inteiro.
Na sexta-feira, em Xangai, foram anunciados mais
investimentos, como um projeto de construção de siderurgia de US$ 3 bilhões no
Maranhão e a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para agricultura brasileira.
“Em termos de valores, os investimentos chineses em
setores intensivos em recursos naturais são muito mais significativos. Além
disso, muitos dos investimentos têm sido em aquisições e não greenfield
[projetos incipientes]”, segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial
da Confederação Nacional da Industria (CNI), Carlos Abijaodi.
Os investimentos chineses na indústria cresceram mas, com a
queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos últimos anos, eles
arrefeceram um pouco. A China é ainda um ator muito pequeno em investimentos
industriais se comparado aos EUA, Japão, Europa ou mesmo a Coreia do Sul. O total dos investimentos chineses só alcança
4% do estoque total de Investimento Direto Estrangeiro (IED) no país.
O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS),
Luigi Nese, disse que vê oportunidades inclusive no turismo. “Mais de 100
milhões de chineses fazem turismo fora. Imagine se atrairmos um milhão de
chineses por ano.”
Mas Nese saiu frustrado de Xangai. Um acordo de cooperação
entre Brasil e China no setor de serviços, uma espécie de guarda-chuva para
ampliar negócios bilaterais, não foi assinado.
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