Capital externo em projetos de infraestrutura diminui na AL

O lançamento de um novo pacote de concessões de obras de
infraestrutura, marcado para a próxima semana, vai encontrar um cenário
internacional mais difícil do que em 2012, quando o governo Dilma Rousseff
anunciou o Programa de Investimento em Logística (PIL).

Segundo estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de
Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) obtido com
exclusividade pelo Valor, a América Latina abocanha uma parcela cada vez menor
dos já minguantes investimentos estrangeiros diretos (IED) para projetos de
infraestrutura em países emergentes.

Em 2012, os projetos de capital majoritariamente estrangeiro
para obras como aeroportos e rodovias em países em desenvolvimento somaram US$
215 bilhões, dos quais US$ 96 bilhões foram direcionados para a América Latina.
No ano passado, esses aportes caíram para US$ 120 bilhões, dos quais apenas US$
40 bilhões ficaram com países latino-americanos, segundo dados do Banco Mundial
compilados pela Sobeet.

Os números do Banco Central sobre investimento estrangeiro
direto no Brasil mostram tendência parecida. Em 2012, o país recebeu US$ 689
milhões para obras de infraestrutura, valor que chegou a US$ 1,14 bilhão em
2014, quando a preparação para a Copa do Mundo aumentou o ingresso de recursos
para esses projetos no país. Em 2016, até julho, dado mais recente disponível,
o país recebeu apenas US$ 293 milhões para infraestrutura, 35,9% a menos do que
em igual período do ano passado.

Para Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet, o modelo de
financiamento das novas concessões terá que ser muito bem pensado, dado o
cenário desafiador. Ele lembra que, com a crise fiscal, o papel do BNDES nas
novas concessões tende a ser mais modesto. Além disso, o mercado de crédito
doméstico está bastante retraído, com mais empréstimos para rolagem de
compromissos do que para novos investimentos.

No front externo, há um movimento de reconcentração do
investimento produtivo nas regiões mais desenvolvidas. Isso acontece porque em
muitos países – caso do Brasil – a percepção de risco aumentou nos últimos
anos, com incremento das incertezas políticas. De modo geral, o ritmo de
expansão dos emergentes também desacelerou, em parte por causa da recente
tendência de queda dos preços de commodities.

Para Afonso Lima, é por isso que os investidores têm sido
mais atraídos por algumas economias asiáticas, menos dependentes de
matérias-primas e ainda com robustas taxas de crescimento. Os países em
desenvolvimento da Europa e da Ásia Central atraíram US$ 49 bilhões em
investimentos produtivos para obras de infraestrutura no ano passado, quase o
dobro de 2014 (US$ 25 bilhões).

O estudo da Sobeet procurou analisar, além do destino dos
recursos por região, quais setores e modelos de projetos são mais procurados
por investidores. Em um cenário mais difícil, de condições externas mais
desafiadoras, o governo precisa analisar bem qual é o comportamento do
investidor estrangeiro para ver qual modelo e quais setores têm mais chance de
sucesso, afirma Afonso Lima.

Na próxima semana, o secretário de Programas de Parcerias de
Investimentos (PPI), Moreira Franco, deve apresentar ao mercado quais serão os
projetos concedidos à iniciativa privada em uma primeira etapa. Na China, o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que a carteira de projetos no
Brasil para os próximos quatro anos soma US$ 269 bilhões, mas disse que apenas
parte desse mapa de oportunidades será anunciado na reunião de
terça-feira.

Afonso Lima afirma que os dados do Banco Mundial indicam
tendência de concentração do investimento externo direto em alguns poucos
setores na área de infraestrutura. Em 2015, 84% dos aportes analisados ficaram
com rodovias, aeroportos e energia.

Os investimentos no Brasil têm uma composição um pouco
diferente, mas também pouco diversificada: 80,9% dos investimentos de capital
majoritariamente estrangeiro se destinaram a energia elétrica, rodovias e
telecomunicações. Áreas em que o país ainda é bastante carente e que devem ter
destaque na nova rodada de concessões, como aeroportos, ferrovias e portos,
ainda têm pequena participação como receptoras de recursos – menos de 15% do
total.

Outra característica do capital direcionado para
infraestrutura, segundo o presidente da Sobeet, é que os investidores tendem a
buscas novos projetos, em vez de ativos já existentes. No ano
passado, 79% dos recursos foram direcionados para os chamados projetos
greenfield, o que pode transparecer um interesse maior por
concessões do que privatizações, diz.

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